Empresas de Vaca Muerta, na Argentina, avançam na exportação de gás para o Brasil, especialmente São Paulo, substituindo a queda na oferta boliviana e reforçando a segurança energética.
As exportações de gás natural da formação de Vaca Muerta, na Argentina, ganharam impulso e prometem alterar significativamente o cenário energético brasileiro, especialmente em São Paulo. Grandes companhias do setor energético, como TotalEnergies, Gas Cono Sur, Teetrol e Pluspetrol, am pelo menos nove contratos para fornecimento superior a 10,5 milhões de metros cúbicos por dia ao Brasil, segundo fontes do setor. A tendência é de crescimento, com outras cinco ordens em análise.
A estratégia argentina inclui o uso da infraestrutura existente, priorizando a rota Argentina-Bolívia-Brasil, que deve conduzir o gás de Vaca Muerta diretamente até o território brasileiro, aliviando a dependência do Brasil em relação ao gás boliviano — cuja produção enfrenta queda constante nas reservas.
Reservas bolivianas em queda acelerada impulsionam mudança de rota
A decisão de substituir o gás da Bolívia não é por acaso. Dados recentes da consultoria norte-americana Ryder Scott Company revelam que as reservas comprovadas de gás natural boliviano chegaram a 4,04 TCF (trilhões de pés cúbicos) em dezembro de 2022.
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Mesmo somando as categorias “Comprovada + Provável + Possível”, o volume não ultraava 5,15 TCF.
Em dezembro de 2023, as reservas comprovadas subiram para 4,48 TCF, com potencial máximo de 5,24 TCF, considerando o cenário mais otimista. Ainda assim, especialistas e autoridades locais criticam a falta de transparência nos dados.
A certificação de 2024, que deveria estar disponível desde março, ainda não foi apresentada pela YPFB (Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos), o que aumenta a incerteza.
Vaca Muerta mira novos mercados enquanto espera estrutura para GNL
Diante desse cenário, o gás de Vaca Muerta surge como alternativa estratégica para abastecer o Brasil, especialmente enquanto os projetos para sua exportação como Gás Natural Liquefeito (GNL) ainda não saem do papel.
A Bacia de Neuquén, onde está localizada a formação geológica de Vaca Muerta, tem atraído interesse crescente de compradores brasileiros.
“Estamos em busca de suprimento firme, visto que a Bolívia não consegue mais repor os volumes depletados e ficamos à mercê do GNL importado para completar as necessidades do nosso mercado”, afirmou um especialista ouvido pelo portal Petronotícias.
Contratos já assinados focam no Sudeste e utilizam rede boliviana
As operações já contam com aval oficial. O governo argentino autorizou quatro exportações destinadas ao Brasil, com foco especial na região de São Paulo, que concentra boa parte da demanda nacional por gás natural.
A subsidiária Total Austral, ligada à sa TotalEnergies, assinou contrato com a MGAS Comercializadora para fornecer até 1,5 milhão de metros cúbicos por dia, provenientes dos campos San Roque, Aguada Pichana Este e Rincón de la Ceniza, todos localizados em Vaca Muerta.
Além da MGAS, outras comercializadoras brasileiras envolvidas nos contratos são MTX Comercializadora, Edge Comercialização e Gas Bridge.
Obstáculos logísticos e tarifários ainda desafiam expansão
Apesar dos avanços, a exportação de gás argentino enfrenta entraves técnicos e regulatórios.
A estatal argentina Enarsa ainda não concluiu a instalação de um medidor bidirecional no Gasoducto de Integración Juana Azurduy (Gija), essencial para o transporte reverso do gás até a Bolívia. Além disso, questões tarifárias ainda estão pendentes de homologação.
A expectativa é que o custo do transporte fique em torno de US$ 9 por milhão de BTU. “Se chegar no Gasbol a esse preço, acho barato. Mas tem de saber se esse preço é na entrada na Bolívia ou em SP”, pondera um analista do setor.
Expectativas para o mercado de gás em São Paulo
O gás de Vaca Muerta deve ganhar protagonismo em São Paulo, maior mercado consumidor do Brasil, que sofre com a oscilação no fornecimento boliviano.
A diversificação de rotas e fornecedores é vista como uma medida urgente para garantir estabilidade e competitividade energética, tanto para o setor industrial quanto para os consumidores residenciais.
A entrada de gás argentino no mercado brasileiro não apenas reforça a segurança energética do país, como também abre novas possibilidades de negócios bilaterais, consolidando o papel de Vaca Muerta como um dos principais polos produtores da América do Sul.
Com informações do Petronotícias.