Da perda dos Estados Papais ao Tratado de Latrão e os investimentos de Bernardino Nogara que salvaram e enriqueceram o Vaticano, ando pelos escândalos do IOR.
A Igreja Católica é a instituição mais antiga do Ocidente, com quase 2.000 anos. Possui 2,4 bilhões de fiéis, cerca de 30% da população mundial. É uma das organizações mais ricas do planeta. Seus ativos incluem arte valiosa, terras, ouro e investimentos globais. Contudo, a igreja já esteve à beira da falência. O Vaticano precisou de um resgate financeiro. Um acordo histórico com a Itália e a gestão de um homem mudaram seu destino financeiro para sempre.
Da riqueza à quase falência: a perda dos Estados Papais
Durante séculos, a Igreja Católica deteve grande poder temporal. A partir do século 8, o Papado governou vastas áreas da Itália, conhecidas como Estados Papais. No entanto, em 1861, com a unificação da Itália, a igreja perdeu a maior parte desses territórios. Restou apenas uma pequena porção, que também foi perdida posteriormente.
O Papa ficou confinado ao que hoje é o Vaticano. Por 59 anos, até 1929, os Papas permaneceram “prisioneiros” em protesto. A situação financeira tornou-se precária. Na década de 1920, o Papa Pio XI vivia em um palácio degradado, com vazamentos e infestado por ratos. A igreja precisava desesperadamente de uma solução.
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O Tratado de Latrão: o acordo com Mussolini que salvou as finanças
A solução veio de uma fonte inesperada: Benito Mussolini. O líder fascista, que se tornou ditador da Itália em 1925, percebeu a importância política de ter boas relações com a Igreja Católica. Após dois anos e meio de negociações, o Tratado de Latrão foi assinado em 11 de fevereiro de 1929. O acordo reconheceu a soberania do Vaticano como Estado.
Mais importante para as finanças, estabeleceu uma compensação financeira pela perda dos territórios. A Itália pagou ao Vaticano 750 milhões de liras italianas em dinheiro. Também entregou 1 bilhão de liras em títulos do governo italiano com juros de 5%. Além disso, a Itália assumiu o pagamento dos salários dos padres em seu território. O acordo financeiro, curiosamente, tinha apenas uma página.
Bernardino Nogara: o gênio financeiro por trás da fortuna do Vaticano
O pagamento em dinheiro (equivalente a US$ 81 milhões na época) deu ao Vaticano os recursos para criar uma carteira de investimentos robusta. O homem escolhido para essa tarefa foi Bernardino Nogara. Engenheiro de formação, Nogara tinha experiência em projetos de mineração e no setor bancário, inclusive representando um banco italiano no Império Otomano. Ele tinha laços com a Igreja e já havia dado uma dica de investimento lucrativa ao Papa Bento XV.
Assumindo a gestão financeira do Vaticano em 1929, Nogara tinha o objetivo de gerar renda e ganhos de capital a longo prazo. Ele se reunia com o Papa regularmente para discutir os investimentos. Embora não existam números auditados, relatos indicam que Nogara multiplicou o capital inicial por 20 vezes nos primeiros 10 anos. Isso ocorreu mesmo durante a Grande Depressão e a instabilidade que antecedeu a Segunda Guerra Mundial. Sob sua gestão, estima-se que o Vaticano chegou a deter entre 10% e 15% do valor total do mercado de ações italiano.
O Banco do Vaticano (IOR)
Em 1942, durante a Segunda Guerra Mundial, Nogara aconselhou a criação do Instituto para as Obras de Religião (IOR), conhecido como Banco do Vaticano. A instituição funcionava como um híbrido de banco de investimentos e banco central. A neutralidade do Vaticano durante a guerra deu a Nogara vantagens únicas. Enquanto a Itália sofria embargos, o IOR podia realizar transações com os Estados Unidos. Isso permitiu diversificar os investimentos fora da Itália, protegendo o capital caso a Itália perdesse a guerra.
A soberania do Vaticano também garantia sigilo financeiro. Isso permitiu que italianos ricos transferissem suas fortunas para fora do país através do IOR, sem o conhecimento do governo italiano. Após a guerra, Nogara reinvestiu fortemente na reconstrução da Itália, colhendo os benefícios do Plano Marshall.
Do banco Ambrosiano aos dias atuais
Após a saída de Nogara em 1954 e o fim da reconstrução italiana, o IOR buscou novas fontes de receita. Seu status de banco sem supervisão de autoridades monetárias de outros países o tornou atraente como banco offshore. No entanto, isso também abriu portas para o envolvimento em escândalos. Ligações com a máfia, banqueiros encontrados mortos e conspirações marcaram a história do banco nas décadas seguintes.
O escândalo mais notório ocorreu no início dos anos 1980 com o Banco Ambrosiano, do qual o IOR era acionista majoritário. O Ambrosiano faliu com um rombo bilionário, e seus líderes foram acusados de lavagem de dinheiro e ligações com a máfia. O presidente do IOR na época, Arcebispo Paul Marcinkus, foi acusado pelas autoridades italianas, mas alegou imunidade diplomática. O presidente do Ambrosiano, Roberto Calvi, foi encontrado enforcado em Londres.
Escândalos mais recentes voltaram a colocar o Banco do Vaticano sob os holofotes. Em 2010, fundos foram congelados por suspeita de lavagem de dinheiro, levando à queda do presidente do IOR em 2013. O banco americano JP Morgan chegou a fechar uma conta do IOR por falta de informações sobre a origem dos depósitos. Em resposta, o Papa Bento XVI iniciou reformas para aumentar a transparência. Em 2013, pela primeira vez em 125 anos, o IOR publicou suas contas. Em 2020, mesmo com a pandemia afetando doações e receitas de museus, o banco lucrou € 36,4 milhões, ajudando a sustentar as finanças da Santa Sé. No final daquele ano, o banco gerenciava cerca de € 5 bilhões em depósitos de clientes.
A afirmação de que a igreja catoĺica tem quase 2000 anos nao corresponde aos fatos. Ela ou a ter o nome de católica , ou seja, universal, no Quarto século