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Desafios da escassez de talentos e rotatividade na cabotagem: Navegando em direção ao crescimento sustentável

Escrito por Corporativo
Publicado em 08/05/2025 às 09:51
Atualizado em 02/06/2025 às 15:49

Escassez de marítimos e formação precária desafiam a cabotagem no ecossistema logístico e marítimo, impactando sua resiliência e crescimento.

A cabotagem tem desempenhado um papel vital na navegação costeira, conectando portos ao longo do litoral e impulsionando o modal marítimo. Este tipo de transporte, que se realiza principalmente por meio de barcaças, está em franca expansão devido à sua eficiência e sustentabilidade. As barcaças são especialmente adequadas para cargas volumosas e de baixo valor agregado, características que as tornam ideais para essa modalidade. Desde 2015, observaram-se significativos investimentos no setor, com o objetivo de modernizar a frota e ampliar as rotas cobertas pela cabotagem.

À medida que o interesse por esse modal cresce, novos desafios emergem na formação de oficiais da Marinha Mercante. A capacitação de profissionais adequados é essencial para garantir que a cabotagem continue a desempenhar seu papel crucial na logística nacional. Em 2020, o governo brasileiro lançou iniciativas para aumentar o número de vagas em academias marítimas, com foco em melhorar a resiliência do setor: Resiliência do Setor. Esses esforços visam compensar a atual escassez de tripulação qualificada, que ameaça atrasar os progressos e o crescimento robusto observados nos últimos anos.

A Transformação Pós-2020 na Cabotagem Brasileira

Desde 2021, a cabotagem brasileira tem se beneficiado de políticas de incentivo fiscal e de infraestrutura, que vieram dinamizar a modalidade. Essas ações ajudaram a ampliar a capacidade dos portos e a otimizar as operações logísticas. Estudos do Ministério dos Transportes demonstram que as medidas implementadas até 2022 já têm gerado redução nos custos de operação, tornando a cabotagem uma alternativa cada vez mais atrativa frente a outros modais.

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No contexto das relações comerciais, a cabotagem se tornou fundamental para a distribuição de produtos agrícolas e industriais, tendo um impacto direto na economia nacional. A pandemia de 2020 destacou a necessidade de meios de transporte mais flexíveis e seguros, e a cabotagem se revelou uma resposta eficaz a essa demanda crescente por resiliência logística. Em 2022, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou um aumento de 15% nos volumes transportados por vias marítimas internas, consolidando essa modalidade como uma das grandes vencedoras na recuperação econômica pós-crise.

Para o futuro, espera-se que a cabotagem continue a se expandir, com previsões de aumento no número de rotas e na eficiência operacional. A sua capacidade de unir desenvolvimento sustentável com crescimento econômico a torna não apenas uma tendência atual, mas um pilar fundamental para
a economia brasileira.

A Cabotagem em Expansão: Desafios e Projeções

Em 2024, o setor de cabotagem movimentou notáveis 1,5 milhão de TEUs, conforme dados fornecidos pela Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (ABAC). Isso representa um incremento de 19,8% em relação ao ano anterior, demonstrando um crescimento substancial. Desde 2008, o volume transportado por esse modal marítimo praticamente dobrou, destacando a relevância da cabotagem. Este avanço é reflexo não apenas da resiliência do setor, mas também dos esforços contínuos em modernizar a frota e atender à crescente demanda por soluções logísticas sustentáveis. Contudo, o crescimento acelerado da cabotagem enfrenta desafios estruturais significativos, especialmente no que diz respeito à formação e à disponibilidade de mão de obra qualificada, cruciais para o avanço do transporte por barcaças e da navegação costeira.

Formação e Desafios na Marinha Mercante

Atualmente, a formação dos oficiais da Marinha Mercante é concentrada em duas instituições principais: o Centro de Instrução Almirante Graça Aranha (CIAGA), localizado no Rio de Janeiro (RJ), e o Centro de Instrução Almirante Braz de Aguiar (CIABA), em Belém (PA). Estas escolas, juntamente, conseguem formar anualmente pouco menos de 300 novos oficiais, conforme o número de vagas disponibilizadas para 2024, o que ainda é insuficiente para suprir a crescente demanda do segmento. Um estudo realizado pela Fundação Vanzolini, em parceria com o Centro de Inovação em Logística e Infraestrutura Portuária da USP (CILIP), projeta que serão necessários cerca de 4 mil profissionais até 2030 para atender a demanda atual.

Resiliência e Necessidade de Reformulação

A carência de mão de obra qualificada na cabotagem não é apenas quantitativa, mas também qualitativa. O modelo atual de formação enfrenta um descomo em relação às exigências operacionais modernas. Apesar de oferecer uma base técnica sólida, ainda faltam conteúdos que abordem a gestão, a liderança, a segurança organizacional, o entendimento do negócio e o uso de tecnologias na rotina de bordo. Esta lacuna educativa força os profissionais a buscarem complementação, muitas vezes por meio de MBAs, especializações ou programas corporativos, gerando um ambiente competitivo onde apenas os mais bem preparados sobressaem.

A Rotatividade no Setor: Um Desafio Crônico

A alta rotatividade de tripulantes no setor de cabotagem é outro desafio crítico, uma vez que o índice de turnover chega a cerca de 20% ao ano. Em termos práticos, isso indica que a cada cinco tripulantes, um é substituído anualmente. Tal fator compromete a previsibilidade operacional e representa desafios constantes para a gestão de pessoas a bordo. A competição com o setor offshore, especialmente na indústria de óleo e gás que oferece remunerações mais atraentes e escalas de trabalho desejáveis, frequentemente atrai profissionais, criando lacunas no setor de navegação costeira. Esta movimentação causa impactos significativos.

Impacto na Gestão e Operacionalidade

Cada desligamento de um tripulante não apenas acarreta custos istrativos e operacionais, mas também demanda um replanejamento logístico cuidadoso. Em cenários mais críticos, pode até resultar na suspensão provisória de rotas devido à falta de tripulação qualificada. Além disso, a rotatividade frequente nas equipes prejudica o desenvolvimento de laços interpessoais e a consolidação de práticas colaborativas, elementos essenciais para o bom desempenho a bordo. As empresas de cabotagem frequentemente precisam reiniciar o processo de integração de novos profissionais, causando uma sobrecarga para as lideranças embarcadas e dificultando o estabelecimento de uma sólida cultura organizacional.

Caminhos para Superar os Obstáculos

Em um ambiente técnico e de alta complexidade como o ecossistema logístico e marítimo, a rotatividade impacta em riscos operacionais, perda de eficiência e, por fim, redução da competitividade do setor. Reverter esse cenário demanda ações estruturantes e uma colaboração coordenada entre os diversos atores desse ecossistema. No âmbito institucional, é crucial considerar o credenciamento de novas entidades formadoras, com a supervisão técnica adequada, para ampliar a oferta de cursos e modernizar as metodologias de ensino. Além disso, a revisão dos critérios de certificação, ainda que emergencialmente, pode ajudar a mitigar efeitos da escassez de mão de obra.

Perspectivas para a Cabotagem Sustentável

As empresas de navegação costeira podem assumir um papel de destaque na retenção e valorização dos seus profissionais, investindo em programas internos de desenvolvimento, planos de carreira transparentes, avaliações de desempenho estruturadas e garantindo condições de trabalho favoráveis no modal marítimo. Em um mercado altamente competitivo, o ambiente organizacional pode ser tão determinante quanto a remuneração. É vital considerar que grande parte dos profissionais marítimos nutre orgulho por suas trajetórias, e preservar esse sentimento de pertencimento, além de projetar um futuro promissor para os novos entrantes, exige políticas claras e um esforço coletivo.

A cabotagem tem o potencial de crescer de maneira sustentável, mas seu progresso dependerá, em grande parte, da capacidade do setor de formar, atrair e reter os profissionais que garantirão a continuidade e eficiência das operações nos próximos anos.

Escrito por: Andréa Simões – Diretora de Gente, Cultura e Transformação Digital da Informação na Log-In Logística Integrada, grupo de soluções logísticas, movimentação portuária, navegação de Cabotagem e Mercosul, além de atuação na ponta rodoviária.

Fonte: © [email protected]

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