A construção de Brasília custou 12,3% do PIB em 1959 e transformou o Centro-Oeste, gerando debates sobre seus impactos econômicos.
Quando Brasília foi oficialmente inaugurada em 21 de abril de 1960, o Brasil vivia uma fase de otimismo e ousadia. A ideia de construir uma capital totalmente nova no meio do país não era apenas um projeto urbano — era um símbolo de modernização, integração nacional e visão de futuro. Porém, por trás dessa visão estava um esforço econômico gigantesco. A construção de Brasília demandou investimentos pesados e dividiu opiniões.
Quanto custou construir Brasília?
A obra levou apenas quatro anos, mas o custo foi equivalente a 12,3% do PIB brasileiro de 1959. Para se ter uma noção mais atual, esse percentual representaria, em 2024, cerca de R$ 1,44 trilhão. Isso é mais do que os gastos previdenciários federais projetados para 2025.
Economistas e estudiosos ao longo dos anos tentaram calcular o impacto total da construção. Um deles foi Eugênio Gudin, engenheiro e ex-ministro da Fazenda, que em 1960 estimou o custo em US$ 1,5 bilhão.
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Atualizando esse valor pela inflação norte-americana, o montante chega a US$ 16 bilhões, ou R$ 94 bilhões em valores de hoje.
Construção de Brasília: Um investimento criticado na época
Gudin, um defensor do Estado mínimo e do liberalismo econômico, criticou duramente a obra. Segundo ele, Brasília era um projeto ambicioso demais, com alto custo e benefícios incertos para a população.
Ele não foi o único. O jornalista e economista Ib Teixeira, em artigo publicado em 1996, estimou que o custo real da construção da nova capital, incluindo gastos indiretos e impactos fiscais ao longo dos anos, teria alcançado US$ 155 bilhões — o equivalente a R$ 1,86 trilhão corrigido pela inflação.
A construção que mudou o mapa do Brasil
Apesar das críticas, a construção de Brasília teve efeitos profundos no país. O economista Carlos Eduardo de Freitas destaca que avaliar a obra apenas pelo seu custo direto é um erro.
Segundo ele, a proporção do PIB usada na época mostra o quanto o Brasil se esforçou para realizar esse projeto em um momento em que o país era muito mais pobre. Mas os benefícios de longo prazo foram consideráveis.
O papel do Centro-Oeste no desenvolvimento nacional
A transferência da sede do governo federal para o Centro-Oeste transformou a dinâmica territorial e política do Brasil. Várias rodovias foram construídas para conectar Brasília ao restante do país — como a rodovia Belém-Brasília, com mais de 2.000 km de extensão.
Essas obras de infraestrutura não apenas facilitaram o o à nova capital, como também abriram caminho para a expansão agrícola e populacional em regiões antes isoladas.
Freitas também aponta a criação da Embrapa, em 1973, como um dos desdobramentos importantes dessa reorientação geográfica. A empresa foi essencial para adaptar técnicas agrícolas às condições do Centro-Oeste, ajudando a transformar a região em um dos principais polos do agronegócio nacional.
Um legado que ultraa os números
Muito além do investimento financeiro, a construção de Brasília representou uma mudança de mentalidade. Pela primeira vez, o Brasil voltava os olhos para o seu interior, descentralizando o poder e incentivando o desenvolvimento regional.
Projetada por Lúcio Costa e com monumentos assinados por Oscar Niemeyer, Brasília também se tornou um marco da arquitetura e do urbanismo moderno. Em 1987, foi reconhecida como Patrimônio Mundial pela UNESCO.
Valeu a pena construir Brasília?
Essa pergunta ainda gera debate. Do ponto de vista fiscal, os números são altos. Mas do ponto de vista estratégico e simbólico, Brasília ajudou a moldar um novo Brasil.
Hoje, a capital abriga os principais órgãos dos Três Poderes, sedes diplomáticas, universidades e centros de pesquisa. É também um símbolo de um país que ousou sair do litoral para se reinventar no coração do continente.