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Brasil bate recorde histórico na exportação de petróleo, mas falta de refinarias obriga país a importar combustíveis

Publicado em 06/05/2025 às 19:22
Brasil exporta mais petróleo do que consome pela 1ª vez e supera soja como principal item da balança comercial.
Brasil exporta mais petróleo do que consome pela 1ª vez e supera soja como principal item da balança comercial. Imagem: IA

Brasil exporta mais petróleo do que consome pela 1ª vez e supera soja como principal item da balança comercial.

Pela primeira vez, o Brasil exportou mais petróleo do que consumiu internamente em 2024, fazendo com que o óleo bruto se tornasse o item mais exportado do país, superando até a tradicional liderança da soja.

O avanço, no entanto, escancara problemas estruturais no setor de refino, obrigando o país a importar gasolina e diesel para atender a demanda interna, mesmo sendo um dos maiores produtores globais.

Petróleo lidera exportações brasileiras e supera soja pela primeira vez

O ano de 2024 marcou um feito inédito na história econômica do Brasil: o país exportou mais petróleo do que consumiu internamente.

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De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), as exportações de óleo bruto e minerais totalizaram US$ 44,8 bilhões (cerca de R$ 260 bilhões), um crescimento de 5,2% em relação ao ano anterior.

Com isso, o petróleo representou 13,3% de todas as exportações brasileiras, ultraando a soja, que ficou com 12,7%.

O resultado foi comemorado por líderes do setor de óleo e gás. “A chegada do petróleo no topo da pauta de exportação representa um marco significativo”, afirmou Magda Chambriard, presidente da Petrobras.

Exportação crescente de Petróleo evidencia gargalos no refino nacional

Apesar do desempenho positivo nas exportações, o volume crescente de petróleo enviado ao exterior está diretamente ligado às limitações do parque de refino brasileiro.

Sem capacidade instalada para processar toda a produção nacional, o Brasil exporta atualmente 52,1% do petróleo que extrai — mais da metade da produção total, conforme dados do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (Ineep).

Esse petróleo, refinado fora do país, retorna parcialmente como gasolina e diesel.

Mesmo com posição de destaque entre os dez maiores produtores mundiais, o Brasil ainda precisa importar cerca de 10% da gasolina e até 25% do diesel consumido internamente.

Importação de combustíveis impõe perdas econômicas e estratégicas

A contradição entre a exportação de petróleo bruto e a importação de derivados preocupa especialistas.

Em entrevista ao Brasil de Fato, Mahatma dos Santos, diretor técnico do Ineep, o Brasil desperdiça oportunidades ao não refinar internamente seu petróleo.

“Todo o petróleo produzido no Brasil deveria ser refinado aqui para atender nossas necessidades, estimulando nossa indústria, nossa infraestrutura de distribuição, gerando empregos. O excedente poderia ser exportado na forma de combustível, com maior valor agregado”, defendeu.

Santos reconhece que a exportação gera receitas rápidas para empresas e governos, além de trazer dólares à economia.

Porém, alerta que esses benefícios são de curto prazo e não contribuem para o avanço estrutural do país.

“Precisamos mudar a lógica primária da pauta de exportação brasileira, que extrai o produto bruto e o exporta para que seja industrializado fora”, afirmou.

Pré-sal e o papel da Petrobras no crescimento da produção

A expansão da produção de petróleo nacional está diretamente ligada às descobertas feitas pela Petrobras na camada do pré-sal.

Segundo Leandro Lanfredi, diretor do Sindicato dos Petroleiros do Rio de Janeiro (Sindipetro-RJ), essas descobertas, iniciadas em 2006, quase triplicaram a produção brasileira em duas décadas.

De 456 milhões de barris anuais em 2000, o país saltou para 1,23 bilhão em 2024 — um aumento de 173%. Hoje, 80% da produção nacional vem do pré-sal. A Petrobras teve papel fundamental nessa trajetória e reforçou a soberania energética do país, destacou Lanfredi.

Porém, ele também chama atenção para o fato de que a estatal, embora controlada pelo governo, possui maioria de acionistas privados, muitos deles estrangeiros.

Para esses investidores, o foco está no lucro rápido com exportação, não no refino nacional, revelou Lanfredi.

Paralisações e privatizações reduziram a capacidade de refino

A ausência de investimento em novas refinarias nos últimos anos tem raízes políticas e judiciais. A operação Lava Jato interrompeu projetos importantes da Petrobras na área de refino.

Além disso, durante o governo Bolsonaro, quatro refinarias foram privatizadas, reduzindo ainda mais a capacidade nacional de processamento.

Eric Gil Dantas, economista do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), aponta que o governo Lula retomou investimentos estratégicos, com obras em andamento na Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, e na Refinaria de Paulínia (Replan), em São Paulo.

Para a Petrobras, essas ampliações seriam suficientes para equilibrar o déficit de refino no país.

Embora haja esforços para recuperar a capacidade de refino, há dúvidas sobre sua viabilidade de longo prazo diante das mudanças no padrão de consumo. “É possível zerar o déficit haja vista que a eletrificação da frota brasileira está crescendo em um nível maior do que o esperado”, analisou Dantas.

Essa transição energética traz um dilema importante: ainda vale a pena investir pesado em refinarias, considerando que o pico de demanda por petróleo pode ocorrer por volta de 2040?

Especialistas divergem sobre o futuro do refino no Brasil

Para Pedro Faria, economista especializado em energia, os investimentos em refinarias são de alto custo e retorno demorado.

“Estima-se que o pico de demanda por petróleo no mundo se dará em 2040. Investir em refinaria quando a demanda do que é produzido ali tende a cair é um dilema”, pontuou. “São bens de capital caríssimos que podem não ser úteis no futuro.”

Marcelo Simas, professor de Geopolítica das Energias da UFRJ e FGV, corrobora a preocupação: “O investimento em refino é extremamente caro e seu retorno vem em 25 ou 30 anos. Uma nova refinaria iniciada hoje teria retorno apenas em 2050 ou 2055, quando talvez já não haja mais demanda para ela.”

O desempenho do petróleo brasileiro em 2024 revela um setor em profunda transformação.

Enquanto o país colhe frutos imediatos com exportações recordes, também enfrenta dilemas estruturais sobre sua independência energética e o papel que deseja desempenhar no cenário global de transição energética.

Com os preços da gasolina sujeitos às oscilações internacionais e a dependência de importações, o debate sobre o fortalecimento do refino nacional permanece urgente e estratégico.

O desafio é equilibrar ganhos econômicos de curto prazo com uma visão de longo prazo que priorize a soberania, a geração de emprego e o desenvolvimento industrial.

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Andriely Medeiros de Araújo

Sou graduanda e atuo como redatora no Click Petróleo e Gás, onde escrevo sobre vagas, concursos, cursos, indústria e temas relacionados. Com cerca de dois anos de experiência na área, já publiquei mais de 3.500 artigos em diversos sites e, diariamente, me dedico a produzir conteúdos informativos e verídicos. Tenho uma grande paixão pela escrita, leitura e cinema.

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