Barreiras marítimas, diques e gigantescas obras de engenharia costeira protegem cidades do avanço do mar. Descubra como funcionam essas defesas contra inundações e os riscos que enfrentam.
Com a elevação do nível dos oceanos acelerada pelas mudanças climáticas, diversas regiões costeiras do planeta enfrentam o mesmo dilema: como impedir que o mar engula cidades inteiras? A resposta, em muitos casos, vem da própria engenharia. São obras de contenção do mar, como diques, barreiras móveis, comportas e muros de proteção — verdadeiras muralhas contra o mar que redefinem o conceito de convivência com a natureza.
A engenharia costeira ou a ter papel central em um cenário de eventos extremos cada vez mais frequentes. De Roterdã, na Holanda, a Tóquio, no Japão, ando por Veneza, Nova York e Seul, governos investem bilhões em tecnologias e soluções criativas para garantir que suas populações estejam protegidas de inundações catastróficas, marés violentas e tsunamis.
Hoje você conhecerá as principais barreiras marítimas construídas pelo ser humano, como funcionam essas defesas contra inundações, quais seus pontos fortes, limitações e os desafios que enfrentam diante da nova realidade climática global.
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A engenharia costeira como escudo contra os oceanos
A engenharia costeira é a área da engenharia civil dedicada à construção e manutenção de estruturas em ambientes marítimos e litorâneos. Ela envolve o planejamento de:
- Diques (muros de contenção fixos);
- Barreiras móveis (comportas que se erguem apenas quando necessário);
- Reforço de praias e dunas artificiais;
- Canais de desvio e sistemas de drenagem urbana integrados ao mar.
Com os níveis do mar subindo, estima-se que até 2050 mais de 1 bilhão de pessoas viverão em áreas costeiras em risco de inundação, segundo a ONU e o Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).
Holanda: referência mundial em muralhas contra o mar
A Holanda, onde mais de 60% do território está abaixo do nível do mar, é considerada o exemplo mais avançado de defesas contra inundações. O Delta Works é um complexo de barragens, comportas móveis, diques e barreiras marítimas projetado após a tragédia de 1953, quando uma inundação matou mais de 1.800 pessoas. São mais de 3.700 quilômetros de estruturas que permitem controlar a entrada de água do Mar do Norte para as áreas baixas do país.
A mais impressionante é a barreira Oosterscheldekering, com 62 comportas gigantes que podem ser fechadas em até 75 minutos quando há previsão de tempestades extremas.
Japão: paredes contra tsunamis
Após o devastador tsunami de 2011, que matou mais de 18 mil pessoas, o Japão intensificou a construção de muralhas costeiras em toda a região de Tohoku.
Algumas dessas barreiras de concreto chegam a 15 metros de altura e foram erguidas ao longo de centenas de quilômetros de costa. A ideia é reduzir a força de tsunamis antes que eles alcancem zonas urbanas.
Apesar das críticas sobre o impacto ambiental e visual dessas obras, elas são vistas como medidas essenciais de prevenção em um dos países mais vulneráveis a terremotos e maremotos.
Coreia do Sul: muros urbanos e tecnologia integrada
Na Coreia do Sul, a cidade de Busan — uma das maiores metrópoles costeiras do país — já implementa barreiras marítimas e diques automatizados, integrados a sensores meteorológicos e inteligência artificial.
O sistema prevê o fechamento automático de comportas em casos de tempestades, e o desvio de águas pluviais para canais subterrâneos de drenagem de emergência.
É um modelo moderno de engenharia costeira adaptativa, que visa lidar tanto com marés elevadas quanto com chuvas urbanas intensas.
Itália: o projeto MOSE que protege Veneza
Veneza, construída sobre estacas no meio da lagoa italiana, enfrenta inundações históricas cada vez mais graves devido à elevação do mar Adriático.
Para conter o avanço da água, foi criado o Projeto MOSE — um sistema de 78 comportas móveis que se erguem a partir do leito marinho para isolar a cidade quando há alerta de maré alta.
A obra começou em 2003 e custou mais de US$ 6 bilhões, enfrentando atrasos, escândalos de corrupção e testes complexos. Mas desde 2021 tem operado com sucesso, impedindo dezenas de enchentes em áreas críticas.
Estados Unidos: muralhas contra furacões
Cidades como Nova York, Nova Orleans e Miami enfrentam ameaças diferentes: furacões e tempestades tropicais intensas.
Após o furacão Sandy (2012), Nova York iniciou o projeto “Big U”, que prevê a construção de muros verdes, parques elevados, comportas e barreiras flutuantes para proteger Manhattan.
Já Nova Orleans, devastada pelo furacão Katrina (2005), conta hoje com o Hurricane and Storm Damage Risk Reduction System (HSDRRS) — um dos maiores sistemas de proteção costeira dos EUA, com 220 quilômetros de barreiras e bombas de drenagem de última geração.
Como funcionam as barreiras marítimas móveis?
Essas obras de contenção do mar são projetadas para funcionar somente quando necessário, evitando que o ecossistema marinho seja afetado diariamente.
Etapas do funcionamento:
- Monitoramento meteorológico e do nível do mar;
- Detecção de maré excepcional ou tempestade;
- Acionamento automático ou manual das comportas;
- Elevação das barreiras para bloquear a entrada do mar;
- Retorno ao estado de repouso quando o risco ar.
Esses sistemas exigem manutenção constante, atualização tecnológica e operação integrada a sistemas de alerta.
Os desafios das defesas contra inundações
Apesar da eficácia comprovada de muitas estruturas, existem limitações e riscos:
- Custo extremamente elevado de construção e manutenção;
- Desgaste acelerado devido ao sal e ação marítima;
- Impacto ambiental sobre marés, sedimentos e ecossistemas locais;
- Possibilidade de colapso parcial ou total, caso a magnitude do evento ultrae os limites projetados.
Além disso, eventos climáticos extremos estão se tornando mais intensos e frequentes, o que pressiona os projetos antigos a se adaptarem.
Com a previsão de que o nível do mar pode subir entre 0,6 m e 1,1 m até 2100, segundo o IPCC, as cidades costeiras precisarão repensar suas estratégias de defesa.
Soluções futuras incluem:
- Barreiras flutuantes autônomas com energia renovável;
- Inteligência artificial para prever riscos em tempo real;
- Engenharia verde, com uso de manguezais, corais artificiais e recifes para dissipar ondas;
- Urbanismo resiliente, com construção de cidades elevadas e bairros anfíbios.
E o Brasil? Estamos preparados?
O Brasil possui mais de 7.000 km de costa, com dezenas de cidades vulneráveis a eventos extremos, como Fortaleza, Recife, Santos, Florianópolis e Rio de Janeiro.
Contudo, segundo o Brasileiro de Mudanças Climáticas, o país ainda carece de planejamento estratégico nacional para defesas costeiras. Existem projetos pontuais de contenção, como:
- Muros de arrimo em regiões de erosão;
- Recomposição de dunas e vegetação nativa;
- Dragagem de canais de drenagem urbana costeira.
A falta de recursos, de integração entre municípios e de políticas públicas permanentes dificulta a implementação de obras de grande escala como as vistas em países desenvolvidos.
A luta contra o avanço do mar é um dos maiores desafios da engenharia contemporânea. As muralhas contra o mar que se erguem em diferentes continentes não são apenas demonstrações de força e técnica — elas são necessárias para garantir a sobrevivência de milhões de pessoas em áreas costeiras.
À medida que o clima muda e o mar avança, a humanidade terá que combinar engenharia costeira, ciência climática e inteligência urbana para evitar tragédias e preservar territórios.
Mais do que obras de concreto, essas defesas representam a linha tênue entre a civilização e o oceano.