Detalhes dos ambiciosos projetos de interligação submarina da Petrobras, com foco no megaprojeto Búzios 11. Analisamos o plano de investimento de US$ 111 bilhões da estatal e seu impacto crucial na cadeia de suprimentos e na indústria naval brasileira.
A Petrobras está impulsionando uma nova e significativa era na exploração de petróleo e gás em águas profundas com seus grandiosos projetos de interligação submarina da Petrobras. O megaprojeto Búzios 11, localizado no prolífico Pré-Sal da Bacia de Santos, é um exemplo emblemático dessa ofensiva tecnológica e de investimento.
Este artigo analisa a fundo esses empreendimentos estratégicos. Abordaremos o contrato bilionário para o sistema submarino do FPSO P-83 em Búzios 11, o robusto plano de investimento de US$ 111 bilhões da estatal para os próximos anos e como essas iniciativas estão moldando o futuro da indústria naval e de serviços offshore no Brasil.
Búzios 11: um mergulho profundo no megaprojeto do Pré-Sal brasileiro
O campo de Búzios, descoberto em 2010, é uma peça central na estratégia da Petrobras. Atualmente o segundo maior campo do Brasil, a projeção da empresa é que Búzios se torne o maior produtor de óleo nacional até 2030, podendo alcançar até 2 milhões de barris por dia, segundo informações da própria Petrobras.
Para o desenvolvimento de Búzios 11, a Petrobras adjudicou à Subsea7 um contrato “super-major” de Sistemas Submarinos de Coleta e Escoamento (SSCE), também conhecido como SURF, no valor de R$ 8,4 bilhões (aproximadamente US$ 1,5 bilhão). Este contrato prevê a interligação de 15 poços (oito produtores e sete injetores WAG) ao FPSO P-83, através de 112 km de risers e flowlines rígidos, em uma lâmina d’água de 2.000 metros, conforme divulgado pela Subsea7 e pela Petrobras. A campanha offshore está programada para iniciar em outubro de 2027.
O FPSO P-83 será o coração de Búzios 11. Trata-se de uma unidade da “Nova Geração” da Petrobras, com capacidade para produzir até 225 mil barris de óleo por dia e 12 milhões de m³ de gás natural. Construído pela Seatrium (anteriormente Keppel), com um custo de Engenharia, Suprimento e Construção (EPC) de US$ 2,8 bilhões, segundo documentos da construtora, o P-83 incorpora tecnologias avançadas como Captura, Uso e Armazenamento Geológico de CO2 (CCUS), Gêmeos Digitais e um sistema de flare fechado. Seu início de produção está previsto para 2027, de acordo com a Petrobras.
O plano de US$ 111 bilhões da Petrobras: combustível para a cadeia offshore
O Plano de Negócios da Petrobras para o quinquênio 2025-2029, conforme divulgado pela empresa, estabelece um investimento total de US$ 111 bilhões, um aumento de quase 9% em relação ao plano anterior. Deste montante, US$ 77 bilhões (69% do total) são destinados à Exploração e Produção (E&P), com uma parcela majoritária de 61% (aproximadamente US$ 47 bilhões) direcionada para ativos no Pré-Sal. Este investimento substancial visa expandir a capacidade produtiva da Petrobras, alcançar metas de produção de longo prazo e garantir a segurança energética do Brasil, reforçando o papel estratégico do Pré-Sal nas operações da companhia.
Revitalizando a indústria nacional: construção naval e serviços em alta
Os projetos de interligação submarina da Petrobras e seu plano de investimentos geral atuam como um forte estímulo para a indústria nacional. A companhia planeja contratar 11 novas unidades FPSOs e aproximadamente 90 embarcações de apoio submarino nos próximos anos, com uma parcela significativa da fabricação de módulos para os FPSOs (estimada em 200.000 toneladas) a ser executada em estaleiros brasileiros, segundo informações da própria Petrobras.
Recentemente, foram formalizados contratos que somam R$ 16,5 bilhões para 12 embarcações de apoio à plataforma (PSVs) com propulsão híbrida, com construção a cargo da Bram Offshore e Starnav Serviços Marítimos em Santa Catarina. A Transpetro, subsidiária de logística da Petrobras, também lançou edital para oito novos navios gaseiros, conforme notícias do setor. No setor de serviços submarinos, grandes players globais como Subsea7, TechnipFMC, Saipem, Allseas e Baker Hughes têm assegurado contratos vultosos para os campos do Pré-Sal.
Conteúdo local e a “Nova Indústria Brasil”: a estratégia da Petrobras para o desenvolvimento
A política de Conteúdo Local (CL) é um instrumento chave na estratégia da Petrobras, embora aplicada de forma matizada e direcionada. Para o FPSO P-83, por exemplo, o requisito mínimo de conteúdo local é de 25%, enquanto para o sistema SURF de Búzios 11, a meta mínima é de 40%, com a expectativa de superar 50% de participação nacional, segundo a diretoria da empresa. Essa diferenciação reflete as capacidades da indústria local em cada segmento.
Novas normas da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), baseadas na Lei nº 15.075/2024, visam aumentar a competitividade da indústria brasileira e garantir maior transparência regulatória no conteúdo local, conforme divulgado pela agência. A Petrobras também demonstra alinhamento com a política “Nova Indústria Brasil”, buscando fomentar a cadeia produtiva nacional e colaborando com a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) em processos de aquisição de tecnologia e inovação, como informado por estas entidades.
Inovação no fundo do mar: as tecnologias submarinas de ponta da Petrobras
A Petrobras tem se destacado pelo pioneirismo na adoção e desenvolvimento de tecnologias submarinas avançadas. Um exemplo é o sistema HISEP® (High-Pressure Separation), tecnologia patenteada pela Petrobras que permite a separação do gás rico em CO2 do óleo diretamente no leito marinho. A primeira implementação comercial está planejada para o projeto Mero 3, em parceria com a TechnipFMC, conforme anunciado pelas empresas. Esta inovação visa aumentar a eficiência produtiva e reduzir emissões.
A estatal também avança em direção a sistemas submarinos totalmente elétricos, que são cruciais para viabilizar a produção em campos distantes da costa. Um acordo de cooperação tecnológica com a Curtiss-Wright Corporation para um sistema de bombeamento submarino com motor encapsulado, com previsão de estar operacional em 2027, é um o nessa direção. Adicionalmente, em colaboração com a TechnipFMC, a Petrobras trabalha no desenvolvimento de Dutos Flexíveis Híbridos (HFP), mais resistentes à corrosão por CO2, um desafio no ambiente agressivo do Pré-Sal.
Novas estratégias e o futuro do mercado submarino no Brasil
Paralelamente aos avanços tecnológicos, a Petrobras está reavaliando suas estratégias de contratação para sistemas SURF. Há indicações, segundo fontes do setor, de que a empresa estuda um modelo alternativo que poderia envolver a contratação direta de grandes embarcações de lançamento de dutos (Pipelaying Vessels – PLVs), em vez de adjudicar contratos EPCI completos (Engenharia, Suprimento, Construção e Instalação) a um único fornecedor. Esta mudança, se concretizada, poderia alterar a dinâmica do mercado de fornecedores.
Adiamentos de licitações importantes para sistemas SURF, como as dos projetos Atapu-2 e Sepia-2, avaliadas em mais de US$ 3 bilhões, podem estar relacionados a esta revisão estratégica ou a desafios na capacidade da cadeia de suprimentos e pressões inflacionárias globais, conforme noticiado. O cenário exige que os stakeholders da indústria, desde grandes contratadas de SURF até empresas navais brasileiras, diversifiquem suas ofertas, foquem em tecnologia e se preparem para modelos de contrato potencialmente mais desmembrados e competitivos.