Apesar do cenário de juros altos em vigor desde 2021, o desempenho da economia brasileira tem se mantido relativamente estável. Veja os principais pontos da sessão na Câmara dos Deputados, que tratou do desempenho econômico em meio à política monetária restritiva.
Apesar do cenário de juros altos em vigor desde 2021, o desempenho da economia brasileira tem se mantido relativamente estável. Durante sessão solene realizada em 26 de março de 2025, na Câmara dos Deputados, o diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, apresentou uma análise técnica da conjuntura macroeconômica. Segundo Galípolo, embora os desafios persistam, há sinais de recuperação gradual e moderada. A sessão ocorreu em comemoração aos 60 anos da criação do Banco Central.
Dados recentes indicam crescimento acima do projetado, segundo IBGE
De acordo com dados divulgados pelo IBGE em fevereiro de 2025, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 2,5% em 2024, superando estimativas anteriores de analistas do mercado. Entre os fatores que contribuíram para esse resultado, destacam-se a redução da taxa de desemprego, que atingiu 7,5% em fevereiro de 2025; o crescimento do setor de serviços, que avançou 2,3% no acumulado de 2024; o aumento da renda real das famílias, apesar da inflação persistente; e a manutenção do consumo interno, ainda que com ritmo moderado. Esses indicadores, no entanto, não anulam os riscos estruturais e conjunturais que continuam afetando a economia, como o endividamento das famílias e a alta no custo do crédito.
Juros elevados seguem como instrumento de controle da inflação, afirma BC
Durante sua fala, Galípolo defendeu a manutenção da taxa Selic em patamar elevado — atualmente em 10,75% ao ano, conforme decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de janeiro de 2025. Ele afirmou que a estrutura da economia brasileira exige uma calibragem mais rígida da política monetária, já que os canais de transmissão da taxa de juros são mais lentos e menos eficientes do que em outras economias. “É necessário manter firmeza para consolidar o controle da inflação, que ainda está acima da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional”, declarou Galípolo, conforme registrado pela Agência Câmara. De fato, o IPCA fechou 2024 em 4,6%, acima da meta de 3%, conforme dados oficiais do IBGE.
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Deputados pedem redução dos juros; Banco Central adota cautela
Durante a mesma sessão, parlamentares, como Luiz Carlos Hauly (Podemos-PR), defenderam a redução imediata da Selic, alegando que os juros altos dificultam a retomada da atividade industrial e o investimento produtivo. Apesar das críticas, Galípolo reiterou a necessidade de prudência. Para ele, qualquer flexibilização da política monetária deve ocorrer somente quando houver garantia de ancoragem das expectativas inflacionárias. Essa postura está alinhada com a visão de instituições como o Banco Mundial e o FMI, que recomendam cautela em contextos de inflação persistente em países emergentes.
Banco Central reforça compromisso com transparência e comunicação pública
Gabriel Galípolo também destacou a importância de melhorar a comunicação institucional, especialmente em um momento de maior exposição pública do Banco Central. Segundo ele, é necessário explicar à sociedade como funciona a política de metas de inflação e o uso dos juros como ferramenta de controle.
Além disso, destacou o impacto de subsídios cruzados e distorções no sistema de crédito sobre a economia e o bem-estar social.
A fala de Galípolo foi reforçada por declarações publicadas no Valor Econômico e na Agência Brasil.
Nelas, ele defendeu uma política de comunicação mais ível e voltada à educação econômica da população.
Reformas estruturais são consideradas fundamentais para eficácia da política monetária
Em entrevista publicada no O Globo em 27 de março de 2025, Galípolo defendeu a adoção de reformas para melhorar a eficiência da política econômica. Entre as propostas destacadas, está a ampliação do o ao crédito por meio de maior concorrência entre os bancos.
Também foi mencionada a formalização das relações de trabalho, com o objetivo de ampliar a base contributiva.
Além disso, propõe-se uma melhor integração entre política fiscal e monetária, a fim de evitar conflitos entre metas econômicas.
Essas reformas, segundo ele, são pré-condições para reduzir de forma sustentável a taxa básica de juros no médio e longo prazos.
Indicadores de 2025 mostram cenário de estabilidade relativa
Mesmo com incertezas externas, como a desaceleração chinesa e tensões geopolíticas, consultorias indicam que os fundamentos da economia brasileira em 2025 seguem estáveis.
Em fevereiro, o IPCA atingiu 4,42% ao ano. O câmbio ficou estável, girando em torno de R$ 4,90 no mesmo período.
Além disso, a Secex apontou superávit comercial de US$ 72 bilhões em 2024. Já o Banco Central registrou reservas internacionais acima de US$ 340 bilhões.
Esses dados oferecem algum grau de previsibilidade, embora o cenário ainda demande atenção às contas públicas e à agenda de reformas.
Crescimento moderado com cautela monetária e foco em reformas
Em resumo, o Banco Central avalia que os setores internos sustentam o crescimento moderado da economia brasileira, enquanto a política monetária ainda restritiva a ancora.
Ao mesmo tempo, a instituição reforça o compromisso com transparência, comunicação clara e estabilidade macroeconômica, sem ceder a pressões políticas por decisões precipitadas. Cortes na Selic, se ocorrerem, dependerão de fatores como controle da inflação, avanço de reformas e credibilidade fiscal.