Roubo milionário de motores desmonta segurança em fábrica da Kia na Índia. Funcionários desviaram mais de mil unidades durante três anos, enganando sistemas internos e vendendo as peças no mercado negro com apoio de falsificações e transporte clandestino.
Durante três anos, um roubo industrial de grandes proporções ou despercebido em uma das principais fábricas da Kia Motors na Índia, localizada na cidade de Penukonda, distrito de Sri Sathya Sai, estado de Andhra Pradesh.
A fraude envolveu o desvio sistemático de 1.008 motores automotivos, resultando em um prejuízo estimado de US$ 2,3 milhões.
O esquema foi descoberto apenas em março de 2025, após a conclusão de uma auditoria do exercício fiscal, que apontou inicialmente o desaparecimento de 900 unidades.
-
Óleo do motor pode virar veneno: 20% dos lubrificantes vendidos no Brasil são falsificados ou fora do padrão
-
HR‑V 2026: Honda apresenta modelo que chega ao Brasil com motor 1.5 turbo, até 11,4 km/l na cidade e serviços Google nativos
-
Supercomputador bilionário: País investe mais de R$ 5 bilhões em supermáquina de IA e entra de vez na briga pela inteligência artificial global
-
O carro esportivo francês que encalhou zero km, virou piada e hoje é tratado como um verdadeiro foguete cult europeu
A fábrica, considerada um dos centros estratégicos da Kia no sul da Ásia, opera desde o final de 2019 e é responsável pela montagem de modelos como Sonet, Seltos, Carens e Syros, voltados para o mercado interno.
Com produção anual entre 300 mil e 400 mil veículos, a ausência de mais de mil motores levantou questões graves sobre os protocolos de segurança interna em fábricas automotivas e o sistema de rastreio de peças.
Funcionários da Kia envolvidos no esquema de roubo industrial
As investigações conduzidas pela polícia local apontam como principais suspeitos dois ex-funcionários com cargos de liderança dentro da linha de montagem.
Vinayagamoorthy Veluchamy, de 37 anos, foi chefe da seção de motores até 2023 e está atualmente preso.
Patan Saleem, 33 anos, atuava como líder de equipe até 2025 e encontra-se foragido.
Ambos são acusados de arquitetar e executar a operação com apoio de dois auxiliares internos.
Além do envolvimento direto no desvio dos motores, os suspeitos contaram com a colaboração de comerciantes de sucata na cidade de Nova Déli, capital indiana, onde os componentes eram revendidos no mercado paralelo.
O percurso entre Penukonda e a capital é de aproximadamente 2.000 km e requer mais de 30 horas de transporte por rodovia.
Como os motores eram desviados da fábrica da Kia Motors India
O esquema de roubo corporativo na indústria automotiva envolvia falsificação de documentos fiscais e es de entrada e saída da fábrica.
Os motores eram transportados em caminhões com placas adulteradas, dificultando a identificação.
De acordo com o boletim de ocorrência, os suspeitos utilizaram “transações ilegais repetidas e veículos disfarçados para escoar a carga”.
Durante a investigação, a polícia recolheu nove telefones celulares, capturas de tela de conversas por aplicativos, cópias de notas fiscais fraudulentas e imagens dos caminhões usados na operação.
A perícia digital revelou que os envolvidos manipulavam rotinas logísticas com precisão, sugerindo um nível avançado de conhecimento dos sistemas da empresa.
Prejuízo milionário e falhas de segurança na Kia Motors
É considerado altamente incomum que um volume tão expressivo de motores desapareça sem que haja alerta prévio nas auditorias internas.
A fábrica realizava inventários periódicos, mas, segundo fontes ligadas à investigação, houve falhas graves nos processos de reconciliação entre entrada e saída de peças.
O roubo industrial causou prejuízo financeiro direto de US$ 2,3 milhões.
No entanto, o impacto reputacional foi ainda maior.
Um relatório interno aponta que o caso afetou “a credibilidade da Kia Motors India perante investidores, fornecedores e o próprio governo estadual”, que mantém incentivos fiscais à montadora.
A resposta da Kia Motors India ao roubo dos motores
Em resposta ao escândalo, a Kia anunciou um pacote emergencial de reforço à segurança.
Entre as medidas estão a instalação de câmeras com visão 360°, a digitalização dos processos de inventário com sensores IoT (Internet das Coisas) e o uso de sistemas antifraude em controle de estoque automatizado.
Além disso, todos os colaboradores da planta de Penukonda serão submetidos a treinamentos de segurança industrial, com foco em ética corporativa e auditoria interna.
Novos contratos com transportadoras exigirão cláusulas de responsabilidade solidária e monitoramento por GPS em tempo real.
Crime corporativo e vulnerabilidade da indústria automotiva
Casos como o da Kia não são isolados.
De acordo com dados da Federação da Indústria Automotiva da Índia (SIAM), cerca de 1,8% das perdas totais em fábricas do setor são atribuídas a furtos internos e fraudes logísticas.
O alto valor agregado de peças como motores, caixas de câmbio e componentes eletrônicos torna esse tipo de crime especialmente atrativo para quadrilhas organizadas.
Segundo Rajeev Batra, consultor em segurança corporativa citado por jornais locais, “o erro está na confiança excessiva em processos manuais e falta de integração entre os setores de estoque, transporte e contabilidade”.
Para ele, crimes como o ocorrido na Kia são “sintomas de um ecossistema industrial ainda vulnerável”.
Julgamento e possíveis penas para os responsáveis
Embora ainda não tenham sido formalmente acusados, Veluchamy e Saleem figuram como principais réus no inquérito policial.
Se forem condenados por furto qualificado, associação criminosa e fraude documental, poderão cumprir até dez anos de prisão, conforme o Código Penal da Índia.
Parte do dinheiro obtido com a venda dos motores teria sido utilizada para quitar dívidas pessoais e investir em propriedades e negócios paralelos.
A istração estadual de Andhra Pradesh solicitou relatórios detalhados à Kia Motors India sobre as medidas preventivas adotadas.
O caso também chamou a atenção de autoridades federais, que buscam ampliar a regulação sobre o transporte interestadual de peças automotivas de alto valor.
Será que, diante de falhas tão graves, a indústria automobilística está realmente preparada para lidar com ameaças internas de roubo e fraude em larga escala?