O EastMed, projetado para conectar as reservas de Israel e Chipre à Europa, enfrenta um futuro incerto devido a desafios geopolíticos, econômicos e ambientais que colocam sua viabilidade em xeque
O gasoduto EastMed foi concebido como um projeto transformador, uma artéria energética para transportar gás natural do Mediterrâneo Oriental para a Europa, reduzindo a dependência do gás russo. No entanto, o que antes era visto como um divisor de águas geopolítico, em 2025 se encontra paralisado, imerso em complexas disputas e avaliações pessimistas.
Entenda a saga do gasoduto EastMed, detalhando o projeto, os desafios que o frearam e as alternativas que agora moldam o futuro energético da região.
O que é o gasoduto EastMed e qual sua ambição geoestratégica?
O gasoduto EastMed foi projetado para ser uma das mais longas e profundas condutas submarinas do mundo. Com 1.900 km de extensão, sua rota partiria dos campos de gás de Israel e Chipre, atravessaria o Mediterrâneo até a Grécia e, potencialmente, se conectaria à Itália. A capacidade inicial planejada era de 10 bilhões de metros cúbicos por ano (bcm/a), expansível para 20 bcm/a.
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O principal objetivo geoestratégico era fornecer à Europa uma nova rota de gás não russo, reforçando a segurança energética do continente. O projeto, liderado pelo consórcio IGI Poseidon (uma t venture entre a grega DEPA e a italiana Edison), chegou a obter o status de Projeto de Interesse Comum (PIC) da União Europeia. O custo inicial era estimado em cerca de €6 bilhões, e a operação deveria começar em 2025.
Os desafios que paralisaram o EastMed
A concretização do gasoduto EastMed esbarrou em obstáculos formidáveis. O mais crítico é a oposição veemente da Turquia, que, por não ser parte do projeto e ter suas próprias reivindicações marítimas na região (a doutrina “Mavi Vatan” ou Pátria Azul), vê a rota proposta como uma ameaça aos seus interesses e soberania. Ancara demonstrou disposição para usar sua força naval para impedir o avanço do projeto em águas que considera suas.
A situação se complicou em janeiro de 2022, quando os Estados Unidos retiraram seu apoio político ao projeto, citando sua inviabilidade econômica, preocupações ambientais e o fato de ser uma fonte de tensão regional. O CEO da gigante energética italiana ENI, Claudio Descalzi, chegou a afirmar que qualquer acordo para o gasoduto precisaria incluir a Turquia, sublinhando a impossibilidade de contornar Ancara.
Além disso, a viabilidade econômica do projeto foi questionada. O custo, que poderia ultraar €10 bilhões, e um longo período de retorno do investimento colidem com as metas da UE de reduzir o consumo de gás e avançar na descarbonização.
Rotas alternativas ao gasoduto EastMed
Diante do ime do gasoduto EastMed, alternativas mais flexíveis e economicamente viáveis ganharam força.
Gás Natural Liquefeito (GNL): O desenvolvimento de uma planta de GNL Flutuante (FLNG) em Chipre é visto como uma opção mais realista. O GNL oferece maior flexibilidade de mercado, pois pode ser vendido para diversos compradores globais, não apenas para a Europa.
Gasodutos mais curtos: A construção de um gasoduto ligando os campos de gás cipriotas aos terminais de GNL já existentes no Egito é outra alternativa em estudo. Isso alavancaria a infraestrutura egípcia para exportação.
Conexão com a Turquia: Um gasoduto direto para a Turquia é, há muito tempo, considerado a opção economicamente mais vantajosa. No entanto, isso exigiria uma complexa resolução política das disputas entre Turquia e Chipre.
O futuro incerto do gasoduto, cenários e implicações para 2025-2030
No início de 2025, o futuro do gasoduto EastMed, como originalmente concebido, parece altamente improvável. O cenário mais provável é seu cancelamento ou adiamento indefinido. O foco regional tende a se deslocar para soluções de exportação de gás mais modulares e realistas, como o GNL.
O fracasso do gasoduto EastMed em se materializar é um estudo de caso sobre como grandes ambições energéticas podem se tornar reféns de rivalidades geopolíticas. A lição para a Europa e para os países do Mediterrâneo Oriental é a necessidade de buscar uma cooperação energética mais pragmática e inclusiva para garantir a estabilidade e o desenvolvimento sustentável da região.