Às margens do Rio São Francisco, entre Alagoas e Sergipe, uma das maiores obras de engenharia do Brasil impressiona por suas dimensões e capacidade energética. A Usina Hidrelétrica de Xingó é mais que uma barragem: é uma estrutura monumental com papel essencial no abastecimento e geração de energia do país.
Localizada na divisa entre Alagoas e Sergipe, a Usina de Xingó, ou Usina Hidrelétrica de Xingó, é uma das maiores e mais importantes do Brasil.
Construída para gerar energia, facilitar a navegação e abastecer a população, a estrutura impressiona pelo tamanho e pela capacidade técnica.
Ela está instalada no Rio São Francisco, próxima ao município de Piranhas, e combina engenharia de grande porte com papel estratégico na matriz elétrica brasileira.
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Unidades de geração da usina de Xingó estão em Canindé do São Francisco (SE)
Em 2023, o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, por unanimidade, que as unidades geradoras de energia elétrica da Usina Hidrelétrica de Xingó estão localizadas no município de Canindé de São Francisco, em Sergipe.
A decisão do STF foi tomada no julgamento da Ação Cível Originária (ACO) 631, proposta por Canindé de São Francisco. O município pedia o reconhecimento formal de que as estruturas principais da hidrelétrica estariam em seu território.
O relator do caso, ministro Edson Fachin, acolheu o pedido com base em laudo técnico elaborado pelo Exército Brasileiro.
De acordo com o documento, a linha de maior profundidade do leito do Rio São Francisco — chamada de talvegue — marca o limite entre os dois municípios.
Segundo o laudo, as unidades geradoras, também conhecidas como casa de força, estão inteiramente posicionadas do lado sergipano do rio. Já o vertedouro da usina, por onde a água excedente é liberada, está situado em território alagoano.
Construção marcada por pausas e retomadas
Os estudos iniciais sobre a construção da barragem começaram ainda na década de 1950. Mesmo assim, os contratos só foram assinados em 1982.
As obras começaram em março de 1987, mas foram interrompidas em setembro de 1988 devido a uma crise de dívida que afetou o financiamento.
A construção foi retomada em 1990 e, em 1994, a barragem foi finalizada.
No dia 10 de junho de 1994, o enchimento do reservatório teve início. Poucos meses depois, em 15 de novembro, o volume de água alcançou a cota máxima de 130 metros.
O primeiro gerador entrou em operação em dezembro do mesmo ano. Os demais foram ativados entre 1995 e 1997, totalizando seis unidades em funcionamento.
Dimensões que impressionam
A barragem de Xingó é do tipo enrocamento com face de concreto. Tem 830 metros de comprimento e 140 metros de altura.
Seu volume total de enchimento chega a 12,9 milhões de metros cúbicos, composto principalmente de rochas de granito. Para sustentar o lago, além da barragem principal, foram construídos quatro diques auxiliares.
O reservatório formado tem capacidade para armazenar 3,8 bilhões de metros cúbicos de água e cobre uma área de 60 km².
A bacia hidrográfica de captação da usina é ainda maior: 630.000 km². O vertedouro da barragem conta com 12 comportas e a uma vazão de até 33 mil m³ por segundo.
Potência e estrutura da Usina de Xingó impressionam pelo tamanho e capacidade
A Usina Hidrelétrica de Xingó se destaca como uma das maiores do país, com estrutura robusta e potência elevada.
Barragem e vertedouro: A barragem tem altura máxima de 140 metros. Na margem esquerda, está o vertedouro com 12 comportas, capaz de liberar até 33 mil metros cúbicos de água por segundo.
Infraestrutura completa: Na margem direita, estão os muros, a tomada d’água, condutos forçados, casa de força, canal de restituição e diques. A crista total da barragem alcança 3.623 metros de comprimento.
Geração de energia: A usina opera com seis unidades geradoras de 527 mil kW cada, somando 3.162.000 kW de potência instalada. O projeto prevê mais quatro unidades futuras.
Transmissão de energia: A energia é elevada de 18 kV para 500 kV por 18 transformadores monofásicos de 185 MVA cada.
O impacto da construção
A construção da Usina Hidrelétrica de Xingó, embora tenha sido estratégica para a geração de energia no Nordeste, causou danos profundos.
Um dos mais marcantes foi o desaparecimento do povoado Cabeço, localizado no Baixo São Francisco, em Sergipe.
O local, que chegou a abrigar 120 casas e uma comunidade tradicional de pescadores, foi engolido pelo mar no fim dos anos 1990.
O impacto não foi apenas físico. Famílias inteiras perderam suas casas, sua história e sua base de sustento.
Acordo milionário após duas décadas
Como mostrou a reportagem da DW, no ano ado, a Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf) firmou um acordo com os moradores do antigo povoado.
O valor total pago foi de R$ 40 milhões, divididos entre os 220 moradores. Cada um recebeu R$ 153 mil líquidos, já descontados os honorários advocatícios.
A luta começou em 2003, quando os moradores entraram com ação na Justiça Federal. A indenização chegou duas décadas depois, em um momento simbólico.
Muitos dos moradores atingidos já estavam em idade avançada. Trinta e nove deles faleceram antes do resultado e mais três entre a decisão e o pagamento. Nestes casos, o valor foi destinado aos herdeiros.
O acordo foi proposto pela própria Chesf, diante do cenário de privatização da Eletrobras, principal acionista da companhia.
Causas reconhecidas na Justiça
O processo judicial revelou que a construção da hidrelétrica provocou alterações significativas no curso do rio São Francisco.
Perícias apresentadas mostraram que a barragem reduziu a vazão do rio e diminuiu o volume de sedimentos que alimentavam o delta. Com isso, aumentou-se a vulnerabilidade da região à erosão costeira.
Essa mudança afetou diretamente o povoado do Cabeço, tornando-o vulnerável ao avanço do mar.
Além disso, a salinização da água e a diminuição das lagoas naturais impactaram também o plantio de arroz e a reprodução de espécies nativas. A Justiça Federal reconheceu, em 2022, a responsabilidade da Chesf pelos danos causados.
O estudo ambiental da hidrelétrica, na época da obra, não considerou os efeitos na foz do rio, onde estava localizado o povoado.
A Chesf chegou a alegar que a erosão já existia e que seguiu todos os procedimentos legais. Mas a decisão judicial apontou que a construção de Xingó teve papel fundamental na destruição do povoado.
Indenização coletiva e memória apagada
Além do acordo individual, duas ações coletivas também foram movidas. Uma delas foi proposta pela Associação Comunitária do Cabeço e trata da destruição do patrimônio da comunidade, como igrejas, escola, delegacia e cemitério.
A outra, movida pela Associação de Pescadores, trata do impacto na atividade pesqueira.
O único vestígio ainda visível do antigo Cabeço é um farol, construído entre 1870 e 1873. O restante da comunidade desapareceu sob as águas.
O acordo representa não apenas uma compensação financeira, mas um reconhecimento oficial da dor, da perda e da resistência de uma população inteira.
A geração de energia fica do lado sergipano, mais precisamente no município de Canindé do São Francisco.
Obrigado pelo comentário. Bom ponto, atualizei a matéria.
Conheci esta obra há 1 mês, fiquei hospedado em Piranhas, e navegamos pelo Rio São Francisco e no lago formado pela barragem.
Alem dos aspectos relativos a usina, outro fator interessante na região é a estrutura turistica, com diversas pousadas, muitas embarcações e pontos de apoio espalhados pelo Rio.
Bom ponto. A região tem uma estrutura boa?