Mesmo com expansão internacional e alta demanda por produtos artesanais, empresas tradicionais do setor calçadista enfrentam uma crise silenciosa: o desinteresse crescente das novas gerações em ocupar vagas nas linhas de produção e chão de fábrica.
A falta de trabalhadores qualificados tem se tornado um desafio crescente em um dos setores mais tradicionais da indústria brasileira: o calçadista.
De acordo com Sergio Bocayuva, presidente da Usaflex, em entrevista ao portal UOL, a escassez de mão de obra não atinge apenas o ramo de calçados, mas o varejo como um todo, refletindo uma tendência clara nas novas gerações, que rejeitam trabalhos manuais no chão de fábrica.
Segundo ele, as pessoas hoje preferem cargos em ambientes automatizados ou em outras áreas, deixando uma lacuna difícil de preencher nas linhas produtivas que ainda dependem da expertise artesanal.
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Sergio Bocayuva participou recentemente do videocast “UOL Líderes”, do UOL Economia, onde explicou a complexidade que envolve a produção dos sapatos em couro, característica da Usaflex.
Embora alguns processos, como a costura, tenham sido automatizados, a maior parte da fabricação continua artesanal, o que exige um intenso trabalho de qualificação e treinamento dos funcionários.
Conforme ele, a empresa mantém uma escola interna dedicada a preparar novos profissionais, enfrentando diariamente o desafio de manter essa mão de obra especializada.
Para a fabricação de um único sapato, cerca de 150 pessoas estão envolvidas, sendo 80 na linha de produção e outras 70 na retaguarda, responsáveis pelo desenvolvimento e e.
Essa estrutura revela o grau de complexidade e a interdependência de cada etapa para garantir a qualidade final do produto.
Fundada em 1998 na cidade de Igrejinha, no Rio Grande do Sul, a Usaflex já expandiu sua atuação para além das fronteiras brasileiras, com mais de 300 franquias espalhadas pelo país e presença em 60 países.
Essa expansão internacional, contudo, não ameniza o problema de recrutamento e retenção de trabalhadores para as linhas de produção.
Desafios da indústria brasileira com mão de obra qualificada
O fenômeno da escassez de mão de obra na indústria brasileira não é isolado.
Setores como o calçadista, o têxtil e o metalúrgico enfrentam dificuldades semelhantes, agravadas pela transformação do mercado de trabalho e as mudanças geracionais nas expectativas profissionais.
Pesquisas recentes indicam que jovens entre 18 e 35 anos buscam cada vez mais profissões que ofereçam maior flexibilidade, ambiente tecnológico e possibilidade de crescimento, evitando postos considerados repetitivos ou que demandem esforço físico intenso.
Especialistas em recursos humanos explicam que o cenário também é influenciado por fatores sociais, econômicos e educacionais.
A falta de qualificação técnica adequada nas escolas e o desinteresse pelo trabalho em indústrias tradicionais dificultam o preenchimento das vagas.
Empresas, por sua vez, precisam investir em programas de capacitação e valorização dos colaboradores para superar esse gap.
No setor de calçados, o desafio é ainda maior devido à necessidade de manter processos artesanais que garantem a qualidade e o design dos produtos, características valorizadas pelo mercado.
A substituição completa por automação, apesar de desejada, não é viável em curto prazo, pois muitas etapas exigem delicadeza e conhecimento manual.
A Usaflex, conforme Sergio Bocayuva, destaca-se por investir em formação interna, criando um ambiente onde jovens podem aprender e crescer dentro da empresa.
Mesmo assim, o executivo alerta que o interesse da nova geração em trabalhar nessas funções é limitado.
“A gente percebe uma dificuldade muito grande. As novas gerações não querem trabalhar no chão de fábrica, a não ser aqueles equipamentos totalmente automatizados”, afirmou.
Impactos da escassez e caminhos para o futuro
O fenômeno de escassez de mão de obra pode trazer impactos significativos para a indústria nacional, comprometendo prazos, qualidade e competitividade.
Além disso, a dificuldade em encontrar profissionais qualificados pode levar à estagnação do setor e à perda de participação no mercado global.
Por outro lado, o cenário também impulsiona as empresas a inovarem e repensarem seus processos produtivos, com maior investimento em tecnologia, automação e qualificação profissional.
Essas ações podem, a médio e longo prazo, reverter a tendência, criando empregos mais atrativos e alinhados com o perfil das novas gerações.
Palavras-chave como escassez de mão de obra, indústria calçadista brasileira, produção artesanal, automação na indústria, e qualificação profissional são essenciais para compreender o contexto atual e os desafios enfrentados pelo setor.
Também é fundamental acompanhar as tendências de mercado e a transformação digital que podem moldar o futuro da indústria no país.
Diante deste cenário, fica a pergunta: como as empresas brasileiras podem equilibrar a necessidade de processos artesanais com a demanda crescente por automação e, ao mesmo tempo, atrair e reter jovens talentos para garantir o futuro da indústria nacional?