Contratação em massa de professores temporários revela instabilidade no ensino público e fragiliza vínculo entre docentes e alunos, segundo dados do Censo 2024
O retrato da educação pública brasileira continua marcado pela incerteza. Pela terceira vez consecutiva, o número de professores temporários superou o de concursados nas redes estaduais do país. Os dados são do Censo da Educação Básica de 2024, divulgado nesta quarta-feira (9) pelo Inep, e acenderam um alerta entre educadores e especialistas.
Contratação temporária virou regra, não exceção
Ao todo, 331.971 profissionais foram contratados de forma temporária, contra 331.440 efetivos. Isso representa mais de 50% do corpo docente estadual formado por professores temporários, que, em muitos casos, não têm plano de carreira, bônus por tempo de serviço ou qualquer estabilidade.
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“Para o gestor público, é ótimo: uma massa de trabalhadores que permanece no salário base, sem progressão”, critica João Batista dos Santos, pesquisador da UERJ. “Mas, para a educação, isso é devastador.”
Condições precárias e rotatividade alta
Os professores temporários enfrentam jornadas quebradas, contratos instáveis e licenças mais curtas. Quando o vínculo chega ao fim, a renda simplesmente desaparece. E, para sobreviver, muitos dão aulas em várias escolas ao mesmo tempo, o que compromete a dedicação, o vínculo com os alunos e até a formação continuada.
“É a famosa dança das cadeiras. Mal os alunos se acostumam com um professor, ele vai embora e entra outro”, afirma um coordenador de rede pública em Santa Catarina — estado onde 76% dos professores são temporários.
Quais estados lideram em contratos temporários?
Entre as 27 redes estaduais, 14 possuem mais professores temporários do que efetivos. O problema é mais grave nos seguintes estados:
- Acre – 79,28%
- Santa Catarina – 75,96%
- Mato Grosso – 74,88%
- Espírito Santo – 73,22%
- Mato Grosso do Sul – 69,20%
- Distrito Federal – 60,84%
- Rio Grande do Sul – 60,45%
- Ceará – 60,03%
Prova Nacional Docente pode virar o jogo
Segundo Gabriel Corrêa, da ONG Todos Pela Educação, a solução pode estar na recém-criada Prova Nacional Docente. “Esse concurso unificado vai facilitar a contratação de efetivos com critérios mais sólidos e justos. A expectativa é que isso se reflita no Censo de 2026 e 2027”, explica.
A prova, que será aplicada ainda neste ano, permitirá que um mesmo candidato concorra a vagas em diferentes estados ou municípios, aumentando a eficiência e a transparência nos processos seletivos.
Professores merecem mais que contratos temporários
A contratação de professores temporários é necessária em situações emergenciais, como licenças ou aposentadorias. Mas transformar isso em modelo dominante, como mostra o Censo, é precarizar uma das profissões mais essenciais para o país.
Se o Brasil quer uma educação pública forte, precisa começar valorizando quem está na sala de aula — com estabilidade, carreira e respeito. Porque não dá para construir futuro com contratos que vencem no fim do ano.