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Energia solar fracassa em grande estilo: Usina bilionária no deserto de Nevada se torna um monumento ao desperdício

Escrito por Rafaela Fabris
Publicado em 21/02/2025 às 16:00
Energia solar fracassa em grande estilo: Usina bilionária no deserto de Nevada se torna um monumento ao desperdício
A usina Crescent Dunes foi construída no deserto de Nevada para revolucionar a energia solar com uma tecnologia inovadora de armazenamento térmico em sais fundidos. O objetivo era fornecer eletricidade limpa e contínua para mais de 100.000 pessoas, superando as limitações dos painéis fotovoltaicos tradicionais.

Há dez anos, uma megausina de energia solar foi erguida no deserto de Nevada com uma promessa ousada: revolucionar a energia renovável e fornecer eletricidade limpa para mais de 100.000 pessoas. Com 10.347 espelhos refletindo a luz solar para uma torre de 200 metros, a Crescent Dunes parecia uma obra-prima da engenharia moderna.

Mas a realidade bateu forte. O que deveria ser um marco da energia solar tornou-se um desastre financeiro, resultando em processos judiciais, falência e uma usina que, em vez de gerar eletricidade, virou apenas um cenário futurista no meio do deserto. Afinal, por que um projeto de 1 bilhão de dólares se transformou em um dos maiores fracassos da energia solar?

A grande promessa da Crescent Dunes

A Crescent Dunes foi desenvolvida pela empresa SolarReserve, com apoio de investidores de peso, como Warren Buffet e o Citigroup, além de empréstimos garantidos pelo governo dos EUA. A ideia era ousada: usar uma tecnologia conhecida como CSP (Concentrated Solar Power), que permite armazenar calor em sais fundidos para gerar energia mesmo quando o sol não está brilhando.

Inspirada na pioneira Gemasolar, na Espanha, a usina de energia solar pretendia oferecer uma alternativa eficiente e estável à energia fotovoltaica tradicional. O contrato fechado com a companhia NV Energy previa a entrega de 500.000 MWh anuais por 25 anos, garantindo uma fonte de energia sustentável para a população de Nevada.

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Como a usina termosolar deveria funcionar

Mas a realidade foi bem diferente: os altos custos de manutenção, falhas técnicas e a concorrência dos painéis solares mais baratos tornaram o projeto economicamente inviável. No fim, a usina faliu, gerando prejuízos bilionários e se tornando um símbolo do fracasso da energia solar mal planejada.
Mas a realidade foi bem diferente: os altos custos de manutenção, falhas técnicas e a concorrência dos painéis solares mais baratos tornaram o projeto economicamente inviável. No fim, a usina faliu, gerando prejuízos bilionários e se tornando um símbolo do fracasso da energia solar mal planejada.

Diferente dos painéis solares convencionais, que convertem diretamente a luz em eletricidade, a Crescent Dunes utilizava um campo de heliostatos – espelhos que acompanhavam o sol e direcionavam sua luz para um receptor no topo da torre. Lá, sais fundidos eram aquecidos a mais de 560°C, permitindo a produção de energia térmica armazenável.

Na teoria, isso significava eletricidade 24 horas por dia, mesmo após o pôr do sol. Mas a prática revelou um problema sério: os custos eram altos demais para justificar a operação.

O desperdício milionário e os problemas do projeto de energia solar

Construir a Crescent Dunes custou 1 bilhão de dólares, e logo ficou claro que ela não era economicamente viável. O alto custo de manutenção, somado aos salários dos funcionários, tornava o projeto muito caro para competir com fazendas solares convencionais.

Para piorar, a energia solar vendida pela usina não era barata. Enquanto um megawatt-hora de energia fotovoltaica podia ser gerado por menos de 30 dólares, a Crescent Dunes operava a um custo estimado de 135 dólares por MWh. A matemática simplesmente não fechava.

Em 2019, após sucessivas falhas no fornecimento, a NV Energy entrou com um processo contra a SolarReserve, alegando que a empresa não estava cumprindo o contrato. O golpe final veio quando os próprios investidores processaram a SolarReserve por má gestão, alegando desperdício de recursos.

O governo dos EUA, que havia garantido parte do financiamento, também interveio, levando a usina à falência em 2020.

Por que a Crescent Dunes não deu certo?

Em 2015, quando a usina foi inaugurada, a energia termosolar já estava perdendo espaço. A tecnologia de painéis fotovoltaicos evoluiu rapidamente, tornando-se muito mais barata e eficiente. Enquanto o CSP ainda dependia de equipamentos complexos e manutenção cara, os painéis solares simplesmente funcionavam, sem a necessidade de espelhos móveis e armazenamento térmico.

O principal problema da Crescent Dunes foi apostar em uma tecnologia que já estava se tornando obsoleta. O crescimento das usinas solares tradicionais, aliado ao avanço das baterias de armazenamento de energia, tornou o CSP uma opção cara e pouco atrativa.

A engenharia do projeto da usina de energia solar também apresentou falhas. Bill Gould, um dos cofundadores da SolarReserve, culpou a empresa espanhola ACS Cobra, alegando que o tanque de armazenamento de sais fundidos foi mal projetado, o que comprometeu o funcionamento da usina.

Um novo capítulo? A tentativa de reativação da usina

Mesmo após a falência, a Crescent Dunes não foi completamente abandonada. Em 2021, a ACS Cobra assumiu o controle e firmou um novo contrato com a NV Energy, tentando reativar a usina.

No entanto, os resultados continuam decepcionantes. Em 2022, a Crescent Dunes gerou apenas 80.236 MWh, muito abaixo da meta original de 500.000 MWh. Ou seja, mesmo com nova gestão, a usina ainda está longe de ser um sucesso.

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Rafaela Fabris

Fala sobre inovação, energia renováveis, petróleo e gás. Com mais de 1.200 artigos publicados no G, atualiza diariamente sobre oportunidades no mercado de trabalho brasileiro. Sugestão de pauta: [email protected]

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