1. Início
  2. / Indústria Naval
  3. / Conheça o navio-cabreiro capaz de lançar e reparar milhares de quilômetros de fibra ótica, conectando continentes em sigilo absoluto
Tempo de leitura 5 min de leitura Comentários 0 comentários

Conheça o navio-cabreiro capaz de lançar e reparar milhares de quilômetros de fibra ótica, conectando continentes em sigilo absoluto

Escrito por Carla Teles
Publicado em 03/06/2025 às 15:15
Conheça o navio-cabreiro capaz de lançar e reparar milhares de quilômetros de fibra ótica, conectando continentes em sigilo absoluto
Conheça o navio-cabreiro, a ‘Serpente dos Oceanos’ que lança e repara secretamente milhares de km de cabos de fibra ótica, conectando continentes.

Conheça o navio-cabreiro, a embarcação capaz de lançar e reparar milhares de quilômetros de fibra ótica, conectando continentes com discrição e eficiência notáveis.

O navio-cabreiro é uma peça central na infraestrutura de comunicação global, operando nas vastas e misteriosas profundezas marítimas. Estas embarcações altamente sofisticadas são os verdadeiros titãs da conectividade global. Elas lançam e reparam os cabos submarinos de fibra ótica que formam a espinha dorsal da nossa comunicação digital, conectando continentes em operações de grande escala, muitas vezes envoltas em necessário sigilo.

A missão vital do navio-cabreiro

Os cabos submarinos de fibra ótica constituem a espinha dorsal invisível da Internet. São responsáveis pela transmissão de mais de 95% a 99% de todos os dados internacionais. A Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) do Brasil refere que estes cabos são “essenciais para as telecomunicações“. Eles gerem mais de 90% da transmissão de dados entre continentes. A Fast Company Brasil reitera que estes sistemas formam os “alicerces da internet global“. A predominância dos cabos sobre os satélites para grandes volumes de dados é um ponto crítico. Capacidade, velocidade e custo-eficácia dos cabos de fibra ótica são incomparáveis para tráfego em larga escala. Esta dependência esmagadora cria eficiência, mas também um ponto concentrado de vulnerabilidade. Assim, a importância estratégica da frota real de navio-cabreiro é muito concreta.

O lançamento e reparo de cabos

Os navios-cabreiros contemporâneos são plataformas sofisticadas. Possuem tanques de cabo de grande capacidade, alguns com carrosséis para 7.000 ou 10.000 toneladas de cabos. Sistemas de Posicionamento Dinâmico (DP), como os de classe DP3, são essenciais para manter a posição precisa do navio. Eles são capazes de permanecer no mar por semanas ou meses. A tecnologia a bordo inclui motores de cabo, arados submarinos (ploughs) para enterrar cabos em águas rasas (até 1500-2000 metros), protegendo-os. Veículos Operados Remotamente (ROVs) são cruciais para levantamentos, enterramento, inspeção e reparos. Grapnéis e ferramentas de corte auxiliam na recuperação de cabos danificados. Instalações especializadas para emenda de fibras óticas também são vitais a bordo.

Dia
Baratíssimo
📱 Smartphones poderosos com preços e descontos imperdíveis!
Ícone de Episódios Comprar

O processo de instalação de um novo cabo é meticuloso. Inicia com extensos levantamentos do leito marinho para planejar a rota ótima, evitando perigos. O navio-cabreiro então desenrola lentamente o cabo, depositando-o com precisão. O cabo EllaLink, conectando Brasil e Europa com 6.200 km e capacidade de 72 terabits por segundo, ilustra bem esse processo.

A reparação de um cabo é igualmente complexa. Após a detecção da falha, o navio-cabreiro é mobilizado. O cabo danificado é recuperado do fundo do mar usando grapnéis ou ROVs, um processo que pode levar mais de um dia em grandes profundidades. A bordo, a secção danificada é removida. Uma nova secção de cabo é emendada, tarefa delicada que envolve a fusão precisa de fibras óticas. Após testes, o cabo reparado é cuidadosamente devolvido ao leito marinho. Todo o processo pode levar muitos dias.

A dimensão estratégica e o sigilo do navio-cabreiro

Cabos submarinos são universalmente reconhecidos como infraestruturas críticas. No Brasil, a ANATEL os classifica desta forma. Sua interrupção provocaria sério impacto social, econômico e à segurança nacional. Cidades como Fortaleza, com 16 cabos submarinos, demonstram sua importância. Apesar disso, a rede enfrenta múltiplas ameaças. Danos acidentais por equipamentos de pesca e âncoras são os mais comuns, causando de 100 a 150 incidentes anualmente. Perigos naturais como sismos e deslizamentos submarinos também representam riscos.

A sabotagem deliberada e a espionagem são preocupações crescentes. O conhecimento público das rotas gerais dos cabos os torna alvos identificáveis. A Rússia, por exemplo, demonstrou interesse e possui capacidades navais para monitorar e potencialmente interferir nessas infraestruturas. O navio oceanográfico russo Yantar foi suspeito de atividades de espionagem. O “sigilo absoluto” em torno das operações de navio-cabreiro é multifacetado. Envolve a segurança operacional, onde detalhes precisos sobre localizações e vulnerabilidades não são divulgados. Inclui também capacidades estatais secretas para coleta de informações. Medidas regulatórias e de proteção são implementadas. Órgãos como a ANATEL supervisionam a instalação e segurança. O enterramento dos cabos em águas rasas e o uso de blindagem adicional são práticas comuns.

Os titãs da conectividade

Giulio Verne. Foto: Vessel Finder
Giulio Verne. Foto: Vessel Finder

A capacidade global para lançar e reparar cabos de fibra ótica reside num grupo de empresas. Alcatel Submarine Networks (ASN), SubCom, Prysmian Group e Nexans estão entre os principais operadores comerciais. A ASN já instalou mais de 750.000 km de cabo. A SubCom implementou sistemas que dariam a volta à Terra mais de 21 vezes. O Prysmian Group possui uma frota considerável, incluindo navios como o Giulio Verne. A Nexans opera embarcações avançadas como o Nexans Aurora. A KDDI Cableships & Subsea Engineering (KCS) é especialista em reparação.

Nexans Aurora. Foto: Nexans
Nexans Aurora. Foto: Nexans

Devido aos altos custos, muitos sistemas são financiados por consórcios de empresas de telecomunicações. Recentemente, grandes fornecedores de conteúdo como Google e Meta (Facebook) tornaram-se investidores e proprietários de novos sistemas de cabos. Além dos operadores comerciais, alguns Estados desempenham um papel direto. A Rússia planejou ligações de fibra ótica para suas bases no Ártico, com o projeto “Polar Express”. O o ao limitado número de navios de reparação avançados torna-se estrategicamente importante durante crises.

O futuro conectado pelo navio-cabreiro

YouTube Video

O setor de cabos submarinos e a tecnologia do navio-cabreiro continuam a evoluir rapidamente. A procura por maior capacidade de transmissão é incessante, impulsionada por novas tecnologias como IA e 5G. Novas rotas estratégicas, incluindo através do Ártico, estão sendo exploradas para oferecer menor latência e maior diversidade. Existe um potencial crescente para integrar sensores científicos aos cabos, para monitorização ambiental.

A segurança e resiliência reforçadas são prioridades, com maior ênfase na proteção física e diversificação de rotas. O “sigilo absoluto” em certos aspetos das operações persistirá, dada a natureza crítica e a sensibilidade estratégica. O equilíbrio contínuo entre conectividade global, segurança nacional e interesses comerciais continuará a ser um desafio. A cooperação internacional é cada vez mais vital para garantir a estabilidade e a segurança deste recurso global.

Inscreva-se
Entre com
Notificar de
guest
0 Comentários
Mais antigos
Mais recente Mais votado
s
Visualizar todos comentários
Carla Teles

Produzo conteúdos diários sobre tecnologia, inovação, construção e setor de petróleo e gás, com foco no que realmente importa para o mercado brasileiro. Aqui, você encontra oportunidades de trabalho atualizadas e as principais movimentações da indústria. Tem uma sugestão de pauta ou quer divulgar sua vaga? Fale comigo: [email protected]

Compartilhar em aplicativos
0
Adoraríamos sua opnião sobre esse assunto, comente!x