Após quase três décadas sem expansão ferroviária, uma nova linha será construída em Mato Grosso do Sul. A obra promete transformar o escoamento da produção industrial, movimentar bilhões em investimentos e redesenhar a logística nacional com um projeto inédito no país.
Após quase três décadas sem novos trilhos, o estado de Mato Grosso do Sul se prepara para receber uma nova ferrovia.
A construção de um ramal ferroviário em Inocência, cidade a 330 km de Campo Grande, foi aprovada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), marcando o primeiro projeto do tipo em 27 anos.
A iniciativa é liderada pela empresa chilena Arauco Celulose, que recebeu autorização para explorar o trecho por 99 anos.
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O ramal de 47 km vai ligar a futura fábrica da empresa à Malha Norte, sistema ferroviário estratégico para o escoamento da produção.
A expectativa é de que as obras comecem em setembro de 2025, com investimentos que ultraam R$ 1 bilhão.
Segundo Jaime Verruck, secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), esta será a primeira ferrovia do país a ser autorizada dentro do novo regime de autorizações da ANTT, estabelecido para agilizar projetos de infraestrutura.
“A ANTT já autorizou a construção, e a Rumo também confirmou a conexão com a malha existente”, afirmou o secretário.
Logística de exportação 100% ferroviária
A Malha Norte é uma ferrovia brasileira de 755 km que liga Santa Fé do Sul (SP) a Rondonópolis (MT), e é atualmente operada pela Rumo Logística.
Essa mesma empresa também istra a Malha Oeste, que percorre parte significativa de Mato Grosso do Sul.
Com o novo ramal, a Arauco será a primeira companhia do setor no estado a realizar exportações exclusivamente por trem, sem depender do transporte rodoviário.
“O trem sairá carregado direto da fábrica e seguirá até o Porto de Santos, onde a carga será embarcada em um terminal próprio”, explicou Verruck.
Atualmente, outras empresas utilizam o transporte rodoviário combinado com trechos ferroviários, o que torna a operação mais complexa e custosa.
Essa mudança promete reduzir custos logísticos, aumentar a eficiência e melhorar a competitividade do produto no mercado internacional.
O projeto ainda depende da emissão da Declaração de Utilidade Pública (DUP), documento necessário para a desapropriação das áreas onde os trilhos serão instalados.
“Todos os processos estão resolvidos. A previsão é que, em setembro, com a DUP emitida, as obras possam começar”, destacou Verruck.
Segundo ele, o custo estimado da ferrovia gira em torno de R$ 1 bilhão, considerando o valor médio de R$ 22 milhões por quilômetro construído.
Além da ferrovia, a Arauco está investindo fortemente no município com a construção de uma nova fábrica de celulose, cujo orçamento chega a US$ 4,6 bilhões (aproximadamente R$ 25 bilhões).
A pedra fundamental da unidade foi lançada com a presença do vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, reforçando a importância estratégica do projeto.
Outras empresas querem trilhos próprios
A Arauco não é a única gigante do setor com planos ambiciosos em Mato Grosso do Sul.
Outras empresas também se movimentam para construir seus próprios ramais ferroviários e facilitar a logística de exportação da celulose.
A Suzano Celulose solicitou autorização para um trecho de 231 km, ligando Ribas do Rio Pardo a Inocência, com investimento previsto de R$ 1,77 bilhão.
A empresa também planeja construir um ramal de 24,7 km entre unidades localizadas em Três Lagoas e a ferrovia da Rumo, com aporte estimado em R$ 170 milhões.
Outro projeto da Suzano inclui uma ferrovia entre Três Lagoas e Aparecida do Taboado, com custo previsto de R$ 1,1 bilhão.
Já a Eldorado Celulose recebeu licença prévia para um ramal de 89 km, conectando sua planta em Três Lagoas à Ferronorte, também em Aparecida do Taboado.
O investimento da Eldorado é estimado em R$ 890 milhões.
No entanto, segundo Verruck, os projetos da Suzano e da Eldorado estão momentaneamente paralisados.
“Essas empresas aguardam definições sobre a recomposição da Malha Oeste para avançar com seus projetos”, explicou.
Malha Oeste é peça-chave para o futuro logístico
A chamada Malha Oeste, que conecta Mato Grosso do Sul a São Paulo, é vista como fundamental para a consolidação de uma malha ferroviária eficiente na região.
O governo estadual aposta na revitalização dessa ferrovia para potencializar o escoamento da produção agrícola e industrial.
“A logística da celulose depende diretamente da Malha Oeste”, reforçou Verruck.
“Queremos conectá-la à Malha Norte, criando um corredor ferroviário que atenda toda a produção local.”
O Ministério dos Transportes já iniciou tratativas para renovar a concessão da Malha Oeste e, ao mesmo tempo, implementar melhorias no traçado.
O novo contrato, em discussão, prevê a devolução de 650 km do trecho paulista da ferrovia, que poderá ser adaptado futuramente para o transporte de ageiros.
Em contrapartida, a Rumo Logística manterá exclusividade sobre o trecho sul-mato-grossense e deverá investir em 137 km adicionais de trilhos.
O projeto completo, que visa integrar a Malha Oeste à Malha Paulista, está orçado em R$ 2,7 bilhões.
Hoje, Mato Grosso do Sul possui cerca de 800 km de ferrovias entre Corumbá e Três Lagoas, além de 355 km no trecho entre Campo Grande e Ponta Porã.
Grande parte dessa malha, porém, necessita de modernização para ar o crescimento do setor de celulose e de outras cadeias produtivas.
Nova era dos trilhos em Mato Grosso do Sul
A chegada do novo ramal ferroviário marca um momento histórico para o estado, que há 27 anos não via investimentos relevantes nesse modal.
Com a ampliação da malha ferroviária, o governo do Estado espera transformar Mato Grosso do Sul em um hub logístico nacional, especialmente voltado à exportação.
Além de beneficiar a indústria de celulose, os novos trilhos poderão impulsionar o agronegócio, encurtar distâncias e reduzir a emissão de poluentes, substituindo parte do transporte rodoviário.
O modal ferroviário é considerado mais sustentável, seguro e competitivo, e vem ganhando protagonismo na pauta de infraestrutura do país.
Com investimentos bilionários sendo anunciados e projetos saindo do papel, Mato Grosso do Sul parece estar no trilho certo para um novo ciclo de crescimento.
E você, acredita que o Brasil deveria apostar mais em ferrovias para modernizar sua logística e reduzir custos no transporte de cargas?