Arktika, navio russo movido a energia nuclear, foi o primeiro quebra-gelo a chegar ao Polo Norte, cruzando camadas de gelo com até 3 metros de espessura.
O Arktika, navio russo movido a energia nuclear, entrou para a história da navegação mundial ao se tornar a primeira embarcação de superfície a alcançar o Polo Norte, em 1977. Construído pela então União Soviética, o quebra-gelo foi projetado para operar em regiões do Ártico com camadas de gelo de até 3 metros de espessura, abrindo rotas comerciais e científicas em áreas onde a navegação convencional era impossível.
A conquista representou um avanço tecnológico para a Rússia, que investia em rotas estratégicas no norte do planeta. Com capacidade para navegar por meses sem reabastecimento, o Arktika tornou-se símbolo da capacidade industrial e científica do país, além de ampliar a presença russa em uma região geograficamente remota e rica em recursos naturais.
Além de romper o gelo, o navio russo serviu como laboratório flutuante, permitindo a realização de pesquisas meteorológicas, oceanográficas e geopolíticas no Ártico. Equipado com dois reatores nucleares, sua autonomia e robustez deram início a uma nova era na construção naval voltada para operações extremas. Até hoje, o nome Arktika representa um marco no desenvolvimento de quebra-gelos com propulsão nuclear.
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O navio russo desenvolvido para vencer o gelo do Ártico
O Arktika foi construído pela União Soviética no estaleiro Baltic, em Leningrado (atual São Petersburgo), e lançado ao mar em 1972. A embarcação foi projetada para garantir o tráfego marítimo no Ártico, uma rota estratégica para o transporte de cargas e para a exploração de recursos naturais em regiões remotas da Rússia.
Movido por dois reatores nucleares do tipo OK-900A, o navio russo tem autonomia praticamente ilimitada de operação, podendo permanecer no mar por meses sem necessidade de reabastecimento. Essa característica permite ao Arktika operar em missões prolongadas, em áreas onde o o seria impossível para navios convencionais.
Capacidade de quebrar gelo de até 3 metros
O projeto do Arktika permite que o casco resista a grandes pressões e distribua o peso da embarcação sobre o gelo, quebrando camadas com até 3 metros de espessura. A técnica usada é baseada em empuxo: o navio sobe sobre o gelo e usa seu próprio peso para rompê-lo, abrindo caminho para outras embarcações.
Essa capacidade fez do Arktika uma peça-chave na expansão da navegação comercial no Ártico, facilitando a criação de corredores marítimos na chamada Rota do Mar do Norte, que liga o Oceano Atlântico ao Pacífico através das águas congeladas do norte da Rússia.
Primeira missão ao Polo Norte
Em 17 de agosto de 1977, o Arktika alcançou o Polo Norte geográfico, tornando-se o primeiro navio da história a atingir esse ponto navegando pelas águas congeladas. A bordo estavam cientistas, engenheiros e oficiais da Marinha Soviética. A conquista foi celebrada como um marco tecnológico da União Soviética durante a Guerra Fria.
A missão ao Polo Norte teve objetivos científicos, estratégicos e simbólicos. Além de provar a capacidade do navio russo, a expedição coletou dados sobre o gelo polar, condições meteorológicas e correntes marítimas. Os resultados serviram de base para o desenvolvimento de novas rotas e de versões mais modernas do navio.
Características técnicas do navio russo Arktika
O Arktika original possui 148 metros de comprimento, 30 metros de largura e deslocamento de cerca de 23 mil toneladas. Ele pode atingir velocidades de até 20 nós (aproximadamente 37 km/h) em águas livres e manter navegação constante em áreas congeladas com gelo de até 2,5 metros, podendo forçar agens mais espessas em velocidade reduzida.
A propulsão é feita por quatro turbinas a vapor acionadas pela energia nuclear gerada pelos reatores. O navio também conta com sistemas de navegação e comunicação desenvolvidos para operar em latitudes extremas, onde a interferência magnética e a ausência de satélites tornam a navegação convencional difícil.
Arktika deu origem a uma nova geração de quebra-gelos
O sucesso do navio inspirou a construção de uma série de embarcações nucleares semelhantes, com melhorias em eficiência, segurança e capacidade de quebra de gelo. A frota de quebra-gelos movidos a energia nuclear da Rússia continua sendo a única do mundo em operação com essa tecnologia em larga escala.
Em 2020, uma nova geração de navios com o mesmo nome – Arktika, da classe LK-60Ya – foi lançada para substituir gradualmente os modelos antigos. Com mais potência e maior capacidade de operação no gelo grosso, os novos quebra-gelos reforçam o papel estratégico da Rússia no Ártico.
Preservado como patrimônio histórico
A utilização de quebra-gelos movidos a energia nuclear fortalece a presença da Rússia no Ártico, uma região que concentra grandes reservas de gás natural, petróleo e outros minerais. Além disso, o degelo gradual causado pelas mudanças climáticas tem ampliado o período de navegabilidade da Rota do Mar do Norte, tornando-a cada vez mais atraente para o comércio internacional.
Nesse contexto, o Arktika original permanece como símbolo da capacidade industrial e científica russa. Sua construção e operação mostraram ao mundo que era possível explorar economicamente regiões antes consideradas iníveis.
O navio original foi retirado de operação em 2008, após mais de 30 anos de serviço. Desde então, ou por processos de descomissionamento e descontaminação. Há iniciativas para transformar o Arktika em um museu flutuante, preservando sua história como parte do legado naval da antiga União Soviética e da atual Rússia.