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Estaleiro Atlântico Sul: como surgiu o maior estaleiro do Hemisfério Sul com apoio estatal e foco na indústria naval brasileira

Escrito por Débora Araújo
Publicado em 05/05/2025 às 09:24
Estaleiro Atlântico Sul como surgiu o maior estaleiro do Hemisfério Sul com apoio estatal e foco na indústria naval brasileira
Imagem gerada por inteligência artificial

Com 1,5 milhão de metros quadrados e capacidade para construir dois navios-plataforma simultaneamente, o Estaleiro Atlântico Sul se tornou símbolo da retomada da indústria naval brasileira e referência em construção naval de grande porte.

A história do Estaleiro Atlântico Sul (EAS) começa como parte de uma política pública ambiciosa: o Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (Promef), lançado para reduzir a dependência do Brasil da indústria naval internacional e fortalecer a produção nacional de navios.

Localizado no complexo industrial de Suape, em Ipojuca (PE), o estaleiro foi fundado com apoio estatal e aportes financeiros significativos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), da Petrobras e de investidores privados. O objetivo era claro: criar uma infraestrutura capaz de competir com gigantes internacionais e impulsionar a indústria naval brasileira.

Em operação desde setembro de 2008, o EAS nasceu como o primeiro estaleiro virtual do país, um conceito onde a infraestrutura é criada já com uma carteira robusta de encomendas, garantindo escala desde o início. Esse modelo permitiu que o estaleiro fosse lançado com base em contratos firmados, principalmente com a Transpetro, subsidiária da Petrobras.

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Um colosso da construção naval brasileira

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A grandiosidade do maior estaleiro do Hemisfério Sul impressiona: com área total de 1,5 milhão de m², o Estaleiro Atlântico Sul possui capacidade instalada para construção simultânea de dois FPSOs (Floating Production Storage and Offloading), plataformas que produzem, armazenam e transferem petróleo no mar.

Seu parque industrial conta com dois pórticos de 1.500 toneladas cada, duas linhas de montagem e dois cais. A capacidade de processamento de aço é de 160 mil toneladas por ano, o que o posiciona como um dos maiores e mais completos estaleiros em atividade no planeta.

Além de sua estrutura física, o estaleiro foi concebido para priorizar conteúdo local, ou seja, a utilização de materiais, mão de obra e serviços nacionais em suas obras. Essa diretriz, determinada pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), impulsionou a economia brasileira e gerou milhares de empregos diretos e indiretos.

Os primeiros frutos: navios Suezmax e a virada histórica

O grande marco da operação do estaleiro ocorreu em maio de 2010, com o lançamento do João Candido, primeiro navio do tipo Suezmax construído pelo EAS. Com 71% de conteúdo local, o navio de grande porte representou o renascimento da construção naval de alta complexidade no Brasil. Sua entrega foi celebrada como símbolo da capacidade nacional de competir no setor.

Na sequência, vieram o Zumbi dos Palmares, entregue em maio de 2013 com 74% de conteúdo local, e o Dragão do Mar, finalizado em dezembro do mesmo ano com 65%. Todos faziam parte do primeiro lote de 10 navios Suezmax, contratados em 2007, que deram viabilidade econômica à construção do estaleiro.

Com esses projetos, o Estaleiro Atlântico Sul consolidou sua posição estratégica na produção de grandes embarcações, essenciais para o transporte de petróleo bruto, operando em rotas internacionais com capacidade acima de 150 mil toneladas.

Crescimento com foco em navios petroleiros e tecnologia nacional

Ao longo dos anos, o EAS ampliou sua atuação com novos contratos firmados com a Transpetro e outras subsidiárias da Petrobras. Atualmente, o estaleiro tem em sua carteira a construção de 22 dos 49 navios petroleiros previstos no Promef, incluindo:

  • 5 Aframax (68% de conteúdo local)
  • 4 Suezmax adicionais (73%)
  • 3 Aframax DP (73%)

Os navios Aframax são essenciais para operar em portos comerciais de médio porte, enquanto os Aframax DP (Dynamic Positioning) possuem sistemas avançados de navegação autônoma, que permitem operar com maior segurança em áreas sensíveis.

Essa diversidade de embarcações amplia o know-how do estaleiro, reforçando sua contribuição à indústria naval brasileira com aplicação de tecnologia nacional e alto índice de integração produtiva.

Estaleiro Atlântico Sul na era do pré-sal: navios-sonda e FPSOs

Com o avanço da exploração do pré-sal, o EAS ou a atuar também na construção de navios-sonda, essenciais para perfuração de poços submarinos em grandes profundidades. Seis dessas unidades foram contratadas para operar no offshore brasileiro, todas com destino à Petrobras.

Dentre elas, destacam-se a Sonda Copacabana, cuja entrega foi prevista para o 1º trimestre de 2016, e a Grumari, com entrega programada para o 3º trimestre do mesmo ano. As demais sondas estavam planejadas para serem finalizadas até o fim de 2018.

Além dos navios-sonda, o EAS também participou de grandes projetos de plataformas FPSO. Um exemplo emblemático foi a P-62, entregue em dezembro de 2013 após a conclusão da integração entre casco e módulos. Com 63% de conteúdo local, a P-62 ou a operar no campo de Roncador, na Bacia de Campos, com capacidade de processar 180 mil barris de petróleo por dia.

Um legado ampliado com a P-55, uma das maiores do mundo

Outra obra marcante foi a plataforma semissubmersível P-55, finalizada no Estaleiro Rio Grande 1 em setembro de 2013, mas com participação decisiva do EAS. A unidade, com 52 mil toneladas e capacidade de produção de 180 mil barris por dia, é a maior da sua categoria já construída no Brasil e uma das maiores do mundo.

A P-55 é um ícone de engenharia naval e simboliza a capacidade da indústria brasileira em construir estruturas de altíssimo desempenho e complexidade técnica. O projeto foi desenvolvido com 79% de conteúdo local, reforçando o protagonismo nacional em projetos offshore.

Estaleiro Atlântico Sul e os desafios da indústria naval brasileira

Apesar de sua estrutura moderna e histórico relevante, o Estaleiro Atlântico Sul também enfrentou desafios típicos da indústria naval brasileira, marcada por oscilações de demanda, dependência de contratos estatais e mudanças no cenário político-econômico.

A desaceleração dos investimentos da Petrobras e o encolhimento dos projetos do pré-sal impactaram diretamente a produção. Além disso, o avanço da construção naval asiática e os custos elevados de produção no Brasil geraram pressões competitivas adicionais.

Mesmo diante dessas adversidades, o estaleiro tem buscado diversificação de carteira, reestruturação istrativa e maior inserção no mercado internacional.

A importância estratégica do maior estaleiro do Hemisfério Sul

O maior estaleiro do Hemisfério Sul não é apenas uma unidade industrial de grande porte — ele é uma infraestrutura estratégica para a soberania nacional e a cadeia de óleo e gás no Brasil. Com ele, o país garante maior autonomia em logística marítima, e à produção offshore e geração de empregos qualificados em engenharia, soldagem, metalurgia e gestão de projetos.

Além disso, a presença do EAS no Nordeste contribuiu para o desenvolvimento regional, com transferência de tecnologia, formação de mão de obra local e estímulo ao setor metalomecânico em Pernambuco.

Perspectivas para o futuro da construção naval no Brasil

A retomada da construção naval brasileira depende de políticas de incentivo à indústria de base, contratos sustentáveis com operadoras do setor de energia e maior integração entre os estaleiros nacionais.

O Estaleiro Atlântico Sul está bem-posicionado para participar dessa retomada, especialmente com os novos investimentos da Petrobras no pré-sal, as exigências de conteúdo local e a necessidade de reposição da frota de navios e plataformas nos próximos anos.

O setor também começa a olhar com mais atenção para tecnologias sustentáveis, embarcações híbridas e soluções de eficiência energética, que podem abrir novas oportunidades para o EAS se adaptar à transição energética global.

O Estaleiro Atlântico Sul representa um marco na construção naval brasileira, combinando capacidade técnica, infraestrutura de ponta e protagonismo em grandes projetos de óleo e gás. Sua criação foi um o ousado e estratégico, que fortaleceu a indústria nacional e posicionou o Brasil entre os países capazes de produzir embarcações e plataformas de grande porte.

Mesmo com desafios, sua contribuição para a economia, a geração de empregos e a autonomia industrial é inegável. O futuro do estaleiro depende de uma articulação entre governo, empresas e políticas industriais que garantam previsibilidade e inovação constante.

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Nicholaus Lind
Nicholaus Lind
05/05/2025 09:44

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Débora Araújo

Escrevo sobre energias renováveis, automóveis, ciência e tecnologia, indústria e as principais tendências do mercado de trabalho. Com um olhar atento às evoluções globais e atualizações diárias, dedico-me a compartilhar sempre informações relevantes.

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