Oceanix Busan é o primeiro projeto de cidade flutuante sobre o mar apoiado pela ONU. Planejado para abrigar 20 mil pessoas, simboliza o futuro das cidades sustentáveis — mas enfrenta desafios técnicos e políticos que atrasam sua implementação.
Diante do avanço das mudanças climáticas e da elevação do nível do mar, o mundo busca alternativas inovadoras para abrigar populações em áreas costeiras vulneráveis. Entre as propostas mais ambiciosas está a cidade flutuante de Oceanix Busan, desenvolvida em parceria com o governo da Coreia do Sul e apoiada oficialmente pela ONU-Habitat. Com capacidade planejada para acomodar até 20 mil moradores, esse projeto de cidade flutuante se apresenta como um modelo revolucionário de infraestrutura urbana sobre o mar.
Anunciado com entusiasmo global, o projeto propõe não apenas habitação, mas também uma reconfiguração completa do modo como as cidades sustentáveis do futuro podem funcionar. No entanto, embora tenha causado comoção na imprensa internacional e em eventos como o COP27, o Oceanix Busan avança a os lentos, enfrentando uma série de desafios estruturais, regulatórios e políticos que revelam a complexidade de construir uma cidade sobre as águas.
Oceanix Busan: o conceito por trás da primeira cidade flutuante sustentável do mundo
Apresentado oficialmente em 2019 e detalhado em 2022, o Oceanix Busan é o primeiro protótipo urbano flutuante com chancela da ONU-Habitat, braço da Organização das Nações Unidas voltado para desenvolvimento urbano sustentável. Ele será instalado na costa da cidade portuária de Busan, na Coreia do Sul, e funcionará como uma “plataforma viva” de inovação urbana.
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Composto inicialmente por três plataformas interligadas e expansível até um total de 20 unidades, o projeto cobrirá uma área de aproximadamente 6,3 hectares em sua fase inicial. A ideia é permitir que a cidade se expanda conforme a demanda populacional e a maturação das tecnologias envolvidas.
Segundo os arquitetos responsáveis — liderados pela empresa dinamarquesa BIG (Bjarke Ingels Group), em colaboração com as firmas Samoo e Oceanix — o projeto foi concebido para ser autosuficiente em energia, água e alimentos, com sistemas fechados de produção, reaproveitamento de resíduos e construção modular adaptável a diferentes condições climáticas.
Palco de inovações: energia solar, dessalinização e agricultura aquapônica estão presentes na cidade flutuante
Uma das promessas mais impressionantes do Oceanix Busan é seu nível de autonomia. A cidade utilizará painéis solares para geração de energia, sistemas de dessalinização para abastecimento de água potável, e tecnologia de agricultura aquapônica para produção de alimentos, integrando peixes e hortaliças em um mesmo ciclo produtivo.
As construções serão feitas com materiais leves, duráveis e resistentes à corrosão, como bambu laminado e concreto marinho de baixa emissão de carbono. A arquitetura foi projetada para resistir a furacões categoria 5, tsunamis e instabilidade marítima, segundo documentos da ONU-Habitat e do Oceanix Institute.
Essa proposta insere o Oceanix Busan em um novo paradigma de infraestrutura energética e urbana: cidades que não apenas ocupam o espaço, mas o respeitam e integram seus ritmos ecológicos, representando uma alternativa às tradicionais expansões urbanas em terra firme.
Oceanix como resposta ao colapso climático global
O plano estratégico por trás do projeto está diretamente ligado às mudanças climáticas. Estima-se que até 2050, mais de 800 milhões de pessoas poderão ser deslocadas por eventos extremos, segundo o Banco Mundial. Desse total, uma grande parte vive em áreas costeiras vulneráveis à elevação do nível do mar.
A proposta da cidade flutuante sobre o mar surge como uma solução radical para esse cenário, permitindo a criação de novos assentamentos urbanos resilientes, sem consumo de solo natural e com impacto ambiental mínimo. Trata-se de um novo paradigma urbano, construído para coexistir com o mar, não combatê-lo.
Segundo Maimunah Mohd Sharif, ex-diretora-executiva da ONU-Habitat, “os desafios do futuro não podem ser enfrentados com soluções do ado. Precisamos de cidades que cresçam com o oceano, em vez de recuar diante dele”.
Por que o projeto avança tão lentamente?
Apesar do entusiasmo inicial, o projeto de cidade flutuante enfrenta dificuldades para sair do papel. Embora a fase conceitual tenha sido finalizada e a área costeira de Busan destinada à instalação já esteja definida, a construção física ainda não começou, mesmo após cinco anos de planejamento.
Entre os principais obstáculos estão:
- Questões regulatórias marítimas: como zoneamento costeiro, rotas comerciais e proteção ambiental;
- Alto custo de implementação inicial: mesmo em sua fase piloto, estima-se que o projeto exija centenas de milhões de dólares;
- Falta de precedentes legais e urbanos para assentamentos flutuantes permanentes;
- Desafios políticos locais, como resistência de moradores e disputas entre esferas de governo.
Além disso, há a necessidade de assegurar que os sistemas de segurança, evacuação, manutenção e logística funcionem plenamente — o que exige investimentos massivos em infraestrutura energética e de transporte aquático ainda não integrados ao sistema urbano atual de Busan.
Comparações com outras cidades e projetos experimentais
Embora seja o primeiro projeto com chancela da ONU, o Oceanix Busan não está sozinho no mundo das cidades flutuantes. Países como Holanda, Maldivas e Emirados Árabes já testaram modelos de infraestrutura sobre o mar, com sucesso limitado.
Em Amsterdã, por exemplo, o bairro flutuante Schoonschip abriga cerca de 100 pessoas com tecnologias sustentáveis, mas em escala extremamente reduzida. Já em Dubai, o Heart of Europe criou ilhas artificiais privadas com residências sobre plataformas, mas com foco no turismo de luxo, não na habitação em larga escala.
O que diferencia o Oceanix é sua proposta social e ecológica: uma cidade funcional, ível, voltada ao bem comum e preparada para os desafios do século XXI.
Urbanismo sobre o oceano: solução ou utopia?
O conceito de cidade flutuante sobre o mar desperta tanto fascínio quanto ceticismo. Por um lado, representa uma tentativa corajosa de romper com os limites físicos e políticos que restringem a expansão urbana. Por outro, levanta questões legítimas sobre viabilidade, manutenção, adaptação cultural e sustentabilidade de longo prazo.
Especialistas ouvidos pela Bloomberg Green destacam que os maiores riscos do projeto não são tecnológicos, mas sociais. “A tecnologia está pronta. O problema é integrar pessoas em um novo estilo de vida sobre as águas”, afirmou o urbanista coreano Park Hyun-Soo.
De fato, o abandono de centros comerciais, de condomínios verticais e de bairros planejados mal integrados em diversas partes do mundo serve de alerta: grandes obras visionárias podem se tornar símbolos de fracasso urbano se não forem sustentadas por políticas públicas eficazes e participação comunitária ativa.
Próximos os e expectativas para a próxima década
Apesar dos atrasos, o projeto segue vivo. Em 2023, a ONU-Habitat e o Oceanix Institute reafirmaram o compromisso de iniciar as obras em 2025, com o primeiro módulo habitacional pronto até 2028. A meta é abrigar até 1.650 pessoas na fase piloto, com expansão gradual até atingir a capacidade plena de 20 mil moradores.
Os próximos os incluem:
- Finalização de licenças marítimas com o governo coreano;
- Captação de recursos públicos e privados;
- Início da construção de módulos flutuantes em estaleiros especializados;
- Testes de resistência ambiental e habitabilidade.
Se bem-sucedido, o Oceanix Busan servirá como modelo para réplicas em outras cidades costeiras vulneráveis — incluindo áreas em Bangladesh, Indonésia, África Ocidental e América Latina, onde os impactos climáticos urbanos são cada vez mais severos.
O Oceanix Busan é mais que um projeto de engenharia: é um manifesto urbano contra os limites tradicionais da cidade moderna. Ao propor uma cidade flutuante sustentável sobre o mar, ele desafia não apenas a elevação do nível do oceano, mas também o paradigma de como vivemos, construímos e organizamos nossas sociedades.
Embora o ritmo do projeto seja mais lento do que o imaginado, seu impacto conceitual já está em curso. Em um mundo que enfrenta simultaneamente colapso ambiental, escassez de espaço urbano e desigualdade habitacional, pensar fora da terra firme pode ser não apenas desejável, mas inevitável.
Se o Oceanix Busan der certo, ele poderá ser lembrado como o embrião de uma nova era urbana. Se falhar, deixará lições valiosas sobre os limites — técnicos e humanos — do nosso próprio futuro.