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O dia em que a CBF comprou um paraíso serrano da família bilionária Guinli e mudou o destino da Seleção Brasileira

Escrito por Jefferson S
Publicado em 21/05/2025 às 10:05
Imagem dividida: à esquerda, foto histórica em preto-e-branco da Fazenda Comary com a Serra dos Órgãos; à direita, gramado do CT da CBF com o escudo gigante da Seleção Brasileira.
Antes e depois: a paisagem original dos Guinle e o gramado oficial que hoje recebe a Seleção Brasileira na Granja Comary, em Teresópolis. – Arquivos publicos WEB

Conheça a trajetória do sítio que começou como granja de luxo, virou cartão-postal de Teresópolis e hoje abriga o maior centro de treinamento do futebol nacional.

A história da Granja Comary começa muito antes de a camisa verde-amarela marcar presença por ali. Em 1920, o empresário Eduardo Guinle, já milionário graças à concessão do porto de Santos, comprou a antiga Fazenda Comary, em Teresópolis, para ser o refúgio serrano da família.

O cenário de montanhas, clima ameno e vista para a Pedra do Soberbo lembrava veraneios europeus e atraía a elite carioca da época. O sobrenome Guinle já era sinônimo de luxo no Rio: eles tinham fincado bandeira no Copacabana Palace e no Palácio Laranjeiras, entre outros marcos arquitetônicos.

Ao adquirir a fazenda, Eduardo mandou abrir estradas internas, erguer chalés em estilo alpino e planejar jardins ao redor de um lago natural. O objetivo não era apenas descansar, mas receber políticos, músicos e diplomatas em festas que reforçavam o prestígio do clã.

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Com a morte de Eduardo, em 1941, o sítio ficou nas mãos do filho Carlos Guinle, pai do famoso playboy Jorginho. Carlos manteve a propriedade e ou a diversificar a área, transformando-a em polo agropecuário e, depois, em projeto imobiliário.

Ainda na década de 1940, a família já falava em construir ali um grande clube de lazer, mas a Segunda Guerra atrasou os planos. O período serviu, porém, para aproximar Teresópolis dos circuitos de inverno frequentados pela sociedade.

Quando o pós-guerra chegou, a Granja já era vista como joia da Serra Fluminense, pronta para ganhar novas funcionalidades, e novas histórias.

Galinhas sas, raposas e rãs: a fazenda que virou atração

Pouca gente imagina que o primeiro grande investimento dos Guinle na Comary foi… criação de galinhas importadas da França. A ideia era produzir ovos especiais para hotéis e restaurantes do Rio.

As aves não vieram sozinhas. Documentos do acervo familiar mencionam viveiros com faisões, patos exóticos e até um pequeno lote de raposas-prateadas, usadas para pele, moda luxuosa da época.

Na beira dos lagos, a família tentou ainda criar rãs para exportação gastronômica. As experiências agropecuárias duraram pouco, mas deram fama ao lugar: visitantes faziam fila nos fins de semana para ver a “fazenda-show” dos Guinle.

Com o tempo, os donos perceberam que o potencial turístico era maior do que o retorno agroindustrial. Abriram portões para piqueniques e autorizavam eios monitorados; muitos moradores de Teresópolis lembram das “tardes nos jardins da Comary” como programa de infância.

Os anos 50 marcaram a virada: Carlos Guinle contratou engenheiros para transformar terras em loteamentos residenciais de alto padrão. Surgiu o embrião do bairro Carlos Guinle, hoje uma das áreas mais valorizadas da cidade.

Ainda assim, a memória da granja original sobrevive em placas, antigos galpões e nas histórias que guias contam a turistas curiosos em busca das origens inusitadas do futuro CT da Seleção.

Da fazenda ao bairro: loteamentos, lago e o surgimento do Clube Comary

Em 1950, escavadeiras abriram um canal e ampliaram um antigo açude para criar o Lago Comary, cartão-postal que hoje estampa fotos de ensaio da Seleção. A paisagem espelhada virou ponto de contemplação e vendeu lotes como água.

Visando oferecer lazer aos novos moradores, dez personalidades locais fundaram, em 1968, o Clube Comary. Quadras, piscinas e um pequeno estádio transformaram o espaço num “country club” serrano disputado pela sociedade fluminense.

O modelo urbanístico previa ruas sinuosas acompanhando a topografia e áreas verdes preservadas. Cada casa precisava seguir padrões de recuo e altura, garantindo vista para o lago e harmonia arquitetônica.

Nessa fase, o contato com o esporte se intensificou. Torneios de tênis e futebol de fim de semana aram a atrair atletas de clubes do Rio, que aproveitavam a altitude como preparação física.

A mídia esportiva começou a apelidar o local de “pequena Suíça brasileira”, pela combinação de clima, pinheiros e chalés. O marketing espontâneo chamou atenção da então Confederação Brasileira de Desportos (CBD).

No fim dos anos 70, os Guinle, já sem o poder econômico de outrora, viram na CBD um comprador ideal para parte da área ainda não loteada. Nascia o próximo capítulo.

Negócio de boleiros: a CBF compra o paraíso serrano

Entre 1979 e 1983, a CBD (que viraria CBF) negociou cerca de 149 mil m² da Granja Comary para erguer ali o Centro de Treinamento da Seleção Brasileira de Futebol.

O projeto, audacioso para a época, previa campos oficiais, alojamentos, auditório e laboratório de fisiologia. A Federação escolheu a Comary pelo clima ameno, altitude de 870 m e proximidade do Rio.

As obras buscaram integrar as construções ao cenário. Arquitetos mantiveram árvores centenárias e abriram janelas voltadas ao lago, garantindo fotos icônicas que o torcedor conhece até hoje.

Em 1987, o CT foi inaugurado e utilizado na preparação para a Copa América do mesmo ano. Desde então, todas as seleções principais, de 1994 a 2022, aram pelos vestiários da Comary antes de Mundiais.

Além da equipe masculina, categorias de base e o time feminino usam as dependências. O local abriga ainda cursos de treinadores, congressos médicos e exposições históricas sobre o futebol nacional.

A compra mudou a dinâmica do bairro: hotéis, restaurantes e comércio esportivo cresceram para atender jornalistas e torcedores que acorrem sempre que a seleção se concentra.

Patrimônio afetivo do futebol brasileiro

Para muitos brasileiros, ouvir “Granja Comary” é lembrar da coletiva de convocação, das pedaladas em treinos abertos ou das fotos de Neymar, Marta e companhia no deck de madeira sobre o lago.

Ali nasceram campanhas campeãs: a seleção de 1994 ajustou a preparação nos gramados serranos antes de erguer o tetra nos EUA; em 2002, Felipão repetiu o ritual rumo ao penta.

Mesmo nos tropeços, como o 7 × 1 em 2014, o centro de treinamento virou símbolo de catarse nacional: torcedores faziam vigília no portão principal, misturando crítica e apoio.

Para Teresópolis, o CT é motor de turismo. Estudo da prefeitura aponta impacto direto na rede hoteleira toda vez que a seleção se reúne, sem falar na projeção internacional da cidade.

O lago, hoje ladeado por esculturas de craques, continua sendo cenário de cartões-postais — mas também de eios de domingo para famílias locais, que aproveitam o calçadão público.

Mais que um centro esportivo, a Granja Comary virou memória coletiva. E pensar que tudo começou com galinhas sas e o sonho de um empresário em levar ar puro e charme europeu para a Serra.

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Jefferson S

Profissional com experiência militar no Exército, Inteligência Setorial e Gestão do Conhecimento no Sebrae-RJ e no Mercado Financeiro por meio de um escritório da XP Investimentos. Trago um olhar único sobre a indústria energética, conectando inovação, defesa e geopolítica. Transformo cenários complexos em conteúdo relevante sobre o futuro do setor de petróleo, gás e energia. Envie uma sugestão de pauta para: [email protected]

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