Cientistas estudam formas de aumentar as temperaturas em Marte de forma rápida. Estratégias podem acelerar a adaptação do planeta à presença humana
Levar a vida humana para Marte sempre foi um sonho distante. Mas um novo estudo apresentou uma proposta concreta para tornar o planeta vermelho mais parecido com a Terra. A ideia é usar aerossóis em nanoescala, feitos de grafeno e alumínio, para aquecer a atmosfera marciana e iniciar um processo que, no futuro, pode permitir a presença humana por lá.
O trabalho foi liderado por Edwin S. Kite, professor associado da Universidade de Chicago e membro da equipe do rover Curiosity. A pesquisa foi apresentada na Conferência de Ciência Lunar e Planetária de 2025.
Também participaram cientistas da Northwestern University, do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA e de outras instituições.
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O objetivo da pesquisa
A missão de longo prazo é permitir que humanos vivam em Marte. Para isso, é necessário aquecer o planeta, derreter o gelo e engrossar a atmosfera. O estudo apresentado propõe iniciar esse processo com a liberação de aerossóis que absorvem e espalham luz no espectro infravermelho médio.
Esses aerossóis, compostos por nanodiscos de grafeno e nanorods de alumínio, seriam lançados de duas fontes localizadas na superfície do planeta.
A intenção é que eles se espalhem globalmente em até um ano, aumentem a temperatura da atmosfera em mais de 35 kelvin em uma década e iniciem o derretimento das calotas polares.
Como funciona a terraformação
Terraformar Marte é um processo complexo. De forma simplificada, envolve três etapas principais: aquecer a atmosfera, engrossá-la e derreter o gelo das calotas e do permafrost.
A liberação de gases como dióxido de carbono ajudaria a aquecer ainda mais o planeta, criando um ciclo contínuo de aumento de temperatura e espessamento atmosférico.
O aquecimento causado pelos aerossóis resultaria na liberação de água líquida e vapor na atmosfera, além de liberar CO₂ armazenado nas calotas polares. Isso intensificaria o efeito estufa local, ampliando o aquecimento.
Estudo usa simulações avançadas do ambiente de Marte
Para desenvolver o estudo, a equipe utilizou o modelo Mars Weather Research and Forecasting (MarsWRF) e um modelo de circulação geral para rastrear as plumas de aerossóis. Essas simulações incluíram também poeira natural, lançada por tempestades sazonais.
As partículas testadas absorvem e espalham luz em comprimentos de onda específicos, em torno de 10 e 20 micrômetros. Isso contribui para o aumento de temperatura da atmosfera superior de Marte, criando condições favoráveis para transformações climáticas em grande escala.
Resultados indicam aquecimento significativo
Segundo os modelos, os aerossóis poderiam aquecer a atmosfera de Marte em mais de 35 kelvin ao longo de 10 anos. Isso seria suficiente para iniciar o derretimento de gelo nos polos, liberando mais água e gases, e ajudando a engrossar a atmosfera.
O aquecimento também dobraria a circulação atmosférica, criando padrões semelhantes aos da Terra, com ar quente subindo no equador e descendo nas regiões polares. Isso geraria ventos mais fortes próximos à superfície.
Temperatura de Marte: aerossóis como alternativa viável
Outras propostas de terraformação já foram feitas. Algumas envolvem espalhar material escuro sobre o gelo polar, outras sugerem o uso de clorofluorcarbonetos (CFCs) ou a importação de gases de outros planetas, como Vênus ou Titã.
Essas alternativas, porém, demandam muitos recursos e tecnologias ainda distantes da realidade. Já os aerossóis representam uma solução mais ível e com potencial de aplicação prática, segundo os pesquisadores.
No entanto, ainda existem dúvidas importantes. Entre elas, como os aerossóis se dispersariam, por quanto tempo permaneceriam ativos e se o local de liberação afetaria o resultado. Também é preciso entender melhor como o aquecimento interfere na dinâmica do clima marciano.
Estudos anteriores serviram de base
O novo trabalho se baseia em um estudo anterior liderado por Samaneh Ansari, da Northwestern University. Nele, a equipe já havia testado o uso de nanopartículas fabricadas com recursos do próprio planeta para gerar aquecimento.
Agora, o estudo mais recente amplia essa abordagem e combina diferentes simulações para analisar os efeitos em escala planetária. Os resultados comprovaram ser possível controlar o aquecimento alterando o tamanho das partículas, abrindo espaço para ajustes conforme a necessidade.
Desafios e perspectivas
Apesar dos avanços, ainda há obstáculos. É necessário evitar que as partículas se aglomerem e incluir o ciclo da água de Marte nos modelos. Também é fundamental manter a liberação de aerossóis constante até que a atmosfera seja densa o suficiente para reter calor de forma autônoma.
Mesmo assim, a equipe considera que o uso de aerossóis projetados é um primeiro o promissor. Essa técnica pode ser o início de um processo maior que, no futuro, controle a temperatura de Marte e transforme o planeta em um lugar habitável.
A pesquisa não representa uma solução imediata, mas indica que é possível iniciar a terraformação com recursos e tecnologias em desenvolvimento. Esse é um avanço importante nos planos de colonização do planeta vermelho nas próximas décadas.
A proposta apresentada na conferência mostra que, pela primeira vez, uma técnica para diminuir a temperatura de Marte apresenta resultados viáveis em simulações científicas.
Com informações de Universe Today.