Modelo da Audi é abastecido com biometano gerado por resíduos da indústria da cana e promete desempenho, economia e sustentabilidade no mesmo pacote
Um carro esportivo de luxo, com aceleração de 0 a 100 km/h em menos de 9 segundos, pode também ser sustentável e barato de abastecer? A resposta é sim — e a solução vem direto dos canaviais brasileiros. A Audi apresentou no Brasil o modelo A5 Sportback g-tron, um carro esportivo movido a restos de cana-de-açúcar, que utiliza biometano como combustível e garante uma economia de até R$ 1 por litro em relação ao óleo diesel tradicional.
A inovação, que combina desempenho de ponta com baixíssimo impacto ambiental, é resultado de uma parceria entre a montadora alemã, a Coopcana (Cooperativa Agrícola Regional de Produtores de Cana), a Geo Energética, e a empresa Acesa Bioenergia, responsáveis pela produção e purificação do combustível 100% renovável.
Como funciona o carro movido a restos de cana-de-açúcar
O Audi A5 Sportback g-tron é equipado com motor 2.0 TFSI de 170 cavalos de potência e torque de 270 Nm, o que permite aceleração de 0 a 100 km/h em apenas 8,4 segundos, com velocidade máxima de 224 km/h. Os tanques de gás comprimido ficam sob a estrutura traseira do carro, com capacidade para armazenar 19 kg de combustível, o suficiente para rodar até 500 quilômetros.
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O modelo consegue fazer até 26 km por quilo de gás, emitindo apenas 102 g de CO₂ por km — uma das menores taxas entre veículos de sua categoria. Quando abastecido com gasolina, o consumo é de até 17 km por litro, com emissões de 126 g de CO₂ por km. Ou seja, além de mais econômico, o biometano é também mais limpo.
Do bagaço ao tanque: como os resíduos viram combustível
Tudo começa na planta da Coopcana, localizada em Umuarama, no noroeste do Paraná. Os restos da cana-de-açúcar, que normalmente teriam destino de descarte ou compostagem, são enviados para a Geo Energética, em Tamboara (PR), onde am por um processo de digestão anaeróbica, transformando-se em biogás com alto teor de pureza.
Em seguida, o biogás é purificado pela Acesa Bioenergia por meio de uma tecnologia chamada Adsorção por Variação de Pressão (Pressure Swing Adsorption – PSA), um método de origem alemã considerado referência mundial no setor. O resultado é um biometano certificado pela ANP, equivalente ao gás natural veicular (GNV), mas 100% de origem renovável.
Segundo a Acesa, o processamento da planta atual é suficiente para abastecer cerca de 90 veículos por dia, incluindo carros de eio, caminhões, tratores e colheitadeiras.
Economia de até R$ 1 por litro em comparação ao diesel
O biometano produzido a partir de restos de cana tem custo médio similar ao GNV convencional. De acordo com dados da Associação Brasileira de Biogás e Biometano (ABiogás), o preço final chega a ser 50% inferior ao da gasolina, e oferece uma economia de até R$ 1 por litro em relação ao óleo diesel, especialmente para grandes frotistas.
Além disso, a utilização do combustível reduz em até 95% as emissões de gases de efeito estufa (GEE) quando comparado aos combustíveis fósseis, além de uma queda de 90% na emissão de poluentes como óxidos de nitrogênio (NOx) e material particulado — substâncias que impactam diretamente a qualidade do ar e a saúde da população.
Biometano tem potencial para substituir 70% do diesel no Brasil
Segundo a Abiogás, o Brasil é o país com maior potencial de produção de biogás do mundo, podendo gerar até 82 bilhões de metros cúbicos por ano. O setor sucroenergético, que inclui a produção de açúcar e etanol, lidera esse potencial, com capacidade para gerar 41 bilhões de m³ anuais. A agroindústria contribui com 38 bilhões e o setor de saneamento com 4 bilhões de m³ por ano.
Atualmente, a meta do setor é alcançar 10,7 milhões de Nm³/dia de biometano até o fim de 2025, chegando a 32 milhões de Nm³/dia até 2030. Isso seria o suficiente para abastecer cerca de 1,6 milhão de veículos leves ou substituir 20% do consumo nacional de óleo diesel, que é mais poluente, mais caro e majoritariamente importado.
RenovaBio pode impulsionar ainda mais a adoção da tecnologia
Desde a aprovação do RenovaBio, em 2017, o Brasil ou a contar com uma política nacional de estímulo aos biocombustíveis, com metas de descarbonização e incentivos à produção de combustíveis limpos. As plantas que utilizarem resíduos da cana para gerar biometano recebem notas de eficiência ambiental mais altas, o que pode se converter em créditos de descarbonização (CBIOs) — negociados no mercado financeiro.
Com a regulamentação final em andamento, a expectativa é que empresas como Coopcana, Geo Energética e Acesa Bioenergia sejam recompensadas financeira e ambientalmente, além de impulsionar o uso comercial do biometano no Brasil.
Carros esportivos, tratores e colheitadeiras: versatilidade do combustível
Apesar de o Audi A5 Sportback g-tron ser um símbolo de inovação e sustentabilidade no segmento , o uso do biometano não se limita aos carros de eio. O combustível é perfeitamente adaptável a veículos agrícolas, como tratores, caminhões e colheitadeiras, oferecendo redução de custos e menor impacto ambiental no campo.
A adoção em larga escala também pode beneficiar cidades e frotas públicas, como ônibus urbanos e veículos de coleta, contribuindo para a descarbonização do transporte público e o cumprimento das metas climáticas nacionais.
Inovação brasileira com tecnologia alemã
A união entre a indústria automotiva europeia e o setor agroindustrial brasileiro representa um caso de sucesso em inovação sustentável. O projeto do carro esportivo movido a restos de cana-de-açúcar é um exemplo de como o Brasil pode transformar resíduos agrícolas em valor econômico e ambiental, utilizando tecnologias de ponta, como a PSA, para agregar valor à cadeia do biocombustível.
A iniciativa tem potencial para posicionar o Brasil como líder global na produção e uso de biocombustíveis avançados, abrindo portas para novas parcerias internacionais e para a exportação de soluções sustentáveis em larga escala.
Mais do que uma inovação técnica, o carro movido a restos de cana-de-açúcar representa uma nova forma de pensar mobilidade, sustentabilidade e economia. Ao unir alta performance, redução de emissões e economia real para o consumidor, o modelo da Audi abastecido com biometano brasileiro mostra que o futuro dos transportes pode ser verde, rápido — e ível.
Aos poucos, esse tipo de tecnologia deve deixar de ser exceção e se tornar padrão, não apenas em carros de luxo, mas também no transporte público, na agricultura e na logística. E tudo isso começa com o que antes era descartado: o bagaço da cana-de-açúcar.