1. Início
  2. / Economia
  3. / A crise da mão de obra na indústria paulista: por que a FIESP e o SENAI-SP revelam que 77% das empresas sofrem para contratar?
Localização SP Tempo de leitura 8 min de leitura Comentários 0 comentários

A crise da mão de obra na indústria paulista: por que a FIESP e o SENAI-SP revelam que 77% das empresas sofrem para contratar?

Escrito por Paulo Nogueira
Publicado em 29/05/2025 às 08:54
Trabalhadores e maquinário em uma fábrica industrial brasileira, com espaços vazios indicando escassez de mão de obra e a necessidade de qualificação.
Pesquisas da FIESP e SENAI-SP revelam o desafio da contratação na indústria paulista.

Descubra como a indústria paulista enfrenta a escassez de trabalhadores e o que a FIESP e o SENAI-SP propõem para reverter esse cenário desafiador.

A indústria brasileira, e em especial a paulista, tem enfrentado um dilema crescente: a escassez de mão de obra qualificada. Afinal, por que faltam trabalhadores para um setor tão vital para a economia? Para entender esse fenômeno e buscar soluções, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI-SP)1 lançaram pesquisas abrangentes sobre o mercado de trabalho em São Paulo. O objetivo é compreender os motivos da escassez do ponto de vista tanto do trabalhador quanto do empresário, além de identificar caminhos para reverter esse quadro complexo.

O presidente da FIESP, Josué Gomes da Silva, ressaltou a relevância dos dados durante o evento “A Força que Move a Indústria”, realizado em 27 de maio, e transmitido pelo canal da FIESP no YouTube. Ele também chamou a atenção para o ambiente inóspito que o setor produtivo enfrenta. Josué criticou o aumento de impostos e as altas taxas de juros, que, segundo ele, prejudicam toda a economia. Defendeu, ainda, o aumento da produtividade como a principal saída para mitigar a escassez de mão de obra. “Produtividade se faz com educação de qualidade e com mais investimento em bens de capital”, declarou Josué.

O novo perfil do trabalhador e o desafio da indústria paulista

As pesquisas, quantitativa e qualitativa, foram encomendadas pela FIESP e pelo SENAI-SP ao Instituto Locomotiva. Elas buscam entender como os trabalhadores paulistas pensam, o que desejam e quais barreiras os afastam da indústria. Por que o modelo de trabalho tradicional, com carteira assinada, deixou de ser atraente para esse público?

Dia
ATÉ 90% OFF
📱 Capinhas com até 20% OFF na Shopee – use o cupom D4T3PFT até 11/06!
Ícone de Episódios Comprar

Um dos levantamentos da FIESP junto à sua base industrial revelou que 77,1% das empresas têm enfrentado dificuldades para contratar mão de obra. A pesquisa visou identificar o principal entrave para a contratação, se o porte da empresa influencia essa decisão, em qual faixa etária existe maior dificuldade de contratação e as áreas com maior necessidade de mão de obra.

Empreendedorismo x trabalho formal: uma mudança de paradigma

O primeiro do evento destacou o novo perfil do trabalhador. Diante de um mercado de trabalho aquecido, com uma taxa de desemprego de apenas 6,2% no estado de São Paulo e o maior nível de ocupação desde 2012, atrair mão de obra qualificada tornou-se um desafio significativo para a indústria.

Hoje, o setor industrial é a escolha de apenas 11% dos trabalhadores, em comparação com 24% na geração anterior, conforme a pesquisa da FIESP e do SENAI-SP. Nesse período, o trabalho por conta própria emergiu como a aspiração da maioria, sendo o desejo de 58% dos entrevistados, contra 45% da geração de seus pais. Os dados compilados pelo Instituto Locomotiva demonstram o crescente apelo do empreendedorismo.

O Locomotiva entrevistou 1.503 homens e mulheres entre 18 e 29 anos inseridos na força de trabalho em abril. Além disso, a pesquisa qualitativa ouviu 24 ex-alunos do SENAI-SP, divididos entre aqueles que permanecem na indústria, os que migraram para outras áreas formais e os que agora trabalham por conta própria.

Satisfação no trabalho e a percepção do jovem sobre a indústria

Apenas 27% dos trabalhadores paulistas estão plenamente satisfeitos com o trabalho em geral. Este é o mesmo percentual de satisfação entre os industriários, que, por sua vez, é o mais alto no setor privado. Seguem-se 23% na construção civil, 21% nos serviços e 11% no comércio. Entre os trabalhadores por conta própria, o percentual de satisfação atinge 41%, e entre os servidores públicos, 47%.

O levantamento indica que o trabalho formal tem perdido força como promessa de estabilidade e crescimento. Enquanto isso, cresce o interesse, sobretudo dos mais jovens, por alternativas que ofereçam mais autonomia, flexibilidade e possibilidade de renda. Segundo a pesquisa, 67% concordam com a frase “acredito que o trabalho com carteira assinada deixou de garantir estabilidade e segurança para o futuro”. Além disso, 64% dos entrevistados concordam com a afirmativa “o trabalho formal oferece pouca flexibilidade para conciliar vida pessoal e profissional”.

Flexibilidade e renda: o que impulsiona as novas gerações longe da indústria?

Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva, destacou em sua apresentação que o levantamento é um convite para olhar o mundo do trabalho pela perspectiva das pessoas. Ele ressaltou que a falta de mão de obra não se restringe à indústria, mas está presente em diversos setores da economia, como varejo, serviços e tecnologia, evidenciando um desafio geral.

A possibilidade de ter mais flexibilidade e gerar renda mais rapidamente são os motivos que levam a nova geração a preferir empreender em detrimento do trabalho na indústria. A indústria é percebida pelos jovens como um ambiente mais engessado e com remuneração não tão atraente. Novas ocupações, como motoristas e entregadores de aplicativo, são valorizadas pelos jovens, que rejeitam o modelo da CLT. Essa visão é reforçada por influenciadores digitais, que mostram apenas as vantagens das novas formas de trabalho e associam o modelo tradicional a maior dificuldade de ascensão social e menor qualidade de vida.

Trabalho deixou de ser sinônimo de emprego. Aquela segurança que o trabalho formal, com carteira assinada traz, também traz uma amarra que faz com que o trabalhador se sinta preso, com pouca flexibilidade para conciliar vida pessoal e profissional”, analisou Meirelles. Embora a pesquisa mostre a elevada satisfação de quem trabalha por conta própria (41%), ela também revela alta insatisfação entre os autônomos, com 27% dos entrevistados insatisfeitos. Na indústria, os insatisfeitos representam apenas 6%. Uma das conclusões da pesquisa é que, apesar dos muitos pontos positivos da indústria, como segurança e oportunidades de crescimento, o setor precisa buscar estratégias para mudar a percepção dos jovens sobre as carreiras industriais.

O olhar do empresário: dificuldades de contratação na indústria paulista

Do ponto de vista dos empresários, a Pesquisa Rumos da Indústria Paulista: Mercado de Trabalho, conduzida pelo departamento de Economia da FIESP, indica que 77,1% dos 87,3% dos industriais paulistas que buscaram contratar novos funcionários entre o início de 2024 e março de 2025 enfrentaram dificuldades no processo.

O professor Rodrigo Soares, titular de Economia na Cátedra Fundação Lemann do Insper, avaliou que programas sociais e o envelhecimento da população não são as principais causas da escassez de mão de obra. “O desemprego baixo e os salários mais altos compõem esse quadro no auge do ciclo econômico, que é a dificuldade na contratação”, disse Soares. Ele acrescenta que existem outros fatores estruturais, como o educacional. “A força de trabalho melhorou nos últimos 30 anos e o trabalho qualificado se torna escasso.” A principal faixa etária com dificuldade de contratação para as indústrias é a de 21 a 30 anos (61%), seguida pela de 31 a 40 anos (23,8%).

A pesquisa ouviu 369 indústrias de transformação do estado de São Paulo, de 12 segmentos e de todos os tamanhos, mapeando as dificuldades na contratação, os perfis de trabalhadores mais buscados e as áreas mais demandadas.

O fenômeno global da escassez de mão de obra e o papel do SENAI-SP

A falta de mão de obra é um fenômeno global que atinge tanto países emergentes quanto desenvolvidos. Werner Eichhorst, coordenador de políticas sociais e do mercado de trabalho do Institute of Labor Economics (IZA), afirmou que “Existe o estreitamento entre oferta e demanda, que a por fatores estruturais como a capacidade da força de trabalho e pela mudança das demandas”.

Criar oportunidades para que mais mulheres, imigrantes, jovens e idosos ingressem no mercado de trabalho pode diminuir o déficit entre as vagas disponíveis e os trabalhadores. “Precisamos correlacionar melhor as capacidades e necessidades presentes. A educação é importantíssima para que os trabalhadores se adaptem às mudanças tecnológicas, porque existem áreas em que ainda há muitas oportunidades”, completou Eichhorst. Ele destacou, em particular, a importância da educação profissional e citou o SENAI-SP como um exemplo de instituição que cumpre bem esse papel na formação industrial.

Demografia e produtividade: os próximos desafios para a indústria

Segundo Ricardo Terra, diretor regional do SENAI-SP, a menor disponibilidade de pessoas no mercado de trabalho deve-se a questões demográficas e à mudança do perfil do trabalhador. “A participação de pessoas na força de trabalho ainda não retornou ao nível pré-pandemia, e no estado de São Paulo o saldo migratório dos últimos anos é negativo em quase 170 mil pessoas”, afirmou Terra. Anteriormente, São Paulo atraía trabalhadores de diversas regiões do Brasil, fato que não ocorre mais.

Marcello Souza, gerente de relações com o mercado do SENAI-SP, alertou para a quantidade de microempreendedores individuais (MEIs), que somam mais de 4,4 milhões de trabalhadores formais, em contraste com os 3,4 milhões na indústria paulista. Além disso, Terra enfatizou a inversão da pirâmide demográfica, o que “fará com que tenhamos ainda menos pessoas disponíveis no mercado de trabalho em 2050”.

Nesse contexto, a saída para a indústria é aumentar os ganhos de produtividade. Ele citou o exemplo de uma empresa atendida pela jornada de transformação digital, programa liderado por FIESP e SENAI-SP, que manteve a mesma produção com um quadro de funcionários 20% menor após aderir à jornada.

O ambiente jurídico e a litigiosidade no setor industrial

O evento também incluiu um sobre os aspectos jurídicos das relações de trabalho, mediado por Flavio Unes, diretor titular do Departamento Jurídico (Dejur) da FIESP, com foco na Justiça do Trabalho. Luciano Timm, sócio fundador da CMT Carvalho, Machado e Timm Advogados, defendeu uma Justiça do Trabalho menos paternalista, alegando que a insegurança jurídica na área trabalhista é um dos principais empecilhos para novos investimentos. “A Justiça do Trabalho ainda acredita no conflito capital/trabalho. Ela não pondera sobre os efeitos econômicos das suas decisões”, disse Timm.

Luciana Yeung, professora de direito e economia no Insper, destacou que o Brasil é conhecido pela alta litigiosidade, sendo um dos países com maior número de processos per capita no mundo. “O mundo está evoluindo muito rápido, mas isso não está acontecendo no Judiciário. A Justiça do Trabalho não fomenta cooperação, e sim o conflito. Ela pratica a litigância predatória”, criticou Yeung.

As informações desta notícia foram divulgadas no site da FIESP em 27 de maio de 2025.

Inscreva-se
Entre com
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais antigos
Mais recente Mais votado
s
Visualizar todos comentários
Paulo Nogueira

Eletrotécnica formado em umas das instituições de ensino técnico do país, o Instituto Federal Fluminense - IFF ( Antigo CEFET), atuei diversos anos na áreas de petróleo e gás offshore, energia e construção. Hoje com mais de 8 mil publicações em revistas e blogs online sobre o setor de energia, o foco é prover informações em tempo real do mercado de empregabilidade do Brasil, macro e micro economia e empreendedorismo. Para dúvidas, sugestões e correções, entre em contato no e-mail informe@clickpetroleoegclickpetroleoegas-br.diariodoriogrande.com.br. Vale lembrar que não aceitamos currículos neste contato.

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x