Último ex-detento vivo de Alcatraz, Charlie Hopkins relembra a rotina na prisão mais temida dos EUA e comenta proposta de reabertura feita por Trump
Aos 93 anos, Charlie Hopkins carrega na memória o som que ainda ecoa das paredes frias da prisão mais temida dos Estados Unidos: o silêncio de Alcatraz.
A penitenciária de segurança máxima, localizada em uma ilha isolada a cerca de 2 km da costa de São Francisco, marcou sua vida profundamente. Enviado para lá em 1955, Hopkins cumpria pena por sequestro e roubo.
O que mais o impressionava? O silêncio quase absoluto, interrompido apenas pelo apito distante de navios cruzando as águas geladas.
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“É um som solitário“, diz ele. A lembrança é forte. “Ele faz lembrar Hank Williams cantando ‘estou tão só que poderia gritar’.“
O último homem de Alcatraz
Segundo os Arquivos Nacionais de São Francisco, Hopkins pode ser o último ex-detento de Alcatraz ainda vivo. Outro ex-prisioneiro, William Baker, ainda estava vivo no ano anterior.
Hoje, Hopkins vive na Flórida com a filha e o neto. Sua história virou um livro de memórias com mil páginas, das quais metade trata do seu próprio comportamento problemático.
A agem por Alcatraz começou após conflitos em outras prisões. Ele havia sido preso em Jacksonville, na Flórida, em 1952, por participação em assaltos e sequestros. O grupo criminoso ao qual pertencia usava reféns para atravessar bloqueios e roubar carros. Três anos depois, foi transferido para Alcatraz.
Vida dura na ilha
A rotina na prisão era simples, mas dura. “Não havia nada para fazer”, lembra. Sem rádio, poucos livros, e somente a cela como espaço de convívio. Caminhar para frente e para trás era uma das únicas distrações. Hopkins trabalhava limpando o chão da prisão. “Esfregava até que ficasse brilhando.”
A prisão era limpa, segundo ele, mas inóspita. O local, com cerca de nove hectares, cercado por águas congelantes e fortes correntes, foi inicialmente um forte militar.
No início do século 20, virou prisão militar e, nos anos 1930, ou ao controle do Departamento de Justiça, que a transformou em penitenciária federal para combater o crime organizado.
Companheiros perigosos
Hopkins dividiu a prisão com nomes famosos, como o gângster Al Capone, o assassino Robert Stroud – conhecido como o “Homem-Pássaro” de Alcatraz – e James “Whitey” Bulger, um dos mais temidos senhores do crime. A prisão serviu de cenário para diversos filmes, incluindo o famoso “A Rocha”, de 1996.
Mesmo sob segurança máxima, Hopkins se meteu em encrencas. ou seis meses isolado no “Bloco D”, reservado a detentos problemáticos. O motivo? Tentou ajudar prisioneiros a escapar.
Um deles era Forrest Tucker, ladrão de bancos. Hopkins roubou lâminas de serra da oficina de eletricidade para cortar barras da cozinha. O plano falhou. As ferramentas foram encontradas, e os envolvidos foram punidos.
Fugas frustradas
Tucker não desistiu. Em 1956, durante uma cirurgia renal, feriu o tornozelo com um lápis, forçando os guardas a retirarem as algemas. Aproveitou a ida ao hospital para dominar assistentes e fugir. Foi capturado horas depois, em um campo de milho, vestindo camisola de hospital.
Ao longo dos anos, 14 tentativas de fuga ocorreram, envolvendo 36 detentos. A mais conhecida foi em 1962, quando Frank Morris e os irmãos Clarence e John Anglin fugiram usando cabeças de papel machê nas camas e saíram pelos dutos de ventilação. Nunca foram encontrados. O FBI acredita que morreram afogados.
O fim de Alcatraz
Em 1963, um ano após essa fuga, a prisão foi fechada. O motivo: altos custos. Manter a estrutura em funcionamento era mais caro do que construir novas instalações.
Hoje, Alcatraz virou museu, gerando cerca de US$ 60 milhões por ano. A construção está em ruínas: tinta descascada, canos enferrujados e banheiros degradados. Iniciada em 1907, a estrutura sofreu com a ação do tempo.
Hopkins foi transferido em 1958 para uma prisão no Missouri. Lá, recebeu tratamento psiquiátrico, que ajudou a melhorar seu comportamento. Em 1963, foi libertado. Trabalhou em oficinas e retomou a vida fora das grades.
A proposta de Trump
Apesar do estado de deterioração, o ex-presidente Donald Trump anunciou em 4 de maio sua intenção de reabrir e ampliar a prisão de Alcatraz. A proposta seria deter criminosos considerados violentos e implacáveis. “Representa algo muito forte, muito poderoso – a lei e a ordem”, disse Trump.
Hopkins, apoiador do presidente, não acredita que o plano seja real. “Na verdade, ele não quer abrir aquele lugar”, afirma.
Para ele, trata-se de um gesto simbólico para reforçar o discurso de punição contra criminosos e imigrantes ilegais. “Seria muito caro”, diz. “Naquela época, o sistema de esgoto ia para o oceano. Eles precisariam criar outra forma de lidar com aquilo.”
Última lembrança
Alcatraz está fechada há mais de 60 anos. Mas, para Charlie Hopkins, a ilha nunca deixou de ecoar. Ele é o último elo vivo com um lugar que, por três décadas, simbolizou punição e isolamento. Um lugar onde o silêncio era mais assustador que os muros.
Com informações de BBC.