Estrutura de madeira mais antiga do mundo possui 7.275 anos e pode reescrever parte da história da engenharia neolítica.
Uma descoberta arqueológica na República Tcheca pode mudar o que sabemos sobre as habilidades construtivas de sociedades pré-históricas. Durante a construção da rodovia D35, na cidade de Ostrov, arqueólogos encontraram um poço de 7.275 anos, construído em madeira de carvalho, que pode ser a estrutura de madeira mais antiga do mundo com datação científica confirmada.
O achado foi feito em 2018, mas só em 2020 foi publicado oficialmente no Journal of Archaeological Science, após rigorosos testes de datação. O que mais surpreendeu os especialistas foi o nível de precisão técnica utilizado na construção, especialmente considerando que as ferramentas disponíveis à época eram feitas apenas de pedra, ossos, chifres e madeira.
Técnicas de encaixe do poço indicam conhecimento avançado para uma sociedade do início do Neolítico
O poço foi construído com quatro postes de carvalho fixados nos cantos, e entre eles tábuas cuidadosamente encaixadas — um método sofisticado que se assemelha a técnicas utilizadas milhares de anos depois, durante as idades do Bronze e do Ferro. A estrutura tem base quadrada de 80 centímetros por 80 centímetros e 1,40 metro de altura.
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Jaroslav Peška, chefe do Centro Arqueológico de Olomouc, afirmou que a descoberta desafia o conhecimento atual sobre as sociedades do Neolítico. “Traz marcas de técnicas de construção usadas até na Idade Romana. Não imaginávamos que os primeiros agricultores pudessem processar madeira com tamanha precisão”, declarou ao portal All That’s Interesting.
Análise dendrocronológica confirmou que a madeira foi cortada entre 5.266 e 5.255 a.C.
Para determinar a idade do poço, os pesquisadores utilizaram a dendrocronologia, método que estuda os anéis de crescimento de árvores. A análise indicou que os troncos foram cortados entre 5.266 e 5.255 a.C., o que corresponde a aproximadamente 7.275 anos atrás. Um dos detalhes mais interessantes é que duas das madeiras utilizadas foram cortadas alguns anos antes das demais, sugerindo reaproveitamento de materiais de construções anteriores.
Além disso, uma das tábuas apresentava idade ainda mais avançada — entre 7.261 e 7.244 anos — o que indica que o poço pode ter ado por reparos posteriores, prática incomum para a época e mais uma demonstração do nível de organização dessas comunidades.
Estrutura estava posicionada para atingir o lençol freático, sugerindo conhecimento hidrológico
Outro ponto que chamou atenção dos arqueólogos foi a forma como a estrutura foi instalada. Os postes de carvalho projetavam-se para baixo, indicando um planejamento para alcançar diretamente o lençol freático, o que revela um conhecimento rudimentar, mas eficiente, sobre fontes subterrâneas de água.
Apesar da sofisticação técnica do poço, nenhum vestígio de habitações permanentes foi encontrado ao seu redor. Apenas fragmentos de cerâmica estavam presentes no local, levando os especialistas a crer que o poço era utilizado por diversas comunidades da região durante a transição de caçadores-coletores para uma sociedade agrícola fixa — a chamada Revolução Neolítica.
Poço servia a comunidades neolíticas e foi essencial para o abastecimento de água de assentamentos
De acordo com os arqueólogos, o poço pode ter sido construído e utilizado por colonos neolíticos que viviam em pequenas estruturas simples, ainda em processo de transição entre o nomadismo e a vida em assentamentos agrícolas. “Essas pessoas provavelmente já domesticavam animais e viviam de forma semissedentária, mas ainda não tinham construções permanentes sofisticadas”, explicou Peška.
A arqueologia neolítica vem revelando que, mesmo com ferramentas simples, essas comunidades já dominavam técnicas de escavação, construção e reaproveitamento de recursos naturais. Isso reforça a ideia de que a evolução da engenharia humana pode ter ocorrido mais cedo do que se imaginava.
Estado de conservação do poço foi possível graças ao subsolo úmido e conservação com sacarose
O excelente estado de preservação do poço de 7.275 anos se deve ao fato de que a estrutura permaneceu submersa durante séculos, em um ambiente com baixa oxigenação e temperatura estável, o que impediu a decomposição da madeira.
Para manter sua integridade, os especialistas adotaram um processo delicado de conservação em sacarose. As tábuas de madeira foram mergulhadas em uma solução concentrada de açúcar, que penetra nas células e substitui a água gradualmente. A técnica permite manter a forma original da madeira e impede que ela se deforme ao ser exposta ao ar.
A medida é semelhante à usada na preservação de embarcações antigas, como o navio viking encontrado na Noruega e outras peças arqueológicas de madeira datadas da Antiguidade.
Descoberta arqueológica na República Tcheca pode ser marco para a história da engenharia antiga
A descoberta do poço de 7.275 anos na República Tcheca representa um marco para a arqueologia neolítica e a história da engenharia. A estrutura, além de bem preservada, revela técnicas construtivas avançadas, organização social e conhecimento hidrológico surpreendentes para o período.
Se confirmada como a estrutura de madeira mais antiga do mundo, o poço de Ostrov pode alterar significativamente a compreensão atual sobre as capacidades das primeiras sociedades agrícolas europeias. Com a conservação adequada em curso, o achado poderá ser futuramente exposto ao público, tornando-se uma das relíquias mais importantes da pré-história europeia.