A ofensiva logística da Ucrânia ganhou novo impulso com a entrega de 25 picapes Volkswagen Amarok neste primeiro semestre financiadas pela União Europeia à Polícia Nacional. Os veículos, já encaminhados às províncias de Donetsk, Kharkiv e Zaporíjia, reforçam missões de evacuação, patrulha e remoção de minas em áreas sob fogo constante.
A remessa soma-se ao lote de 14 Amaroks doado pelo governo alemão em setembro último ano com outras 16 unidades a caminho, que equipam grupos móveis de defesa antiaérea da Guarda Nacional. Blindadas em oficinas de campanha, essas viaturas agem como plataformas de metralhadoras calibre .50 e lançadores de mísseis portáteis, responsáveis por dezenas de drones Shahed abatidos desde janeiro.
Fora das rotas oficiais, o coletivo civil Cars4Ukraine mantém, desde junho de 2022, um fluxo paralelo: já transformou mais de 60 picapes usadas Ford, Toyota e Mitsubishi em “battle-trucks” capazes de transportar armas antitanque. Juntas, as iniciativas revelam como as modestas 4×4 tornaram-se peça central da mobilidade tática ucraniana, garantindo velocidade, flexibilidade e baixo custo numa guerra de desgaste.
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“25 Amaroks para a linha de tiro”: a nova leva da União Europeia para a Polícia Nacional
Em 25 de fevereiro de 2025, a delegação da União Europeia entregou vinte e cinco Volkswagen Amarok zero-quilômetro à Polícia Nacional da Ucrânia . O lote partiu diretamente para Donetsk, Kharkiv e Zaporíjia, onde os patrulheiros agora precisam de veículos capazes de cruzar crateras e terrenos enlameados sem perder velocidade. Equipadas de fábrica com tração integral 4Motion e motores V6 TDI de 258 hp, as picapes mantêm 80 km/h em estradas de terra e preservam autonomia superior a 800 km graças ao tanque de 80 litros.
A polícia planeja instalar módulos de maca removíveis e es para drones de observação, transformando cada Amarok em ambulância improvisada ou posto de comando móvel. O vice-chefe Hennadii Fedoriuk explica que, desde o início da invasão, as patrulhas assumiram funções típicas de unidades de linha: “evacuamos civis, levamos remédios, fazemos varredura de minas – tudo isso exige tração, espaço e confiabilidade”.
Para reduzir o tempo fora de serviço, a UE incluiu kits de peças e filtros para dois anos, além de treinamento oficial no centro de manutenção de Lviv. Cada veículo recebeu rádios criptografados Motorola e pré-fiação para terminais Starlink, garantindo comunicação estável mesmo quando torres celulares forem derrubadas.
Os primeiros relatos em campo são positivos: na região de Kupiansk, um dos Amarok transportou quinze civis em três viagens sob fogo de artilharia sem apresentar falhas mecânicas. A expectativa é que a frota permaneça operacional durante todo o inverno, quando o barro profundo costuma paralisar viaturas mais leves.
Blindagem alemã: como mais 30 pickups reforçam a defesa antiaérea da Guarda Nacional
Meses antes, em 22 de setembro de 2024, o portal Militarnyi noticiou a chegada de quatorze Amarok financiadas pelo Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, acompanhadas da promessa de outras dezesseis . Diferentemente das viaturas policiais, essas picapes foram imediatamente encaminhadas ao 3.º Regimento Antiaéreo da Guarda Nacional, responsável por proteger usinas de energia e depósitos ferroviários.
Em oficinas de campo, mecânicos instalaram blindagem de aço B6 nas portas e nos para-lamas. Na caçamba, um pedestal rotativo recebe metralhadoras Browning M2 ou lançadores de mísseis FN-6. O conjunto acrescenta apenas 480 kg ao peso total, preservando mobilidade em estradas de terra. Segundo o tenente-general Volodymyr Hordiychuk, as patrulhas móveis derrubaram mais de cem drones Shahed entre janeiro e março de 2025.
A escolha da Amarok deve-se ao chassi reforçado, que a o recuo das armas sem trincas estruturais. Além disso, o motor V6 mantém torque elevado mesmo quando o alternador alimenta radares portáteis IRIS-T. Durante testes em Mykolaiv, o conjunto detectou e engajou um drone a 1,8 quilômetro, disparando dezesseis projéteis .50 BMG que o destruíram no ar.
Berlim financia também pacotes de manutenção preventiva: filtros, pneus e óleos suficientes para dois anos. A meta é que cada picape permaneça nos grupos móveis 20 horas por dia, revezando-se apenas para reabastecimento e descanso das guarnições.
Por dentro da Volkswagen Amarok, motor, tração e por que ela aguenta o front
A Amarok 2025 comercializada no Brasil, similar à versão enviada à Ucrânia, pesa 2 313 kg, mede 5,35 m de comprimento e traz motor V6 3.0 TDI de 258 cv e 59,1 kgfm . A arquitetura de longarinas reforçadas permite carga útil de 1 028 kg, enquanto a suspensão por braços duplos na dianteira e feixes semielípticos na traseira absorve choques de até 3 g, comuns em explosões próximas.
Seu sistema 4Motion permanente distribui torque entre os eixos via diferencial Torsen, garantindo tração mesmo quando uma roda perde contato com o solo. No front, isso significa atravessar valas de arado ou correr sobre destroços sem atolamento. A caixa automática ZF de oito marchas mantém rotações baixas – crucial para economizar combustível em longas patrulhas.
Outro diferencial é o disco ventilado de 365 mm nas quatro rodas, capaz de dissipar calor suficiente para frenagens repetidas em descidas íngremes carregando blindagem adicional. A eletrônica embarcada inclui controle de estabilidade com modo off-road, útil para impedir capotagens ao desviar de crateras em alta velocidade.
A cabine a instalação de rádios táticos, GPS militar e telas de observação sem invadir espaço do motorista. Dois pontos de ancoragem no teto permitem fixar gaiolas anti-IED feitas de aço tubular, solução já usada pela Polícia Nacional para desviar estilhaços. Em resumo, a Amarok entrega a robustez de um caminhão leve com a agilidade de uma SUV, combinação rara e cobiçada em qualquer zona de combate.
Cars4Ukraine: o mutirão que converte Fords e Toyotas civis em battle-trucks armados
Em 12 de junho de 2022, a Business Insider descreveu como o projeto Cars4Ukraine transformou picapes civis em plataformas de ataque para batalhões de manobra rápida . Ivan Oleksii e trinta voluntários compram veículos 4×4 usados por cerca de € 5 500 cada, preferindo Toyota Hilux, Ford Ranger e Mitsubishi L200, nos leilões de Berlim a Varsóvia.
Chegando a Lviv, cada carro recebe chapas de aço adicionais nas portas, berço blindado para o cárter e e traseiro para metralhadoras ou lançadores de Javelin. O reforço adiciona 600 kg, mas mantém velocidade máxima acima de 120 km/h. Em média, a conversão custa € 9 000 e dura nove dias, financiada 100 % por crowdfunding.
Até julho de 2022, sessenta veículos já estavam no front, e quinze aguardavam acabamento. Relatórios de brigadas mecanizadas mostram que cinco picapes resistiram a explosões de artilharia e conseguiram retornar à base por meios próprios. Todas saem da oficina com a frase “Russian warship, go f*** yourself” pintada na carroceria e, segundo Oleksii, servem como “míssil antitanque sobre rodas”.
O projeto expandiu-se com o site War-Stop, onde doadores podem comprar diretamente coletes, rádios ou kits médicos para as mesmas unidades que recebem as picapes. Oleksii, impedido de alistar-se por motivos médicos, diz que cada veículo entregue é “um o para reconquistar Kherson, onde meus pais ainda vivem sob ocupação”.
Logística leve, impacto pesado: por que pickups 4×4 viraram o coringa tático da guerra
De doações governamentais a oficinas de voluntários, as picapes 4×4 provaram ser o elo de mobilidade que faltava entre tanques pesados e infantaria a pé. Leves o bastante para cruzar pontes improvisadas, mas fortes para transportar metralhadoras calibre .50, esses veículos atuam como ambulância, plataforma antiaérea e transporte de munição na mesma missão.
O custo é decisivo: uma Amarok zero-quilômetro doada pela UE custa cerca de US$ 45 000, enquanto a blindagem artesanal adiciona outros US$ 10 000. Mesmo assim, o preço total não chega a 5 % de um MRAP padrão da OTAN. Além disso, o tempo de entrega é medido em semanas, e não em anos de licitação.
No terreno plano do sul da Ucrânia, a velocidade dos pickups permite “shoot-and-scoot” contra alvos de oportunidade. Unidades de defesa aérea móvel relatam que podem reposicionar-se em menos de cinco minutos, frustrando a artilharia russa guiada por drones. Quando surgem buracos na logística, a caçamba carrega paletes de munição de 120 mm ou geradores de 40 kVA, funções impossíveis a um Humvee blindado.
Por fim, a simplicidade mecânica é ouro em zonas sem oficinas especializadas. Motores diesel comuns a frotistas europeus aceitam peças de reposição encontradas em concessionárias civis. Essa “democratização” do e técnico mantém a frota rodando mesmo sob embargo de peças militares. Em suma, as pickups se tornaram o coringa tático da guerra moderna: baratas, versáteis e sempre prontas para a próxima missão.