1. Início
  2. / Automotivo
  3. / Brasil vira alvo estratégico da China: por que marcas como GWM e BYD estão assumindo fábricas de Ford e Mercedes?
Tempo de leitura 5 min de leitura Comentários 2 comentários

Brasil vira alvo estratégico da China: por que marcas como GWM e BYD estão assumindo fábricas de Ford e Mercedes?

Escrito por Alisson Ficher
20/05/2025 às 12:24
Atualizado 21/05/2025 às 12:38
Montadoras chinesas ocupam antigas fábricas da Ford e Mercedes e redesenham o futuro automotivo do Brasil com bilhões em investimentos.
Montadoras chinesas ocupam antigas fábricas da Ford e Mercedes e redesenham o futuro automotivo do Brasil com bilhões em investimentos.

Marcas chinesas como GWM, BYD e GAC Motor transformam fábricas desativadas da Ford, Mercedes e Mitsubishi em polos produtivos e tecnológicos, reacendendo o setor automotivo nacional com promessas de empregos, inovação e exportações em meio a um cenário competitivo.

O Brasil tem se tornado uma peça-chave no tabuleiro global da indústria automotiva chinesa.

Em meio a um cenário de reconfiguração industrial, gigantes como GWM, BYD, Geely e GAC Motor estão ocupando espaços deixados por montadoras tradicionais, como Ford e Mercedes-Benz, e redesenhando o futuro da mobilidade no país.

As movimentações não são pontuais — envolvem bilhões de reais, geração de empregos e um novo capítulo para fábricas que já haviam perdido sua relevância.

Dia
ATÉ 90% OFF
💘 Dia dos Namorados Shopee: até 20% OFF com o cupom D4T3PFT! Só até 11/06!
Ícone de Episódios Comprar

A presença chinesa no setor automotivo brasileiro é hoje uma estratégia bem definida, com foco em reindustrialização, nacionalização de componentes e expansão para mercados da América Latina.

A GWM (Great Wall Motors), por exemplo, escolheu reativar a planta da Mercedes-Benz em Iracemápolis (SP).

Enquanto isso, a BYD está convertendo o antigo complexo da Ford, na Bahia, em um centro de produção de veículos elétricos.

A Geely, por sua vez, estabeleceu parceria com a Renault.

E a GAC Motor prepara uma entrada ambiciosa no Centro-Oeste.

Montadoras chinesas ocupam antigas fábricas da Ford e Mercedes e redesenham o futuro automotivo do Brasil com bilhões em investimentos.
Montadoras chinesas ocupam antigas fábricas da Ford e Mercedes e redesenham o futuro automotivo do Brasil com bilhões em investimentos.

GWM inaugura nova era em Iracemápolis

A fábrica da Mercedes-Benz, desativada em Iracemápolis em 2021, será reaberta pela GWM já em julho de 2025.

A montadora chinesa planeja uma produção inicial de 50 mil veículos por ano.

Há intenção clara de aumentar esse número no médio prazo.

Além da produção, a GWM pretende elevar o índice de nacionalização de componentes dos atuais 35% para 60% até 2026, um avanço importante para consolidar raízes no setor produtivo brasileiro.

A marca já contratou 400 funcionários.

Deve chegar ao dobro até dezembro, sinalizando a retomada da atividade econômica na região.

Montadoras chinesas ocupam antigas fábricas da Ford e Mercedes e redesenham o futuro automotivo do Brasil com bilhões em investimentos.
Montadoras chinesas ocupam antigas fábricas da Ford e Mercedes e redesenham o futuro automotivo do Brasil com bilhões em investimentos.

BYD transforma Camaçari em hub de veículos elétricos

A BYD está convertendo a fábrica da Ford, em Camaçari (BA), em um mega complexo dedicado à produção de veículos elétricos, híbridos e baterias.

O investimento total está estimado em R$ 5,5 bilhões.

A capacidade projetada é de até 150 mil unidades por ano.

A operação completa deve iniciar até o final de 2026.

Ela promete gerar até 20 mil empregos diretos e indiretos, revitalizando o polo automotivo baiano.

Conforme a própria empresa já revelou, o objetivo é claro: tornar o Brasil uma plataforma de exportação de elétricos para toda a América Latina.

Montadoras chinesas ocupam antigas fábricas da Ford e Mercedes e redesenham o futuro automotivo do Brasil com bilhões em investimentos.
Montadoras chinesas ocupam antigas fábricas da Ford e Mercedes e redesenham o futuro automotivo do Brasil com bilhões em investimentos.

Geely aposta em parceria com a Renault

Diferente das concorrentes, a Geely optou por uma abordagem colaborativa: tornou-se acionista minoritária da operação brasileira da Renault.

O acordo permitirá à montadora chinesa utilizar parte da capacidade ociosa da fábrica em São José dos Pinhais (PR).

O mercado já apelidou o modelo de “coworking industrial”.

O primeiro modelo da marca a desembarcar no Brasil será o SUV EX5.

Ele ainda será importado da China, com lançamento previsto para julho de 2025.

A produção local, no entanto, está nos planos — e dependerá da aceitação do mercado.

GAC Motor prepara investimento bilionário em Goiás

O movimento mais recente vem da GAC Motor.

Em 2024, a empresa anunciou um investimento de US$ 1,3 bilhão (aproximadamente R$ 7,4 bilhões) para iniciar sua produção nacional em 2026.

A planta será instalada em Catalão (GO), local da atual fábrica da HPE Automotores, que monta veículos da Mitsubishi.

Apesar de a Mitsubishi afirmar que a fábrica não está à venda, a expectativa é que seja replicado o modelo de parceria semelhante ao da Geely com a Renault.

A produção nacional — com exceção das baterias — deve ter início até o segundo semestre de 2026.

A capacidade anual da planta ainda não foi divulgada.

Montadoras chinesas ocupam antigas fábricas da Ford e Mercedes e redesenham o futuro automotivo do Brasil com bilhões em investimentos.

Por que o Brasil virou prioridade?

Segundo o consultor automotivo Milad Kalume, o Brasil permanece entre os dez maiores mercados mundiais em volume de produção e vendas, sendo, portanto, altamente estratégico para quem deseja dominar a América Latina.

No entanto, ele ressalta limitações estruturais.

“Somando as capacidades previstas da GWM e BYD, temos até 200 mil veículos por ano. Isso sem contar Geely e GAC. Mas o mercado brasileiro atual gira em torno de 2,5 milhões de unidades por ano, o que ainda é insuficiente para absorver essa expansão toda”, pontua Kalume.

Outro obstáculo é o ambiente macroeconômico.

Com a taxa básica de juros ainda em 14,75% (dados de maio de 2025) e crédito escasso, o poder de consumo segue limitado.

O consultor explica que, para haver sustentabilidade, o país deveria operar com uma base de 3,5 milhões de unidades por ano.

Esse número só será possível com juros mais baixos, crédito facilitado e maior renda da população.

Logística e estrutura pesaram na escolha chinesa

Além do mercado promissor, as montadoras chinesas optaram por fábricas localizadas em polos industriais consolidados — como São Paulo, Paraná, Bahia e Goiás.

Isso reduz significativamente os custos logísticos e acelera a produção.

Kalume destaca: “É muito mais fácil reativar uma fábrica em Iracemápolis do que construir uma do zero no Acre”.

Montadoras tradicionais se sentem ameaçadas

Nos bastidores, há um clima de apreensão entre as marcas tradicionais.

O avanço chinês é rápido, bem planejado e com modelos modernos, que aliam bom design a preços competitivos.

Mesmo com a alíquota de importação fixada em 35%, os chineses conseguem manter margens agressivas.

Isso preocupa entidades como a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), que discute alternativas para conter esse avanço.

A concorrência acirrada pode forçar as marcas estabelecidas a revisarem suas estratégias, reduzirem preços e modernizarem suas linhas.

Essa competição, embora tensa, pode beneficiar o consumidor final com mais opções tecnológicas e íveis.

No entanto, o sucesso dessa reconfiguração dependerá de uma cadeia produtiva fortalecida, políticas públicas coerentes e da capacidade do Brasil de sustentar uma concorrência global.

A origem dos investidores, nesse contexto, é secundária.

O que importa é se o país conseguirá aproveitar a oportunidade histórica para alavancar sua indústria.

Mas, com tantas promessas, bilhões em investimentos e a retomada de fábricas antes abandonadas, será que o Brasil está realmente preparado para se tornar o novo polo automotivo da América Latina?

Inscreva-se
Entre com
Notificar de
guest
2 Comentários
Mais antigos
Mais recente Mais votado
s
Visualizar todos comentários
Luiz Antonio Rossi
Luiz Antonio Rossi
21/05/2025 05:28

Que venham os chineses, assim os fabricantes tradicionais vão abaixando a bola deles e tratem de vender produtos melhores e com preços menores.

Fernando viana
Fernando viana
21/05/2025 20:23

Aumento de poder de compra, não combina com governo ****…

Alisson Ficher

Jornalista formado desde 2017 e atuante na área desde 2015, com seis anos de experiência em revista impressa, agens por canais de TV aberta e mais de 12 mil publicações online. Especialista em política, empregos, economia, cursos, entre outros temas. Registro profissional: 0087134/SP. Se você tiver alguma dúvida, quiser reportar um erro ou sugerir uma pauta sobre os temas tratados no site, entre em contato pelo e-mail: [email protected]. Não aceitamos currículos!

Compartilhar em aplicativos
2
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x