Exportações de petróleo do Canadá para a China disparam após sanções dos EUA a Rússia e Venezuela. Entenda como o oleoduto Trans Mountain redefiniu o mercado energético global.
Em meio a tensões comerciais globais e sanções impostas por Washington, o petróleo canadense encontra um novo e influente destino: a China. Dados recentes revelam uma guinada nas exportações do Canadá, impulsionada pela expansão do oleoduto Trans Mountain e pela reconfiguração do mercado internacional de energia.
Petróleo canadense ganha novos rumos após expansão do oleoduto Trans Mountain
O cenário energético mundial a por uma transformação significativa. Desde que a expansão do oleoduto Trans Mountain (TMX) entrou em operação em maio de 2024, o Canadá tem diversificado suas rotas de exportação de petróleo, especialmente em direção à Ásia.
Nesse contexto, a China emergiu como o maior comprador do petróleo bruto canadense transportado por esse oleoduto.
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Segundo dados de rastreamento de navios petroleiros, a média de exportação para a China atingiu cerca de 207 mil barris por dia (bpd) desde que o TMX ou a operar em plena capacidade, em junho do ano ado. Trata-se de um salto expressivo em relação à média de apenas 7 mil bpd registrada na década até 2023.
Canadá dribla sanções e atrai interesse chinês
O redirecionamento do petróleo canadense para o mercado chinês ocorre em meio a um contexto geopolítico conturbado. As sanções comerciais dos Estados Unidos contra o petróleo da Rússia e da Venezuela alteraram os fluxos globais de energia e aumentaram a demanda por fontes alternativas — como o Canadá.
A situação também revela uma certa ironia: enquanto os EUA punem fornecedores tradicionais da China, como Rússia e Venezuela, o Canadá, aliado histórico de Washington, aproveita a brecha no mercado, mesmo com as tensões bilaterais crescentes nos últimos anos, especialmente durante o governo de Donald Trump.
“O novo interesse da China pelo petróleo canadense ocorre em um momento em que a guerra comercial do presidente americano Donald Trump tem prejudicado as relações entre Washington e Ottawa, aliados de longa data”, destaca a análise.
Oleoduto de US$ 34 bilhões impulsiona exportações para além dos EUA
Com custo estimado em US$ 34 bilhões, a expansão do TMX triplicou sua capacidade de transporte para 890 mil barris por dia, permitindo o escoamento do petróleo da província de Alberta — que não tem saída para o mar — para a costa do Pacífico.
Antes da expansão, 90% do petróleo canadense era exportado para os Estados Unidos por meio de oleodutos ao sul. Agora, o TMX facilita o o a mercados como China, Coreia do Sul, Japão, Índia, Brunei e Taiwan.
Apesar de o petróleo estar isento de tarifas americanas no momento, o Canadá busca reduzir sua dependência dos EUA, após episódios em que Washington impôs taxas temporárias sobre o petróleo canadense e até ameaças políticas que abalaram a confiança no parceiro histórico.
A ascensão chinesa como principal cliente do TMX surpreende
A expectativa inicial era de que os Estados Unidos fossem os maiores beneficiários do novo oleoduto. No entanto, os chineses acabaram superando os americanos, que retiraram em média 173 mil bpd do oleoduto no mesmo período.
“A posição de destaque da China como compradora do TMX desafia algumas expectativas iniciais de que os EUA seriam o maior comprador de petróleo bruto enviado pelo oleoduto”, aponta o levantamento.
Segundo Philippe Rheault, diretor do Instituto Chinês da Universidade de Alberta, o comportamento das refinarias chinesas está diretamente ligado ao novo cenário político global:
“Muitas refinarias da China também estão cientes das sanções dos EUA e, por isso, têm tentado diversificar sua produção, afastando-se do petróleo da Venezuela e de outros lugares.”
Além disso, Rheault acrescenta que Pequim está relutante em depender excessivamente do petróleo russo, o que reforça a atratividade do fornecimento canadense.
Exportações crescem e reacendem debate interno sobre infraestrutura
Desde o início das operações ampliadas do TMX, as exportações canadenses de petróleo para países fora dos EUA aumentaram quase 60%, alcançando um recorde anual de 183 mil bpd em 2024. Esse dado reforça o potencial de diversificação do setor energético canadense.
Internamente, esse crescimento reacendeu a discussão sobre a necessidade de construir novos oleodutos e terminais de exportação costeiros. Entretanto, o avanço dessas propostas enfrenta barreiras regulatórias, políticas e financeiras significativas.
Fonte: Petronotícias