Entenda como o financiamento ao consumo no Brasil revela conexões ocultas entre o capital industrial e financeiro, impactando diretamente o consumidor e mostrando como o sistema de crédito pode influenciar o mercado e a economia do país de maneira surpreendente.
O financiamento ao consumo no Brasil esconde uma dinâmica pouco compreendida, mas que revela como o sistema financeiro lucra com o desejo do consumidor de comprar antes de ter o dinheiro em mãos.
Segundo o economista José Kobori, em participação no Podcast Flow, o financiamento faz com que o consumidor pague muito mais pelo que compra, beneficiando o setor financeiro em detrimento da produção industrial.
“Eu produzo um microfone, você financia em 24 vezes e no final paga três microfones.
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O industrial recebeu um, o financeiro embolsou dois”, ilustrou Kobori com clareza.
O economista, que também é escritor e professor de finanças no IBMEC, aproveitou a conversa para expor as contradições do capitalismo brasileiro e mundial.
Para ele, o financiamento é o elo que conecta o “capitalismo industrial”, que fabrica bens concretos, ao “capitalismo financeiro”, que capitaliza o consumo futuro com juros altos.
Essa relação reflete um modelo econômico que privilegia o lucro financeiro sobre a produção real, resultando em desequilíbrios que afetam o consumidor final.
Da prática às fusões de empresas
José Kobori compartilhou sua trajetória que o levou do comércio informal nas ruas de Brasília a executivo de grandes empresas, ando por vendas de aço e copiadoras até chegar ao mercado de fusões e aquisições (M&A).
Essa experiência, segundo ele, é fundamental para compreender os processos reais das empresas, diferentemente de muitos analistas que estudam apenas números frios, sem conhecer a operação diária da indústria.
“O sonho de um vendedor é negociar cada vez mais complexo.
Eu ei dos brinquedos às copiadoras e agora vendo empresas inteiras”, contou Kobori.
Esse olhar prático se reflete em sua crítica aos especialistas financeiros que, na sua visão, desconhecem o funcionamento real das empresas.
“Quem nunca trabalhou numa linha de produção sabe pouco sobre a alma de um negócio”, afirmou, apontando que essa desconexão contribui para decisões erradas e bolhas no mercado.
O choque entre o capital financeiro e o capital industrial
Kobori traçou um panorama histórico que começa na Revolução Industrial e chega ao atual cenário da financeirização global.
No capitalismo industrial, explica ele, a produção de bens gera riqueza, mas também limita os salários e pressiona fornecedores e impostos para aumentar as margens de lucro.
Esse processo cria uma contradição: os trabalhadores e consumidores acabam sem renda suficiente para adquirir os produtos que ajudaram a fabricar.
É nesse momento que o capital financeiro aparece oferecendo crédito fácil, porém caro.
“Financia-se o desejo de consumo com juros; produz-se o lucro de quem não produz nada”, sintetizou Kobori, ao alertar que o aumento do crédito mascara desigualdades sociais e amplia a dependência financeira.
Esse fenômeno é visível no Brasil, onde o crédito para pessoa física cresce mesmo diante do aumento das taxas de juros, refletindo o comportamento do consumidor que muitas vezes não calcula o custo real do financiamento.
O papel crítico dos analistas e a realidade das empresas
O economista reforçou que muitos analistas financeiros se baseiam apenas em dados numéricos, ignorando aspectos como cultura corporativa, processos produtivos e governança.
Essa visão limitada, segundo ele, alimenta decisões equivocadas e fomenta bolhas especulativas.
“Avaliar uma empresa sem entender a operação é um risco enorme”, alertou Kobori.
Ele explicou o processo de due diligence em fusões e aquisições, quando o comprador faz um verdadeiro “raio-X” da empresa, buscando revelar ivos ocultos ou problemas que podem comprometer o negócio.
Casos de controladores que desconhecem detalhes financeiros ou estratégicos são frequentes, e essa falta de gestão pode desabar o valor da empresa pós-compra.
Educação financeira para escapar das armadilhas dos juros
Para combater o ciclo vicioso do financiamento caro, Kobori defende a popularização da educação financeira.
Entender o fluxo de caixa pessoal, saber diferenciar desejos de necessidades e conhecer noções básicas de investimento são ferramentas essenciais para evitar o endividamento.
“Economizar antes de consumir quebra o ciclo de pagar mais caro sempre”, destacou.
Além disso, ele aconselha o consumidor a acompanhar os balanços das empresas listadas em bolsa, para entender para onde vai a margem de lucro embutida nos produtos e serviços.
Essa prática ajuda a conscientizar sobre o preço real que se paga no mercado e pode influenciar escolhas de consumo mais responsáveis.
Crédito fácil, mas custo alto
O economista também chamou atenção para a publicidade que incentiva parcelamentos longos como se fossem simples facilidades.
No entanto, o que parece “caber no bolso” esconde o custo efetivo total (CET), que pode dobrar ou triplicar o preço final de um produto.
Exemplos típicos são smartphones, automóveis, eletrodomésticos e até cursos financiados em dezenas de parcelas.
“O problema não é usar crédito, mas desconhecer o preço real do tempo”, alertou Kobori, destacando que o consumidor paga caro justamente por não entender o impacto dos juros compostos ao longo do tempo.
A tecnologia como aliada do consumo consciente
Na reta final do papo, Kobori mostrou otimismo moderado ao responder se existe esperança para um equilíbrio entre produção e finanças.
Segundo ele, a tecnologia barateia o o à informação, e quem se empenha em aprender pode driblar armadilhas financeiras.
“A geração que cresce ouvindo podcasts e consumindo conteúdo educativo tem mais ferramentas para fazer escolhas conscientes”, concluiu.
Essa reflexão sugere que a disseminação do conhecimento financeiro pode transformar o comportamento do consumidor e, quem sabe, redefinir a relação entre produção e crédito no Brasil.
Você acha que a educação financeira realmente pode mudar a forma como os brasileiros lidam com o financiamento ou essa realidade é difícil de ser revertida? Deixe sua opinião!