A escalada de preços e a frustração dos fãs em shows internacionais revelam um lucrativo mercado paralelo. Entenda como funciona o esquema milionário da revenda de ingressos e suas consequências.
A paixão dos brasileiros por shows internacionais é imensa. O sonho de ver um ídolo de perto, no entanto, virou um pesadelo para muitos. Ingressos para grandes eventos desaparecem dos canais oficiais em questão de minutos. Logo depois, ressurgem no mercado paralelo por valores astronômicos. Um bilhete que custava R$50 pode saltar para R$5.000. Essa “mágica” alarmante da multiplicação de preços é o sintoma visível de um esquema milionário. Ele explora a paixão dos fãs e as brechas de um sistema complexo.
Como a especulação afasta fãs dos seus ídolos
Milhões de brasileiros anseiam pela energia de um show ao vivo, especialmente de astros internacionais. Contudo, realizar esse sonho está cada vez mais difícil e caro. A dificuldade em comprar ingressos oficialmente e os preços abusivos na revenda transformam a celebração cultural em frustração. Muitos se sentem excluídos, não por falta de interesse, mas pela incapacidade de competir com esquemas obscuros e iníveis financeiramente. A percepção de um esquema milionário por trás dessa inflação de preços indica uma operação estruturada, que lucra com a paixão alheia.
Dos sustos de produção à “mágica” do cambismo
Entender a formação do preço original de um ingresso é crucial. Custos de produção são significativos. Incluem aluguel de estádios, montagem de estruturas, som, luz, agens e hospedagem de artistas e equipes. Cachês de estrelas internacionais, pagos em dólar, elevam os custos com a variação cambial. Impostos e lucros das produtoras também entram na conta. A demanda reprimida pós-pandemia e a valorização de “experiências únicas” pelos jovens também pressionam os preços. Setores “” e o “preço dinâmico”, que ajusta valores conforme a procura, já encarecem os ingressos na venda oficial.
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É sobre esse valor inicial, já considerado alto, que a “mágica” do cambismo atua. O ágio, diferença entre o valor de face e o preço de revenda, é exorbitante. Na turnê de Taylor Swift, ingressos de R$190 a R$1.050 foram revendidos até dez vezes mais caro. Para o show gratuito de Lady Gaga em Copacabana (2025), cambistas chegaram a cobrar R$5.000 por supostos os VIP. O Rock in Rio viu seu ingresso saltar de R$35 em 2001 para R$795 em 2024, um aumento muito acima da inflação.
Por dentro do esquema milionário
O esquema milionário do cambismo depende da aquisição massiva de ingressos antes do público. Softwares, os “bots”, são cruciais. Eles simulam compradores humanos com velocidade superior, realizando múltiplas compras simultaneamente. Conseguem adquirir milhares de ingressos em minutos, esgotando lotes e criando escassez artificial. Suspeitas de apoio interno, com funcionários de empresas vendedoras ou produtoras facilitando o o a ingressos, também existem. Em pontos de venda físicos, cambistas infiltram-se em filas e intimidam fãs.
Com os ingressos em mãos, o escoamento ocorre em plataformas de revenda online como Viagogo e StubHub. Elas operam numa zona legalmente cinzenta, conectando cambistas a compradores dispostos a pagar caro. Redes sociais e aplicativos de mensagens também são usados, com menos segurança. Essa rede envolve desde “laranjas”, contratados para compras individuais, até operadores de bots e os “cabeças” que financiam e gerenciam o esquema. O volume financeiro é imenso. Estima-se que, em 2021, o governo deixou de arrecadar R$2 bilhões em impostos devido a fraudes no setor, que incluem o cambismo. As empresas culturais tiveram perdas de R$9 bilhões.
As múltiplas vítimas do mercado paralelo de ingressos
Os fãs são as maiores vítimas. A exclusão econômica é a primeira consequência, transformando cultura em artigo de luxo. A frustração e o desgaste emocional são imensos. Há ainda o risco de fraudes, com ingressos falsos ou duplicados. Muitos se endividam para não perder o show desejado.
Artistas e promotores também perdem. O lucro exorbitante dos cambistas não retorna para quem produz o espetáculo. Estima-se que artistas fiquem com apenas 12% a 20% da receita oficial do ingresso. Há também o dano à imagem, associada à dificuldade de o e preços abusivos.
Para o mercado e a sociedade, o cambismo distorce a concorrência e fomenta atividades ilícitas. A evasão fiscal é significativa, privando a sociedade de recursos. A reputação do Brasil como destino de grandes turnês pode ser afetada, desestimulando artistas e produtoras globais.
Respostas legais, desafios na fiscalização e soluções
A Lei nº 1.521/51, sobre crimes contra a economia popular, tem sido usada contra o cambismo, mas sua generalidade dificulta a aplicação. A Lei Geral do Esporte (Lei nº 14.597/2023) criminalizou o cambismo em eventos esportivos, mas não cobre shows e festivais. Novas iniciativas, como os Projetos de Lei apelidados de “Lei Taylor Swift” (PL 3120/2023 e PL 3.115/23), buscam criminalizar a prática de forma mais ampla em eventos culturais, com penas mais duras. Contudo, sua tramitação é lenta e há debates sobre sua eficácia e possíveis conflitos com leis existentes.
Órgãos como os Procons atuam notificando e multando empresas. O Ministério Público também investiga irregularidades. A fiscalização, porém, enfrenta desafios, especialmente no ambiente online e contra plataformas sediadas no exterior.
A indústria busca soluções. Ingressos nominais e intransferíveis, ou com transferência controlada (como no Rock in Rio e The Town), limites de compra por F e o uso de biometria facial (como no Estádio Beira-Rio) são algumas medidas. A tecnologia blockchain é vista como promissora para criar ingressos seguros e rastreáveis. Modelos internacionais, como leis específicas no Japão e restrições de preço na revenda na Austrália e Reino Unido, oferecem aprendizado. Uma lacuna no Brasil é a ausência de plataformas oficiais de revenda com preço controlado, que permitiriam aos fãs revender ingressos legitimamente sem alimentar o esquema milionário.