China constrói gigantescos navios de criação de peixes com sensores inteligentes, propulsão elétrica e capacidade para abastecer seu mercado interno
A fome de peixe na China parece não ter limites. E, em vez de depender das importações, o país asiático está apostando em soluções cada vez mais inovadoras para garantir o abastecimento do seu mercado interno. A jogada mais recente: construir enormes navios de criação em alto-mar, tão impressionantes que já são chamados de verdadeiros “porta-aviões” flutuantes para peixes.
Não é de hoje que o mundo observa o apetite pesqueiro da China. Segundo dados da FAO, quase um terço do volume global de pesca está relacionado ao país. E não faltam denúncias de frotas chinesas varrendo águas de locais distantes como o Peru. Agora, além da pesca tradicional, a China aposta pesado na aquicultura marinha em grande escala.
Wan Qu Ling Ding: um porta-aviões para peixes
Um dos grandes protagonistas dessa estratégia é o imponente Wan Qu Ling Ding, um navio que parece ter saído de um filme futurista. De acordo com informações da CCTV, ele foi lançado com sucesso em 27 de maio.
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Construído pelo estaleiro Jiangmen Hangtong Shipbuilding Co., o navio será entregue em agosto para a empresa Zhuhai Ocean Development Group Co. e começará a operar como uma gigantesca fazenda flutuante, com dimensões realmente impressionantes: 155,8 metros de comprimento e 44 metros de largura.
Além do tamanho, o que mais chama atenção são seus 12 compartimentos de criação, capazes de comportar até 80 mil m³ de água. Em outras palavras: o equivalente a cerca de 32 piscinas olímpicas. A capacidade de produção estimada varia entre 3 mil e 5 mil toneladas de peixes por ano — o que corresponde ao que produziria uma fazenda terrestre de aproximadamente 3,33 milhões de metros quadrados.
Aquicultura inteligente
O Wan Qu Ling Ding foi projetado para criar espécies de alto valor no mercado chinês, como a palometa dourada, a seriola e o garoupa. Além de atender o consumo interno, também deve abastecer o setor de turismo.
Um dos diferenciais tecnológicos do navio é seu sistema de troca de água com o ambiente marinho, o que melhora a qualidade da água e, consequentemente, do peixe criado. Cada compartimento conta com sensores de última geração e sistemas automáticos de alimentação.
Mas não para por aí: se os sensores detectarem mudanças bruscas na qualidade da água ou sinais de poluição, os compartimentos semi-submersos podem ser elevados rapidamente. Isso reduz a resistência na água e permite que o navio se desloque rapidamente para áreas mais seguras.
Autonomia e navegação inteligente
Outro destaque do Wan Qu Ling Ding é a sua autonomia. O sistema de propulsão elétrica oferece o que seus criadores chamam de “nomadismo marítimo autônomo”. O navio tem alcance de até 2 mil milhas náuticas e é capaz de navegar de forma autônoma para evitar fenômenos naturais como tufões.
Além disso, ele conta com um sistema de geração eólica de 20 kW, capaz de suprir todo o consumo elétrico dos sistemas de aquicultura a bordo. Um bom exemplo de como a tecnologia pode ser integrada à indústria pesqueira.
No site da Salmar Ocean, é possível ver um sistema de filtragem de água semelhante ao utilizado no Wan Qu Ling Ding, presente no navio Guoxin-1.
Hai No. 1: o primeiro navio dedicado ao salmão
Enquanto o Wan Qu Ling Ding se prepara para entrar em operação, outro navio não menos impressionante já está pronto: o Hai No. 1, construído pelo estaleiro Huangpu Wenchong, em Guangzhou.
Trata-se do primeiro navio do mundo dedicado exclusivamente à criação de salmão. Com um comprimento de 250 metros, este gigante dos mares também é capaz de se mover com agilidade para evitar zonas contaminadas.
Após os primeiros testes realizados em abril, o Hai No. 1 deve iniciar sua produção em junho. Sua capacidade impressiona: até 8 mil toneladas de salmão por ano. E, graças à planta de processamento instalada a bordo, ele consegue entregar salmão fresco em alguns mercados nacionais em apenas 24 horas.
Estratégia nacional para independência alimentar
Por que esses navios são tão estratégicos para a China? A resposta é simples: autossuficiência alimentar. De acordo com o SCMP, em 2024 a China importou cerca de 100 mil toneladas de salmão. A expectativa é que a demanda ultrae 200 mil toneladas até 2030.
Hoje, mais de 80% do salmão consumido no país depende de importações. Por isso, navios como o Wan Qu Ling Ding e o Hai No. 1 têm papel essencial na estratégia chinesa para reduzir essa dependência e estabilizar a cadeia de fornecimento de peixes.
Não por acaso, o próprio Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China publicou em 2023 diretrizes para fomentar o desenvolvimento da aquicultura marinha.
Um modelo que pode transformar a indústria pesqueira mundial
Com esses gigantescos “porta-aviões de peixes”, a China não busca apenas alimentar seu próprio mercado. Também pretende fortalecer sua segurança alimentar em um cenário global cada vez mais instável, marcado por tarifas e tensões comerciais.
Como já demonstrou em outros setores, o país aposta fortemente em tecnologia para reforçar sua soberania alimentar. E a aquicultura em alto-mar, com navios como o Wan Qu Ling Ding e o Hai No. 1, promete ser uma peça-chave dessa estratégia.