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Arqueólogos descobrem mais de 100 estruturas pré-históricas em uma caverna: a descoberta sugere que os sapiens já desenvolviam práticas simbólicas complexas há mais de 20.000 anos

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 09/06/2025 às 08:14
caverna, arqueólogos
Foto: Reprodução

Mais de 100 estruturas com estalagmites manipuladas revelam uso simbólico complexo na caverna Cova Dones, em Valência, há mais de 20.000 anos.

Uma descoberta impressionante em Valência está reformulando o entendimento sobre o comportamento simbólico dos primeiros humanos. Arqueólogos identificaram mais de cem estruturas pré-históricas na caverna Cova Dones, localizada em Millares.

Esses achados indicam que sociedades humanas, há mais de 20.000 anos, já utilizavam cavernas não apenas como abrigo, mas como espaços de significados complexos.

A caverna e sua importância arqueológica

A Cova Dones já era conhecida por suas pinturas rupestres paleolíticas. Agora, com a nova descoberta liderada pelas Universidades de Alicante e Saragoça, ela se tornou o segundo maior sítio arqueológico do mundo com esse tipo de estrutura, ficando atrás apenas da Caverna de Saint-Marcel, na França.

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Essas estruturas, chamadas de espeleofatos, são formadas por estalagmites que foram intencionalmente quebradas, agrupadas ou realocadas por ação humana.

O estudo sugere que os primeiros habitantes ou visitantes da caverna organizaram o espaço de forma planejada e cuidadosa. Não se tratava apenas de ocupação casual, mas de uma verdadeira transformação do ambiente subterrâneo.

Espeleofatos: construções intencionais e milenares

Os espeleofatos não são simples fragmentos de pedra. Eles foram deslocados e organizados em padrões visivelmente planejados.

Muitas dessas formações assumem formas circulares ou em anel. Além disso, a presença de calcita sobre as fraturas indica que a modificação dessas estruturas ocorreu há milhares de anos.

Os arqueólogos constataram que há caminhos internos bem definidos, zonas específicas de ocupação e movimentação de estalagmites para facilitar o deslocamento em determinadas áreas da caverna.

Tudo indica que havia um conhecimento profundo do espaço e uma intenção clara ao organizar o ambiente.

Uma ocupação planejada e cheia de significados

A quantidade de estruturas e sua distribuição reforçam a hipótese de que a Cova Dones era mais do que um simples refúgio.

Os pesquisadores acreditam que a caverna tinha funções simbólicas, cerimoniais e até cosmológicas. A forma como os espeleofatos foram organizados demonstra uma relação sofisticada e planejada com o subsolo.

Essa ocupação meticulosa sugere que o espaço subterrâneo foi concebido como um ambiente carregado de significados. Os humanos não apenas habitavam a caverna, mas a transformavam em um espaço com funções específicas, provavelmente ligadas a rituais e crenças.

Arte rupestre e continuidade histórica

A descoberta dos espeleofatos se soma a outras importantes revelações feitas nos últimos anos na Cova Dones. Em 2023, um estudo publicado na revista Antiquity classificou a caverna como o sítio com a maior coleção de arte rupestre paleolítica da costa mediterrânea oriental da Península Ibérica.

Foram identificadas mais de cem pinturas e gravuras, datadas de aproximadamente 24.000 anos. As representações incluem cavalos, veados, auroques e outros animais. Essas imagens reforçam o caráter ritualístico e simbólico do local, mostrando uma tradição artística sofisticada já naquele período.

A presença romana na caverna

A história da Cova Dones não termina no Paleolítico. Pesquisas recentes identificaram também um santuário romano nas profundezas da caverna. Foram encontradas inscrições em latim e uma moeda do Imperador Cláudio. Esses achados demonstram que, milhares de anos depois das primeiras ocupações, o local continuou sendo utilizado com propósitos religiosos.

A sobreposição de períodos históricos transforma a caverna em um verdadeiro registro cultural subterrâneo, onde cada civilização deixou sua marca sem apagar as anteriores.

Comparações com outras cavernas pré-históricas

As descobertas na Cova Dones são comparadas com as estruturas encontradas na Caverna Bruniquel, na França. Lá, há cerca de 175.000 anos, neandertais também organizaram estalagmites em formas de anéis. Essa semelhança sugere que o uso simbólico de cavernas e a modificação de seus interiores podem ser uma prática humana muito antiga, atravessando diferentes períodos e grupos.

A ideia de que cavernas eram apenas abrigos naturais vai sendo substituída por uma visão mais complexa, onde o subsolo era transformado em um espaço carregado de significados espirituais e sociais.

Funções das estruturas ainda são debatidas

Os pesquisadores ainda investigam as finalidades exatas dessas construções pré-históricas. Algumas hipóteses apontam que poderiam funcionar como barreiras físicas, guias para o deslocamento no escuro ou demarcações de áreas de uso específico. Outras sugerem propósitos puramente rituais ou cosmológicos.

O fato de as estruturas seguirem uma lógica espacial clara, com organização e padrões, afasta a possibilidade de serem resultados de acúmulos aleatórios de pedras. Estudos detalhados buscam decifrar essas intenções por meio da análise da geomorfologia da caverna, da disposição dos espeleofatos e das características dos sedimentos.

Programas de pesquisa em andamento

Para compreender plenamente a história dessas estruturas, um programa detalhado de pesquisa foi iniciado. As análises incluem datação por séries de urânio, escavações microestratigráficas e estudos geomorfológicos. 3

Essas técnicas visam não só determinar a idade das modificações, mas também entender os processos de construção e os possíveis significados atribuídos às estruturas.

O objetivo é reconstruir o modo como essas sociedades pré-históricas concebiam o espaço subterrâneo e como as modificações refletiam suas crenças e práticas culturais.

Equipe multidisciplinar no estudo da Cova Dones

O projeto DONARQ, responsável pela descoberta, reúne uma equipe multidisciplinar. Virginia Barciela González, da Universidade de Alicante, e Aitor Ruiz-Redondo, da Universidade de Saragoça, lideram o grupo. Participam também especialistas em diversas áreas, como geomática, tafonomia, epigrafia romana e arte pré-histórica.

Um dos destaques é o trabalho de Iñaki Intxaurbe Alberdi, pesquisador de pós-doutorado em transformação cárstica. Sua atuação foi essencial na identificação e classificação das estruturas, sobretudo considerando as condições desafiadoras de estudo em uma caverna com mais de 500 metros de profundidade.

Um ecossistema cultural subterrâneo

A abordagem multidisciplinar permite analisar a Cova Dones como um verdadeiro ecossistema cultural subterrâneo. O local não é apenas um depósito de objetos antigos, mas um ambiente moldado e reinterpretado por diversas comunidades ao longo de milhares de anos.

As descobertas reforçam a ideia de que o subsolo sempre exerceu um papel especial na história humana. A Cova Dones surge agora como um dos maiores testemunhos desse vínculo ancestral com os mistérios e simbolismos das cavernas.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail [email protected].

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