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BR-319: Por que uma das maiores BRs do Brasil permanece não pavimentada?

Escrito por Carla Teles
Publicado em 23/05/2025 às 21:47
BR-319: Por que uma das maiores BRs do Brasil permanece não pavimentada?
Descubra por que a BR-319, uma estratégica br do Brasil na Amazônia, nunca foi totalmente pavimentada. Entenda os desafios históricos, ambientais e políticos que cercam essa vital ligação terrestre. Foto: Divulgação/DNIT

Entenda os desafios políticos, ambientais e financeiros que há décadas impedem a conclusão da rodovia que liga Manaus ao restante do país, uma verdadeira saga amazônica.

No coração da Amazônia, uma estrada vital para a integração nacional permanece um símbolo de promessas não cumpridas. A BR-319, única ligação terrestre entre Manaus e o resto do Brasil, desafia o progresso há mais de 40 anos. Entre trechos de lama e polêmicas ambientais, a pergunta persiste: por que esta importante br do Brasil nunca foi completamente pavimentada?

O que é a BR-319 e sua importância estratégica como BR do Brasil?

A estratégica rodovia amazônica BR-319 permanece um retrato dos complexos desafios entre desenvolvimento, infraestrutura e preservação ambiental no coração do Brasil. Imagem: Canal Construction Time
A estratégica rodovia amazônica BR-319 permanece um retrato dos complexos desafios entre desenvolvimento, infraestrutura e preservação ambiental no coração do Brasil. Imagem: Canal Construction Time

A BR-319 é uma rodovia federal com aproximadamente 885 km de extensão. Ela conecta Manaus, no Amazonas, a Porto Velho, em Rondônia. Em teoria, seria uma via crucial para o transporte de cargas, pessoas, alimentos e medicamentos. Na prática, a estrada encontra-se em estado precário. Longos trechos simplesmente não funcionam como rodovia.

O traçado da BR do Brasil cruza áreas remotas da floresta amazônica. Corta regiões de alta sensibilidade ambiental, incluindo reservas extrativistas e terras indígenas. É um corredor que, ao mesmo tempo que poderia conectar, isola milhões por falta de infraestrutura básica. O ponto mais crítico é o “trecho do meio”, com cerca de 405 km. Este segmento carece de pavimentação e sinalização. Possui pontes improvisadas de madeira e lamaçais intransitáveis no inverno amazônico. Motoristas enfrentam dias atolados e riscos constantes. O Canal Construction Time relata que viagens que deveriam durar 12 horas podem se estender por quatro ou cinco dias.

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A situação atual da rodovia: Um retrato segmentado

Descrevendo os desafios enfrentados na BR-319, o Canal Construction Time relata sobre o perigo constante: 'nesse trecho e quando caminhões ficam atolados, a única forma de conseguir voltar para a pista seria com ajuda de trator, tornando uma situação bem precária'.
Descrevendo os desafios enfrentados na BR-319, o Canal Construction Time relata sobre o perigo constante: ‘nesse trecho e quando caminhões ficam atolados, a única forma de conseguir voltar para a pista seria com ajuda de trator, tornando uma situação bem precária’.

Atualmente, a BR-319 está longe de ser uma via contínua e funcional. Menos da metade da estrada possui pavimentação regular.

  • Km 0 ao 198 (Manaus – Careiro da Várzea): Este trecho está totalmente asfaltado. É considerado em boa condição para trafegar.
  • Km 198 ao 250 (Lote C): Obras de pavimentação foram iniciadas em 2021. O progresso é lento, com obstáculos que seguraram o avanço.
  • Km 250 ao 655 (Trecho do Meio): Aqui reside o maior desafio. São aproximadamente 405 km sem asfalto contínuo, com terra batida e lama. As condições de tráfego são péssimas, especialmente durante as chuvas.
  • Km 655 ao 885 (até Porto Velho): Os últimos 230 km são asfaltados. A qualidade é variável, e alguns pontos exigem manutenção, mas é um trecho trafegável. Essa descontinuidade no asfalto alimenta o apelido de “rodovia fantasma”.

Histórico da BR-319: Promessas, abandono e tentativas de retomada

 Apesar de seu estado atual precário, a BR-319 já ostentou um ado com asfalto em toda a sua extensão logo após sua inauguração, um marco inicial que contrasta com décadas de desafios.
Apesar de seu estado atual precário, a BR-319 já ostentou um ado com asfalto em toda a sua extensão logo após sua inauguração, um marco inicial que contrasta com décadas de desafios.

A BR-319 nasceu no contexto do regime militar brasileiro, construída entre 1968 e 1973. Foi inaugurada em 1976 pelo presidente Ernesto Geisel. Sua missão era conectar Manaus a Porto Velho por terra, garantindo a soberania nacional na Amazônia. Também visava impulsionar a ocupação e facilitar o escoamento da produção.

Nos primeiros anos, a BR-319 chegou a ser totalmente asfaltada. Contudo, sucumbiu à falta de manutenção, chuvas intensas e solo instável. Na década de 1980, o trecho do meio ficou praticamente intransitável. A estrada foi abandonada. Diversos governos tentaram reativar a BR do Brasil. Em 1996, entrou no plano Brasil em Ação (governo FHC), sem avanços. Em 2007, no governo Lula, foi incluída no PAC, com recuperação de trechos nas extremidades. Em 2021, o governo Bolsonaro iniciou a pavimentação do Lote C. Porém, o projeto enfrentou críticas ambientais e disputas judiciais, resultando na suspensão das obras em 2024 por falhas no licenciamento e ausência de consulta a povos indígenas.

Hoje, a discussão ressurge com força. O governo federal incluiu a rodovia no Novo PAC. Propôs um modelo inédito de fiscalização ambiental. A principal barreira continua sendo o licenciamento ambiental, devido às unidades de conservação e terras indígenas. Ambientalistas temem aumento do desmatamento e crimes ambientais. Apesar disso, sua reativação poderia baratear o transporte para Manaus e integrar o norte ao país.

Esse não é um caso isolado, outras BRs do Brasil estão em condições precárias no Brasil

Conforme detalhado pelo Canal Construction Time, a BR-156 estende-se por cerca de 800 km, ligando a capital Macapá ao Oiapoque, no extremo norte do Brasil, na fronteira com a Guiana sa.
Conforme detalhado pelo Canal Construction Time, a BR-156 estende-se por cerca de 800 km, ligando a capital Macapá ao Oiapoque, no extremo norte do Brasil, na fronteira com a Guiana sa.

A BR-319 não está sozinha em sua precariedade. O Brasil possui outras rodovias em situação similar, ou até pior. A BR-156, no Amapá, liga Macapá a Oiapoque. Dos seus cerca de 800 km, aproximadamente 60% são asfaltados. O restante vira lama, isolando cidades.

 Destacada pelo Canal Construction Time, a BR-242, com seus mais de 2300 km e rota crucial para o escoamento da produção do Matopiba ao Centro-Oeste, enfrenta o contrassenso de possuir trechos inteiros sem asfalto, apesar de sua fundamental importância econômica para o Brasil.
Destacada pelo Canal Construction Time, a BR-242, com seus mais de 2300 km e rota crucial para o escoamento da produção do Matopiba ao Centro-Oeste, enfrenta o contrassenso de possuir trechos inteiros sem asfalto, apesar de sua fundamental importância econômica para o Brasil.

Outro exemplo é a BR-242, que liga o oeste da Bahia ao Mato Grosso. Com mais de 2.300 km, é essencial para o agronegócio da região do Matopiba. Mesmo com sua importância econômica, trechos inteiros seguem sem asfalto, causando prejuízos. Assim como a BR-319, a BR-242 vive de promessas não cumpridas. Enquanto a BR-319, uma estratégica br do Brasil, enfrenta questões ambientais complexas, a BR-242 sofre com aparente abandono político, mesmo sendo vital para a economia.

Essas comparações mostram um problema maior: uma infraestrutura rodoviária marcada por abandono e falta de planejamento. O que une a BR-319, BR-156 e BR-242 é o cenário de terem sido pensadas para integrar o país, mas acabaram deixadas para trás.

Carla Teles

Produzo conteúdos diários sobre tecnologia, inovação, construção e setor de petróleo e gás, com foco no que realmente importa para o mercado brasileiro. Aqui, você encontra oportunidades de trabalho atualizadas e as principais movimentações da indústria. Tem uma sugestão de pauta ou quer divulgar sua vaga? Fale comigo: [email protected]

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