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A mega barragem para rebaixar o Mediterrâneo e unir Europa e África, criando novas terras com área do tamanho da França

Escrito por Bruno Teles
Publicado em 03/06/2025 às 09:05
Atlantropa: o plano de Sörgel para uma barragem maciça em Gibraltar, unindo Europa e África e baixando o Mediterrâneo.
Atlantropa: o plano de Sörgel para uma barragem maciça em Gibraltar, unindo Europa e África e baixando o Mediterrâneo.

Conheça Atlantropa, o projeto de Herman Sörgel dos anos 1920 para construir uma mega barragem em Gibraltar, baixar o Mediterrâneo e criar um novo supercontinente.

Atlantropa, concebido pelo arquiteto alemão Herman Sörgel na década de 1920, permanece como um dos megaprojetos mais ambiciosos do século XX. A visão era construir uma mega barragem através do Estreito de Gibraltar, baixando o nível do Mar Mediterrâneo em até 200 metros. Este empreendimento monumental visava recuperar vastas áreas de terra, gerar energia hidroelétrica e unir Europa e África.

Analisando o plano técnico, as ambições geopolíticas, os impactos socioeconômicos previstos e as razões pelas quais este sonho de geoengenharia nunca se concretizou, deixando um legado de advertência e fascínio.

Uma mega barragem para um novo mundo sonhado por Herman Sörgel

Herman Sörgel (1885-1952), arquiteto alemão, foi o idealizador de Atlantropa. Inspirado por obras que descreviam o Mediterrâneo como um “vale perdido” e um “mar de evaporação”, Sörgel propôs sua mega barragem em Gibraltar. Suas motivações, no conturbado período entre guerras, incluíam pacificar a Europa com um objetivo comum, resolver a crise energética e criar “espaço vital” (Lebensraum) através da colonização de novas terras.

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Os objetivos primários eram claros: geração massiva de energia hidroelétrica, recuperação de cerca de 600.000 km² de terra no Mediterrâneo e a criação do supercontinente “Euráfrica”. Sörgel acreditava até em melhorias climáticas, como a irrigação do Saara.

O plano técnico da mega barragem de Gibraltar e suas consequências projetadas

A mega barragem para rebaixar o Mediterrâneo e unir Europa e África, criando novas terras com área do tamanho da França

O plano técnico de Atlantropa era colossal. A peça central seria a mega barragem no Estreito de Gibraltar, com estimativas de 13-14 km de comprimento e até 1000 metros de altura em certos pontos. Sua construção levaria 10 anos, empregando 200.000 trabalhadores. Outras barragens importantes seriam construídas entre a Sicília e a Tunísia (dividindo o Mediterrâneo) e nos Dardanelos (controlando o Mar Negro).

O nível do Mediterrâneo ocidental seria rebaixado em 100 metros e o oriental em 200 metros, um processo que levaria mais de um século. A rede de barragens prometia uma produção total de 110.000 MW de energia. Contudo, desafios como a instabilidade geológica de Gibraltar, a demanda astronômica por concreto e a salinidade das novas terras (que seriam impróprias para agricultura) eram obstáculos críticos.

Ambições geopolíticas e impactos socioeconômicos do projeto da mega barragem

Atlantropa era um projeto profundamente geopolítico. Sörgel vislumbrava “Euráfrica” como um novo continente, predominantemente habitado e gerido por europeus, para contrapor o poder crescente da América e da Ásia. A África era vista como fonte de matérias-primas e terra para colonização europeia, refletindo uma perspectiva eurocêntrica e colonial.

Economicamente, o projeto prometia novas terras agrícolas, alívio do desemprego através de obras públicas e crescimento industrial impulsionado pela energia abundante. No entanto, os impactos nas sociedades mediterrânicas seriam severos: cidades costeiras históricas como Veneza e Marselha ficariam isoladas no interior, e economias baseadas na pesca e no comércio marítimo seriam devastadas.

A recepção e o fracasso de Atlantropa, por que a mega barragem nunca foi construída?

Atlantropa teve popularidade no final dos anos 1920 e início dos 1930, com apoio de arquitetos modernistas como Peter Behrens. Sörgel fundou o Instituto Atlantropa para promover a ideia. No entanto, o ceticismo era grande devido à inviabilidade de engenharia, custos astronômicos e falta de cooperação internacional, especialmente dos países mediterrâneos.

Os principais poderes políticos não apoiaram o projeto. A Alemanha Nazista o rejeitou, focada na expansão para o leste. Após a Segunda Guerra Mundial, os custos da reconstrução, a ascensão da energia nuclear como nova fonte de energia “ilimitada” e o fim do colonialismo tornaram Atlantropa obsoleto e socialmente inaceitável. Herman Sörgel morreu em 1952, e o Instituto Atlantropa foi dissolvido em 1960.

Lições de um sonho de mega barragem para o século XXI

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Apesar de não realizado, Atlantropa deixou um legado significativo. Uma análise moderna revela que o projeto teria consequências ambientais catastróficas, como a hipersalinização do Mediterrâneo (similar à Crise Messiniana), destruição de ecossistemas, alterações climáticas globais (incluindo possível ruptura da Corrente do Golfo) e instabilidade geológica.

Atlantropa serve como um conto de advertência crucial nos debates sobre geoengenharia e megaprojetos. Ele sublinha os perigos de consequências imprevistas, a húbris tecnológica e a necessidade de avaliações de impacto rigorosas, cooperação internacional e considerações éticas profundas. O valor do projeto reside precisamente em seu fracasso, ensinando sobre os limites da ambição humana e a sabedoria da contenção.

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