A Argentina adotou o controle biológico com vespas Tamarixia radiata para combater uma das pragas mais perigosas dos citros: o greening (HLB). A liberação de milhares de vespas marca uma mudança estratégica no uso de defensivos e destaca a eficácia das soluções naturais no campo.
Na província de Corrientes, nordeste da Argentina, uma iniciativa inovadora tem chamado atenção de produtores e cientistas. Em vez de recorrer a produtos químicos agressivos, o país está apostando em uma solução biológica de alta precisão: o uso de vespas parasitóides no combate a pragas devastadoras. A medida foi coordenada pelo Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA), com o apoio de órgãos estaduais, e resultou na liberação de mais de 4 mil vespas da espécie Tamarixia radiata — uma aliada poderosa contra o inseto vetor da doença conhecida como greening dos citros, ou HLB (Huanglongbing).
A informação foi publicada em veículos como Agrofy News e validada por documentos do Gobierno de Corrientes, além de contar com respaldo técnico da FAO em seus manuais sobre controle biológico.
O que é o greening e por que ele é tão perigoso?
O greening é uma das doenças mais destrutivas da citricultura mundial. Causado por uma bactéria transmitida pelo inseto psilídeo asiático dos citros (Diaphorina citri), o HLB compromete toda a fisiologia das plantas, levando à queda precoce dos frutos, deformações severas e, em muitos casos, à morte das árvores.
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Na Argentina, a ameaça cresceu nos últimos anos com a presença do vetor em áreas de produção intensiva. O risco para a economia agrícola é alto, especialmente para as regiões que dependem fortemente da produção de laranja, tangerina e limão.
Como funciona o controle biológico com vespas na Argentina?
O uso de vespas como método de controle biológico não é novo, mas sua aplicação tem ganhado escala e sofisticação. No caso do HLB, a vespa Tamarixia radiata é a principal inimiga natural do psilídeo.
Essa vespa é microscópica e inofensiva para humanos. Sua ação se dá por meio da parasitagem direta: ela deposita seus ovos sobre as ninfas do psilídeo. Após a eclosão, as larvas da vespa consomem o hospedeiro, interrompendo seu ciclo reprodutivo.
Além disso, a presença das vespas no ambiente inibe a proliferação do vetor, gerando um efeito ecológico prolongado, mesmo sem aplicação contínua.
Liberação controlada em Corrientes
Segundo o INTA Corrientes, a liberação das vespas foi realizada em pomares experimentais e áreas de produção comercial nas localidades de Bella Vista e Monte Caseros. A operação envolveu técnicos treinados, que acompanharam o processo desde a criação laboratorial até a soltura em campo.
Os primeiros resultados, segundo boletins locais, indicam uma redução significativa da densidade populacional do psilídeo nas áreas tratadas, com reflexo positivo na saúde das plantas.
Essa ação se integra a uma estratégia mais ampla de manejo integrado de pragas (MIP), que inclui o monitoramento com armadilhas, o uso de variedades resistentes e a rotação de cultivos.
Por que o controle biológico é uma alternativa promissora?
O controle biológico se destaca por diversas razões:
- Reduz a dependência de agrotóxicos
- Preserva organismos benéficos, como abelhas e joaninhas
- Não deixa resíduos químicos nos frutos
- É seguro para o aplicador e o consumidor final
- Tem efeito residual prolongado
Além disso, o uso de vespas ajuda a combater um dos maiores desafios da agricultura moderna: o desenvolvimento de resistência genética das pragas aos produtos químicos.
A experiência argentina no cenário latino-americano
A Argentina está entre os países latino-americanos que mais investem em pesquisa agropecuária. O uso estratégico de vespas contra pragas posiciona o país como referência regional em controle biológico, ao lado do Brasil e do México.
Para a FAO, essas iniciativas representam um avanço em termos de infraestrutura agrícola sustentável, alinhando produtividade e responsabilidade ambiental. O objetivo é garantir a segurança alimentar e a saúde ambiental, ao mesmo tempo em que se protege a rentabilidade do produtor rural.
A FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) apoia diretamente esse tipo de ação, fornecendo diretrizes técnicas, protocolos de segurança biológica e incentivo à capacitação de produtores.
Já o INTA coordena a criação laboratorial das vespas, monitoramento de eficácia e extensão técnica aos agricultores. As biofábricas públicas, como a de Corrientes, são fundamentais para escalar a produção de insetos benéficos com controle de qualidade.
Desafios e perspectivas
Apesar do sucesso inicial, o uso de vespas parasitóides requer:
- Monitoramento constante para avaliar sua eficácia
- Integração com outras práticas de manejo
- Apoio político e financeiro contínuo
- Sensibilização dos produtores sobre seu uso correto
Segundo especialistas do CONICET, há potencial para expandir o uso de vespas a outras culturas e regiões do país, inclusive com o uso de espécies diferentes para combater pragas como lagartas, percevejos e moscas-das-frutas.
A liberação de vespas parasitóides na Argentina, especialmente da espécie Tamarixia radiata, é um marco importante na luta contra pragas devastadoras como o greening dos citros. A iniciativa mostra que é possível unir tecnologia, natureza e agricultura moderna de forma inteligente e sustentável.
Mais do que combater um inseto, essas vespas representam uma mudança de paradigma: menos veneno, mais equilíbrio, com benefícios para o produtor, para o meio ambiente e para o consumidor.no e mais natureza.