China lidera a construção naval global com mais de 70% dos pedidos. Entenda como superou a Coreia do Sul e domina a produção de navios nos estaleiros.
A China assumiu a liderança mundial na construção naval, superando a Coreia do Sul em volume de produção e novos pedidos. Com estaleiros de grande porte espalhados por diversas regiões costeiras e uma política industrial voltada à exportação, o país asiático responde por mais de 70% dos pedidos globais de novos navios, consolidando sua posição como principal fabricante do setor.
Estaleiros chineses concentram maioria dos contratos globais
Dados divulgados em janeiro de 2025 por consultorias marítimas internacionais apontam que os estaleiros da China registraram mais de 46 milhões de toneladas brutas compensadas (CGT) em encomendas ao longo de 2024. Isso representa aproximadamente 74% do volume total de pedidos feitos no mundo inteiro. Em comparação, a Coreia do Sul, que por décadas liderou o setor com empresas como HD Hyundai e Samsung Heavy Industries, ficou com cerca de 15% do mercado.
A mudança de liderança não ocorreu por acaso. O governo chinês investiu intensamente na modernização da indústria naval a partir da década de 2010, unificando estaleiros estatais e oferecendo subsídios para aumentar a competitividade internacional. A fusão entre as corporações CSSC (China State Shipbuilding Corporation) e CSIC (China Shipbuilding Industry Corporation) criou o maior conglomerado naval do mundo, com capacidade para atender simultaneamente dezenas de pedidos de navios de grande porte.
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Produção de navios em escala industrial
A China ultraou os concorrentes em número absoluto de embarcações entregues. Segundo dados do setor, os estaleiros chineses concluíram a construção de cerca de 1.700 navios por ano, abrangendo desde petroleiros e graneleiros até navios de contêineres e embarcações especializadas.
Entre os estaleiros com maior capacidade estão o Jiangnan Shipyard, o Hudong-Zhonghua, o Dalian Shipbuilding Industry Company (DSIC) e o Guangzhou Shipyard International. Juntos, esses complexos industriais mantêm centenas de linhas de produção ativas, com prazos médios de entrega que variam de dois a quatro anos, dependendo da complexidade do projeto.
Ao contrário da Coreia do Sul, que foca em navios de maior valor agregado e tecnologia embarcada, a China prioriza o volume. Isso inclui contratos de embarcações padronizadas que podem ser construídas em série com rapidez, reduzindo o custo por unidade e atraindo mais compradores internacionais.
Tecnologia e mão de obra impulsionam o setor chinês
A ascensão da China na construção naval também está relacionada ao uso intensivo de tecnologia e à disponibilidade de mão de obra em larga escala. Robôs industriais, softwares de modelagem 3D e sistemas integrados de gerenciamento de produção já fazem parte da rotina dos principais estaleiros chineses.
Com forte integração entre pesquisa e desenvolvimento, universidades chinesas trabalham em parceria com estaleiros para acelerar processos e testar materiais mais leves e resistentes. A digitalização permite que grandes embarcações sejam projetadas e encomendadas virtualmente, agilizando o início da produção física.
Outro fator que favorece a China é a capacidade de adaptação às exigências do mercado internacional. Os estaleiros têm se especializado em navios ecológicos, como os transportadores de GNL (gás natural liquefeito), embarcações movidas a metanol e projetos compatíveis com as novas normas ambientais da Organização Marítima Internacional (IMO).
Coreia do Sul mantém qualidade, mas perde em volume
Mesmo com a queda na participação global, a Coreia do Sul ainda é referência em qualidade e inovação na construção naval. Os estaleiros da HD Hyundai e da Samsung Heavy Industries continuam a produzir navios sofisticados, como plataformas offshore e embarcações militares de alto desempenho. No entanto, o custo mais elevado da mão de obra e o número limitado de estaleiros ativos reduzem a competitividade frente à produção chinesa em massa.
Atualmente, os estaleiros sul-coreanos entregam cerca de 110 navios por ano, com destaque para grandes transportadores de GNL, navios de cruzeiro e embarcações militares. Em termos de tecnologia embarcada, a Coreia ainda lidera em segmentos específicos, como sistemas automatizados de navegação e soluções integradas de energia.
Participação no mercado internacional
A concentração de pedidos na China também reflete mudanças nas cadeias logísticas e na geopolítica marítima. Com o crescimento da frota chinesa e o aumento da influência comercial do país, empresas de navegação têm preferido fazer encomendas diretamente com estaleiros locais. O o facilitado a financiamento estatal e a política cambial favorável contribuem para tornar as propostas chinesas mais atrativas do que as concorrentes.
Estaleiros europeus, japoneses e até mesmo sul-coreanos têm perdido espaço diante do avanço da China, mesmo mantendo reputação consolidada. O novo cenário coloca pressão sobre fabricantes tradicionais, que agora precisam buscar nichos mais técnicos ou personalizados para manter sua relevância.
Expectativas para os próximos anos
A expectativa é que a China mantenha a liderança global na construção naval pelos próximos anos, dado o ritmo atual de produção e a quantidade de pedidos em carteira. De acordo com estimativas de mercado, o país detém atualmente mais da metade de todas as encomendas em andamento no mundo.
Para a Coreia do Sul, o desafio será equilibrar a manutenção da qualidade reconhecida internacionalmente com uma maior eficiência operacional, a fim de conter a perda de espaço frente aos estaleiros chineses. Já para compradores internacionais, a ampla oferta chinesa representa a possibilidade de renovação de frota com menor custo e prazos de entrega competitivos.