Parte do estratégico PROSUB, a base de submarinos de Itaguaí (RJ) é uma das maiores obras de engenharia do país, projetada para construir e abrigar a nova geração de submarinos brasileiros, incluindo o futuro submarino nuclear
O Complexo Naval de Itaguaí, no Rio de Janeiro, é a peça central do Programa de Desenvolvimento de Submarinos (PROSUB) da Marinha do Brasil. Este empreendimento de engenharia de bilhões de reais foi concebido para ser a mais moderna base de submarinos da América Latina, capacitando o Brasil a projetar, construir e operar sua futura frota, incluindo o aguardado primeiro submarino de propulsão nuclear.
Entenda a magnitude desta obra, a nova geração de submarinos que ela abrigará, os desafios do programa e a importância estratégica de Itaguaí para o futuro do poder naval brasileiro.
Por que o Brasil está construindo uma nova e moderna base de submarinos?
A criação da base de submarinos de Itaguaí é um pilar do PROSUB, programa concebido na Estratégia Nacional de Defesa de 2008. Os objetivos são claros: modernizar a força naval, fortalecer a defesa nacional e, crucialmente, proteger a “Amazônia Azul”, a vasta zona marítima brasileira rica em recursos naturais e rotas comerciais.
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Para viabilizar o projeto, o Brasil firmou uma parceria estratégica com a França, que envolveu transferência de tecnologia do Naval Group para a construção dos submarinos convencionais e do complexo naval. No entanto, a tecnologia de propulsão nuclear é um desenvolvimento inteiramente nacional, refletindo a busca do Brasil por soberania e autonomia tecnológica.
Por dentro do Complexo Naval de Itaguaí (CNI)
O Complexo Naval de Itaguaí (CNI) é uma obra de engenharia de grande escala, dividida em áreas funcionais para otimizar o fluxo de trabalho e a segurança. A principal área produtiva, com 487 mil m², abriga estaleiros de construção e manutenção e a base naval.
As instalações contam com características notáveis:
Elevador de Navios (Shiplift): Uma plataforma de 110 metros de comprimento com capacidade para elevar até 8 mil toneladas, usada para lançar e recolher os submarinos.
Túnel de Interligação: Com 703 metros de comprimento, conecta as áreas norte e sul da base, permitindo o transporte seguro de seções dos submarinos.
Instalações Nucleares: O CNI inclui um Complexo de Manutenção Especializada para a troca de combustível nuclear e um Complexo Radiológico isolado, infraestruturas essenciais para a operação do submarino nuclear.
Os novos guardiões dos mares, a frota do PROSUB
A nova base de submarinos abrigará duas classes de embarcações:
Classe Riachuelo (S-BR): São quatro submarinos de propulsão diesel-elétrica baseados no projeto francês Scorpène, mas adaptados para as necessidades brasileiras, sendo maiores e com maior autonomia. O Riachuelo (S-40) e o Humaitá (S-41) já foram comissionados. O Tonelero (S-42) foi lançado em 2025 e está em testes, e o Almirante Karam (S-43) tem lançamento previsto para 2025.
SN Álvaro Alberto (SN-10): É o projeto mais ambicioso: o primeiro submarino de propulsão nuclear do Brasil. Com cerca de 100 metros e 6.000 toneladas, terá autonomia virtualmente ilimitada e maior poder de fogo. Sua construção foi iniciada oficialmente em outubro de 2023, mas o cronograma de entrega, previsto para 2033, enfrenta incertezas devido a restrições orçamentárias.
O panorama financeiro do PROSUB
O PROSUB é um dos maiores investimentos em defesa da história do Brasil, com custos que chegam a dezenas de bilhões de reais. A fase do submarino nuclear (SNCA), por exemplo, tem um custo estimado em US$7,4 bilhões.
O programa enfrenta significativas restrições orçamentárias. O financiamento anual atual, de cerca de R$2 bilhões, é considerado insuficiente pela Marinha para manter o cronograma original do SNCA. Sem um aporte adicional de pelo menos R$1 bilhão por ano, a entrega do submarino nuclear pode ser adiada para cerca de 2040. Apesar disso, o PROSUB gera um impacto econômico positivo, com a criação de cerca de 22 mil empregos diretos e 40 mil indiretos, e o fomento à Base Industrial de Defesa do país.
O papel da base de submarinos de Itaguaí para o poder naval do Brasil
O futuro do PROSUB e da base de submarinos de Itaguaí depende da superação dos desafios financeiros e da navegação por complexas questões de licenciamento nuclear e acordos internacionais de salvaguardas com a AIEA.
A concretização do programa, com a operacionalização do SN Álvaro Alberto, terá um impacto transformador na capacidade do Brasil de garantir sua segurança marítima e projetar influência no Atlântico Sul. A base de submarinos de Itaguaí não é apenas uma obra de engenharia, mas um pilar da soberania nacional, um polo de desenvolvimento tecnológico e o coração da futura força naval brasileira.