Especialistas afirmaram recentemente que a Ucrânia não dispõe das reservas significativas de terras raras especuladas por Donald Trump e Elon Musk. A declaração coloca em xeque teorias sobre supostos interesses estratégicos americanos no território ucraniano.
A recente de um acordo preliminar entre a Ucrânia e os Estados Unidos de Donald Trump, visando à exploração de minerais estratégicos, animou setores ligados à mobilidade elétrica e à energia limpa. No entanto, apesar do otimismo inicial, especialistas alertam que obstáculos técnicos, econômicos e geopolíticos limitam a viabilidade prática desse compromisso envolvendo terras raras.
Terras raras ucranianas que Donald Trump tanto quer
O acordo menciona especificamente as chamadas terras raras, essenciais para diversas tecnologias modernas.
Esses minerais são usados na fabricação de motores elétricos, eletrônicos de consumo, equipamentos militares e sistemas de navegação. Mais recentemente, ganharam importância nos data centers que impulsionam a Inteligência Artificial (IA).
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Vale lembrar que a demanda por terras raras disparou após Donald Trump anunciar um ambicioso estímulo econômico para o setor de IA.
O plano prevê grande volume desses minerais essenciais. Trump chegou a sugerir que o acordo Ucrânia-EUA poderia gerar até US$ 500 bilhões em lucros futuros.
No entanto, especialistas questionam a viabilidade prática dessas promessas. Javier Blas, analista da Bloomberg, afirmou recentemente que a Ucrânia não possui terras raras “comercialmente exploráveis“.
A declaração baseia-se em relatórios técnicos do Centro de Pesquisa Geológica ucraniano, que descrevem dificuldades geológicas como rochas fraturadas, riscos constantes de inundação e solos argilosos instáveis.
Além disso, a precisão dos dados geológicos disponíveis levanta dúvidas. Os mapas oficiais divulgados pelo governo de Volodymyr Zelensky ainda são os mesmos da era soviética, de acordo com estudo da consultoria S&P Insights.
Dessa forma, especialistas apontam a necessidade de atualizações rigorosas para confirmar se realmente existem reservas exploráveis de terras raras.
Infraestrutura e investimentos
Outro grande obstáculo apontado por especialistas diz respeito à infraestrutura energética da Ucrânia, severamente danificada pela guerra.
O Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS), em Washington, destacou recentemente que a mineração global consome quase 15% de toda eletricidade disponível no mundo. Mas, atualmente, a Ucrânia opera com apenas um terço de sua capacidade energética pré-conflito.
Esse cenário gera preocupação, uma vez que iniciar uma mina do zero pode levar até duas décadas segundo padrões internacionais. Arnoldus Van den Hurk, da consultoria especializada 4mining, esclarece que a Ucrânia hoje possui apenas “recursos inferidos” e não reservas comprovadas. Isso limita sua atratividade imediata para investidores internacionais.
Geopolítica das terras raras
O acordo, porém, tem relevância que vai além do aspecto puramente econômico. Para os Estados Unidos, trata-se de diversificar suas cadeias de suprimentos estratégicas, reduzindo a dependência da China. Hoje, a China domina aproximadamente 60% do mercado mundial desses minerais essenciais.
Entre os minerais estratégicos incluídos no acordo estão o gálio, crucial para semicondutores usados amplamente em tecnologias avançadas, e o háfnio, empregado principalmente na indústria militar.
Curiosamente, porém, o Serviço Geológico dos EUA não lista a Ucrânia como produtora conhecida de terras raras. O país possui sim reservas menores de lítio, cobalto e titânio, importantes em baterias e ligas metálicas leves.
No entanto, analistas alertam que esses volumes são bem menores comparados a outros players globais já estabelecidos no mercado, como Austrália e Brasil.
Implicações ambientais e oportunidades estratégicas
Outro aspecto do acordo envolve as questões ambientais ligadas à mineração. Os Estados Unidos e a União Europeia possuem regulamentações rigorosas no processamento desses minerais, muitas vezes limitando seu potencial de exploração.
Nesse cenário, a Ucrânia poderia oferecer uma janela de oportunidade estratégica, oferecendo condições regulatórias mais flexíveis devido à sua longa tradição em mineração e metalurgia.
No entanto, dúvidas permanecem sobre a capacidade técnica, financeira e ambiental da Ucrânia para competir globalmente em curto prazo.
A Europa, por sua vez, observa com cautela o acordo, preocupada com a possibilidade de desvio de investimentos originalmente destinados à sua própria transição verde.
Um futuro incerto, mas relevante
O acordo Kiev-Washington destaca um compromisso estratégico que mescla segurança nacional, transição energética e competição global.
Embora as terras raras ucranianas sejam alvo de ceticismo técnico bem fundamentado, o potencial em lítio e outros minerais essenciais permanece real.
O desafio para Ucrânia e Estados Unidos será, portanto, equilibrar ambições geopolíticas com limitações econômicas e sustentáveis do presente.
Um equilíbrio delicado, mas fundamental para garantir um lugar estratégico no futuro da mobilidade elétrica e das tecnologias avançadas, fundamentais para as próximas décadas.