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A cidade escavada no deserto: Por que os árabes realizaram essa surpreendente construção?

Escrito por Carla Teles
Publicado em 30/05/2025 às 20:38
A cidade escavada no deserto: Por que os árabes realizaram essa surpreendente construção?
Sabah Al Ahmad: a surpreendente construção que levou o mar ao deserto do Kuwait. Veja como a engenharia criou praias particulares e respondeu à falta de costa.

No coração do Kuwait, uma obra monumental de construção transformou o deserto: Sabah Al Ahmad Sea City não é apenas luxo, mas uma resposta engenhosa a desafios geográficos, ambientais e históricos.

Em meio ao deserto de um dos países mais quentes do planeta, os árabes decidiram erguer uma cidade peculiar. Quase todo morador de Sabah Al Ahmad, no Kuwait, tem o à própria praia particular. Não, não é Dubai, tampouco são ilhas artificiais. Trata-se de um projeto de construção tão ambicioso quanto excêntrico, escavado no próprio deserto. Canais conectados ao mar, praias artificiais e um sistema hidrodinâmico com uso limitado de bombas de apoio definem essa cidade. Pode parecer um exagero, mas há uma explicação. Envolve petróleo, guerra, soluções ambientais e engenharia de ponta. Esta é a história de por que o Kuwait decidiu trazer o mar para dentro do deserto.

O sonho kuwaitiano por mais costa: Um desafio no deserto

Nos anos 1980, o Kuwait era um dos países mais ricos do mundo per capita. O petróleo impulsionava um crescimento populacional e urbanização acelerados. Com isso, a demanda por moradias de alto padrão explodiu. O desejo por casas à beira-mar crescia junto à renda da população.

Contudo, havia um limite físico crucial. O espaço costeiro era escasso, medindo apenas 160 km de norte a sul. Grande parte já estava ocupada por portos, áreas industriais, zonas militares e bairros densos. A única solução parecia ser crescer para o interior. Porém, essa opção esbarrava no próprio deserto. A construção no deserto árabe é extremamente desafiadora. Temperaturas acima de 50°C, ventos com areia fina, umidade quase nula e solo instável são comuns. A ausência de sombra natural e recursos básicos como água e vegetação tornava a expansão urbana pouco atrativa.

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A solução ousada de levar o mar ao deserto

Foi então que uma ideia ousada surgiu. Ao invés de disputar os poucos metros do litoral restante, por que não multiplicar a linha costeira? O plano era levar o mar até as pessoas. Isso seria feito esculpindo uma malha de canais navegáveis dentro do deserto. Cada canal abriria espaço para novas margens. Milhares de lotes teriam contato direto com a água. A lógica era simples: se não há mais costa, constrói-se mais costa. Essa ideia moldou o nascimento da cidade marítima de Sabah Al Ahmad.

O conceito da cidade é engenhoso e radical. O Kuwait decidiu criar sua própria linha costeira artificial. É importante notar que o projeto foi construído sobre uma região costeira pantanosa e de maré já existente, Alkhiran. Essa área no sul do país, próxima à fronteira com a Arábia Saudita, era ideal. Possuía dois canais de maré naturais e topografia relativamente plana, facilitando a escavação e a circulação da água. O objetivo da construção era transformar esse terreno seco em um mosaico de canais sinuosos e lagos artificiais.

Como a cidade marítima foi construída para funcionar com a natureza

Transformar deserto em cidade navegável exigiu precisão cirúrgica. O maior obstáculo era a água. Como garantir que canais artificiais não se tornassem poças salgadas e estagnadas? Para evitar estações de bombeamento caras e ineficientes, os engenheiros simularam a natureza. Um modelo hidrodinâmico computadorizado previu o comportamento da água.

Com base nos resultados, o sistema de construção foi ajustado. Portas de maré massivas abrem e fecham sozinhas, usando apenas a pressão da água. Canais de alívio foram adicionados onde o fluxo era forte demais, evitando erosão. Aberturas no quebra-mar permitem a renovação constante da água e a entrada de fauna marinha. As comportas funcionam como válvulas naturais, sem partes eletrônicas, num sistema 100% ivo. Para evitar a deformação dos canais, os traçados distribuem a pressão hidráulica uniformemente. A vegetação tolerante à salinidade também faz parte da engenharia, fixando o solo e contribuindo para o microclima. Sabah Al Ahmad foi planejada para funcionar com o ambiente.

Abordagens distintas na construção de cidades costeiras

Enquanto o Kuwait escolheu trabalhar com a natureza, Dubai seguiu um caminho diferente. O Kuwait escavou o deserto para puxar o mar para dentro. Dubai levou areia para o mar, criando terra onde não existia. Projetos como Palm Jumeirah e The World transformaram o litoral dos Emirados, mas a um preço técnico e ambiental elevado.

As ilhas de Dubai foram resultado de dragagem massiva de areia. O espetáculo visual, porém, enfrentou contradições. As barreiras que protegem as ilhas impedem o fluxo natural da água. Isso gera desafios como estagnação e erosão. Em contraste, a construção da cidade marítima do Kuwait foi moldada pelo comportamento real da naturez Informações do portal “Construction Time” indicam que seus canais respeitam as curvas das marés, com entradas amplas que facilitam a renovação da água. Enquanto Dubai construiu um símbolo, o Kuwait construiu um sistema alinhado à lógica ambiental.

Mais que luxo, uma resposta a traumas e necessidades

A cidade marítima de Sabah Al Ahmad reflete as escolhas do Kuwait após um período de trauma. Após a Guerra do Golfo, o país viu seus poços de petróleo arderem. Reconstruir com consciência ambiental tornou-se uma necessidade. O projeto propõe um novo tipo de cidade árabe, combinando luxo e engenharia ecológica.

Contudo, a cidade tem limitações. É predominantemente residencial e dependente de carros. Possui poucos espaços públicos e baixa densidade urbana real. É uma resposta ao deserto por qualidade de vida, mas não necessariamente uma vida urbana vibrante. Mesmo assim, transformar deserto em uma cidade navegável, limpa e autorregulada é um feito notável. Engenharia, geopolítica e natureza se unem neste território. No fim, Sabah Al Ahmad mostra que o progresso no Golfo Pérsico pode ser uma adaptação cuidadosa à natureza, não um confronto. Talvez essa seja a verdadeira lição desta cidade.

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Carla Teles

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