Durante uma caminhada guiada para alunos em Saltwick Bay, próximo a Whitby, o geólogo e animador Steve Cousins, conhecido como “Rock Showman”, localizou uma impressionante pegada fossilizada de dinossauro em arenito, que se acredita ter cerca de 170 milhões de anos.
A impressão, atribuída a um estegossauro, estava soterrada sob a areia até que Cousins, atento ao relevo da rocha, a revelou à luz. Para confirmar a descoberta, o paleontólogo Dr. Liam Herringshaw realizou uma digitalização 3D do bloco, demonstrando que as condições geológicas de Saltwick Bay continuam a expor vestígios do Jurássico Médio, a informação foi publicada na BBC.
Saltwick Bay: um museu natural ao ar livre
Saltwick Bay fica a aproximadamente 1,6 km a leste de Whitby, na costa leste de North Yorkshire, Inglaterra. Esse trecho de litoral faz parte da Formação Saltwick, rochas sedimentares depositadas durante o Jurássico Inferior e Médio. A região é famosa pela abundância de fósseis de amonites (como Dactylioceras e Hildoceras), plantas fossilizadas e répteis marinhos (como teleossauros e ictiossauros). As camadas areníticas aqui se formaram cerca de 174 a 164 milhões de anos atrás, em ambientes costeiros rasos, que propiciaram o registro de pegadas de animais que caminhavam sobre sedimentos ainda moles.
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Desde o século XVIII, as atividades de extração de alúmen abriram cortes profundos na falésia, expondo ossos de cavalos, esqueletos de crocodilomorfos (Steneosaurus bollensis e S. brevior) e répteis marinhos. Em 1824, a descoberta de um esqueleto quase completo de Steneosaurus bollensis foi considerada uma das mais notáveis da região. Mais tarde, exemplares de ictiossauros e plesiossauros também foram recuperados, consolidando Saltwick Bay como um dos pontos clássicos de paleontologia inglesa.
Steve Cousins: o “Rock Showman” e sua paixão por fósseis
Steve Cousins, com formação em geologia e artes cênicas, fundou a organização Earth Science Outreach UK juntamente com o Dr. Liam Herringshaw. Em suas apresentações como “Rock Showman”, ele combina demonstrações didáticas com teatro para envolver o público em feiras de ciência, museus e festivais. Na costa norte de Yorkshire, Cousins conduz trilhas educativas para que estudantes e entusiastas aprendam a identificar fósseis expostos pelas marés.
Vestindo óculos plásticos sobre a cabeça e sempre com luvas de cor vibrante, Cousins leva grupos ao longo de bancos rochosos e enseadas. Seu esforço enfoca tornar a ciência ível: “Para mim, toda a costa de North Yorkshire é um museu a céu aberto. Um dos maiores prazeres é levar pessoas a este litoral e ajudá-las a entender o que procuram”, costuma dizer.
A descoberta do fóssil de Estegossauro
Em um eio escolar recente, enquanto orientava alunos em Saltwick Bay, Cousins notou uma forma irregular na superfície de um bloco de arenito meio encoberto pela areia. Tratava-se de uma pegada tridáctila bem definida, impressa quando o sedimento ainda estava macio, no Jurássico Médio. “As crianças ficaram muito empolgadas. Foi incrível compartilhar essa descoberta com elas”, relatou o geólogo à BBC.
O bloco exibia um sulco grande, com aproximadamente três dedos arqueados e profundidade suficiente para caracterizar um instante de apoio firme do pé traseiro de um estegossauro. Para confirmar suas suspeitas, Cousins contatou Dr. Liam Herringshaw, que realizou uma digitalização 3D do fóssil usando um aplicativo específico. O mapa tridimensional evidenciou os contornos exatos da pegada, permitindo estimar tamanho—quase três vezes o comprimento de uma bota de caminhada—e morfologia típica de Stegosaurus.
O Estegossauro: características do gênero
O estegossauro (gênero Stegosaurus), conforme descrito pela literatura paleontológica, viveu entre o Kimmeridgiano e o Tithoniano (aproximadamente 155–148 Ma) no Jurássico Superior. Era um grande herbívoro quadrúpede, com membros posteriores mais robustos que os anteriores, dorso arqueado e cauda elevada. Sua característica mais marcante eram as fileiras de placas ósseas altas ao longo das costas e as pontas afiadas (chifrões) na extremidade caudal, apontando para possíveis funções de termorregulação, exibição ou defesa.
Fósseis de Stegosaurus foram encontrados principalmente no oeste dos Estados Unidos (Formação Morrison) e em Portugal. Três espécies — S. stenops, S. ungulatus e S. sulcatus — são as mais reconhecidas. Habitavam ambientes florestais e de pântanos rasos, convivendo com saurópodes gigantes, como Apatosaurus e Brachiosaurus, e predadores terópodes, como Allosaurus e Ceratosaurus.
Formação geológica e razões para a preservação das pegadas
As rochas de Saltwick Bay pertencem ao Jurássico Inferior e Médio, depositadas em delta fluvial e planícies costeiras rasas. Em épocas mais recentes, durante o Terciário, movimentos tectônicos decorrentes da colisão entre a África e a Europa elevaram novamente a crosta, erodindo camadas mais profundas e trazendo à superfície essas camadas fosfáticas. Em Saltwick Bay, as falésias descem diretamente ao mar, e as ondas retiram sedimentos, expondo areias consolidadas onde os rastros de dinossauros se tornaram visíveis.
Grande parte das pegadas se formou em arenitos finos, onde o dinossauro deixava impressões marcantes ao caminhar sobre sedimentos úmidos. Com o recuo das marés e a erosão contínua, essas pegadas afloram temporariamente antes de ficarem recobertas por areia ou água. Assim, fósseis de impressões podem aparecer em dias de maré baixa, especialmente após tempestades ou marés particularmente baixas, quando a falésia é “limpa” pela força das ondas.
Importância científica e educacional da descoberta
Cada nova pegada ajuda a compreender o comportamento locomotor do estegossauro: largura do o, profundidade de apoio e, por vezes, indicam se o indivíduo estava correndo ou caminhando lentamente. Além disso, a localização costeira demonstra que esses dinossauros transitavam por planícies costeiras alagadas, possivelmente migrando entre áreas mais seguras durante épocas de maré alta.
O fóssil encontrado foi levado para exibição no Jet Bistro, em Whitby Holiday Park, onde visitantes podem observar gratuitamente. O objetivo de Cousins e Herringshaw, fundadores da Earth Science Outreach UK, é exatamente esse: “qualquer achado deve estar ao alcance do público, para transmitir conhecimento sobre a era pré-histórica”, afirmam. A exibição localiza-se a poucos os da praia, criando uma experiência direta entre a paisagem original e o registro fóssil.
Continuidade de achados na Costa de North Yorkshire
Segundo Dr. Herringshaw, pegadas de dinossauros são bastante comuns ao longo de toda a costa de North Yorkshire. Rochas sedimentares da idade certa voltam a emergir com frequência em Whitby, Scarborough e outras localidades. Embora raros em uma escala global, esses arenitos do Jurássico Médio nessa região preservam trilhas de dinossauros em grande quantidade.
Com a maré baixa, qualquer pessoa interessada em paleontologia pode explorar as praias e procurar pegadas fossilizadas. Equipamentos mínimos — uma câmera, luvas e um caderno de anotações — já permitem registrar eventuais impressões. No entanto, é fundamental respeitar os regulamentos de Parques Nacionais e evitar remoção de espécimes: a melhor prática é fotografar e informar pesquisadores qualificados.
A descoberta da pegada de estegossauro em Saltwick Bay reforça a importância de iniciativas de divulgação científica que conectam escolas, comunidades e pesquisadores ao patrimônio geológico local. Ao revelar esse registro de 170 milhões de anos, Steve Cousins — o “Rock Showman” — demonstra que “toda a costa de North Yorkshire é um museu a céu aberto”. A colaboração contínua com especialistas como Dr. Liam Herringshaw acelera o processo de digitalização 3D e validação científica, contribuindo para aprofundar nosso entendimento sobre o habitat e o comportamento dos dinossauros jurássicos.