Como os cortes na energia renovável elevam a conta de luz e afetam o setor elétrico
Nos últimos anos, os cortes na geração de energia eólica e solar aumentaram consideravelmente no Brasil. Segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), entre 2022 e 2024, o volume de eletricidade desperdiçado por restrições no sistema elétrico cresceu mais de 200%. Como consequência, consumidores e investidores enfrentam desafios cada vez maiores.
Além disso, a falta de infraestrutura adequada nas linhas de transmissão impede o aproveitamento total da eletricidade gerada. Por isso, prejuízos financeiros se acumulam, enquanto a tarifa de energia sobe progressivamente.
No dia 15 de agosto de 2023, um apagão afetou quase todo o país, deixando milhões de brasileiros sem energia por várias horas. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apontou que a sobrecarga na rede foi uma das principais causas do incidente.
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Desde então, medidas mais rigorosas aram a ser adotadas para evitar novos colapsos no sistema. No entanto, essas ações acabaram intensificando o chamado curtailment, ou seja, os cortes na geração de energia renovável para evitar sobrecargas na transmissão.
Por que a geração de energia eólica e solar sofre reduções?
Atualmente, o setor elétrico brasileiro a por um momento crítico. De acordo com dados do ONS divulgados em janeiro de 2025, os cortes na geração solar e eólica atingiram recordes históricos no segundo semestre de 2024.
No mês de dezembro, por exemplo, 17,8% da geração solar e 9,8% da eólica foram desperdiçados devido à incapacidade da infraestrutura de transmissão.
Desde o apagão de 2023, a ANEEL e o Ministério de Minas e Energia (MME) reforçaram diretrizes para evitar sobrecargas no sistema. Como consequência, os parques de energia eólica e solar aram a sofrer restrições na produção, mesmo quando as condições climáticas favoreciam a geração.
No entanto, especialistas alertam que essas medidas, embora preventivas, podem gerar efeitos negativos a longo prazo, principalmente no preço da conta de luz.
A falta de expansão das linhas de transmissão é o principal fator para o aumento dos cortes.
Sem novos investimentos, o problema pode se agravar ainda mais até 2030, especialmente com a crescente participação das energias renováveis na matriz elétrica brasileira.
Quais fatores causam os cortes na geração de energia?
Muitos fatores contribuem para o aumento do curtailment. Primeiramente, a falta de capacidade das linhas de transmissão impede que toda a energia gerada seja aproveitada.
Segundo um relatório da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), publicado em 2024, a expansão da transmissão não acompanhou o ritmo de crescimento das usinas solares e eólicas nos últimos cinco anos.
Isso significa que, mesmo com recordes de produção de energia limpa, uma parcela significativa dessa eletricidade é desperdiçada.
Além disso, as políticas públicas atuais ainda não incentivam a adaptação do sistema elétrico às fontes renováveis. Diferente das hidrelétricas e termelétricas, que conseguem ajustar sua produção conforme a demanda, a energia solar e eólica dependem das condições climáticas.
Assim, a ausência de infraestrutura moderna dificulta o gerenciamento eficiente da eletricidade gerada.
Outro problema importante envolve a falta de um mercado dinâmico para a compra e venda de energia renovável.
Se houvesse mais flexibilidade no sistema, desperdícios seriam reduzidos.
Como os cortes na energia renovável elevam a conta de luz?
Com o aumento dos cortes na geração de energia eólica e solar, os consumidores já sentem os impactos financeiros.
Além disso, as empresas buscam ressarcimento pelos prejuízos causados pelos cortes.
Caso a justiça conceda indenizações, os custos poderão ser reados às tarifas de energia, elevando ainda mais os preços para os consumidores.
Quais medidas podem reduzir os cortes na geração de energia?
Para reverter esse cenário, o setor elétrico precisa investir urgentemente na modernização das linhas de transmissão.
Segundo a EPE, pelo menos R$ 50 bilhões serão necessários até 2030 para viabilizar a expansão do sistema elétrico nacional e integrar melhor as fontes renováveis.
Além disso, o armazenamento de energia por meio de baterias e a implementação de redes inteligentes podem otimizar a distribuição elétrica.
Outro fator essencial envolve a criação de um mercado mais flexível para a comercialização de energia renovável.
Por fim, o governo precisa adotar políticas públicas que incentivem a geração distribuída e a descentralização da energia elétrica.
Se o governo implementar essas medidas rapidamente, o Brasil aproveitará melhor seu potencial renovável e garantirá um fornecimento de energia mais seguro, sustentável e econômico para todos.