O legado de um titã: Francisco Matarazzo criou mais de 200 fábricas e moldou São Paulo como nunca antes. Entenda como ele construiu e perdeu o maior império industrial da América Latina
sco Matarazzo, conhecido no Brasil como Francisco Matarazzo, nasceu em 9 de março de 1854, em Castellabate, na região de Nápoles, Itália. De origem abastada, viu sua realidade mudar após a morte do pai, em 1870. A crise econômica no sul da Itália o impulsionou, anos depois, a buscar novas oportunidades no Brasil, incentivado por um amigo.
Sua chegada, em 1881, foi marcada por um episódio dramático: perdeu praticamente todas as suas economias ao ver naufragar duas toneladas de toicinho que trazia para vender. Ainda assim, em Sorocaba (SP), iniciou sua trajetória trabalhando como mascate, até abrir sua primeira fábrica de banha.
Desde o início, Matarazzo adotou uma filosofia que carregaria por toda a vida: “O bom negócio se faz na compra, não na venda”. Esse raciocínio orientou suas estratégias e consolidou sua ascensão meteórica.
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A construção do maior grupo empresarial da América Latina
A virada veio em 1890, quando mudou-se para São Paulo e fundou o Moinho Matarazzo, o primeiro e mais moderno moinho de trigo da América Latina. A inovação não parava: para suprir suas próprias fábricas e reduzir dependências externas, Matarazzo criou diversas indústrias verticalizadas, um movimento inédito no Brasil.
Assim surgiram fábricas de tecidos, sabões, móveis, pregos, produtos químicos e até navios. Em 1911, as Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo foram oficialmente fundadas, agrupando mais de 200 fábricas. No auge, empregavam cerca de 30.000 trabalhadores — mais do que muitas multinacionais brasileiras hoje, como a Gerdau.
Com uma fortuna que, corrigida para valores atuais, ultraaria US$ 27 bilhões, Francisco Matarazzo chegou a ser o quinto homem mais rico do mundo.
O conde matarazzo e a consolidação do poder
Em reconhecimento por seu papel na distribuição de alimentos na Itália durante a Primeira Guerra Mundial, Matarazzo recebeu o título de Conde do rei italiano Vittorio Emanuele III, em 1917.
Ao longo dos anos 1920, expandiu ainda mais seus negócios, investindo em logística (com a criação de uma frota própria de navios) e ampliando suas fábricas para o bairro da Água Branca, em São Paulo. Diferente dos barões do café, severamente atingidos pela Crise de 1929, Matarazzo se beneficiou da crise internacional para consolidar seu domínio industrial.
Seu envolvimento político foi sempre pragmático: apoiou Getúlio Vargas após a Revolução de 1930, mesmo tendo amizade com Washington Luís. Contudo, manteve-se neutro durante a Revolução Constitucionalista de 1932.
A queda do império após a morte de Matarazzo
Francisco Matarazzo faleceu em 10 de março de 1937, em São Paulo, deixando um legado gigantesco. Seu funeral parou a cidade, com mais de 100 mil pessoas nas ruas.
O comando do grupo ou para seu neto, Francisco Matarazzo Júnior, conhecido como “Chiquinho”. Embora inicialmente bem-sucedido, Chiquinho revelou-se avesso a riscos e a inovações — recusando, por exemplo, a proposta de Juscelino Kubitschek para participar da instalação da Volkswagen no Brasil.
O conservadorismo e a dificuldade em modernizar as indústrias levaram ao declínio do grupo. A partir dos anos 1960, as Indústrias Reunidas começaram a enfrentar dificuldades financeiras graves. Em 1983, várias empresas entraram em concordata, marcando o fim do império.
Um legado inapagável
Embora o grupo tenha desaparecido, a marca Matarazzo permanece viva na história do Brasil. Francisco Matarazzo é considerado o pai da grande indústria brasileira e foi um dos fundadores da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
O Edifício Matarazzo, atual sede da Prefeitura de São Paulo, é um testemunho físico da grandiosidade que ele representou.
Até hoje, membros da família continuam ativos em diferentes áreas: o político Eduardo Matarazzo Suplicy, a jornalista Cláudia Matarazzo e o diretor de novelas Jayme Monjardim Matarazzo são exemplos.
Matarazzo foi um homem de seu tempo, com méritos e contradições, mas inegavelmente uma das figuras mais extraordinárias da história empresarial brasileira.