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Estrela misteriosa emite ondas de rádio e raios X com comportamento nunca visto na Via Láctea

Escrito por Fabio Lucas Carvalho
Publicado em 02/06/2025 às 10:32
ondas de rádio, estrela
Uma composição de emissão de rádio, raios X e infravermelho do campo de ASKAP J1832-0911. Crédito da imagem: Wang et al ., doi: 10.1038/s41586-025-09077-w.

Objeto celeste a 15 mil anos-luz intriga astrônomos ao emitir pulsos regulares de ondas de rádio e raios X nunca vistos na Via Láctea.

Os astrônomos estão diante de um fenômeno raro e intrigante. Uma estrela localizada a cerca de 15.000 anos-luz da Terra, na constelação de Scutum, apresenta um comportamento que surpreende os cientistas. Nomeada ASKAP J1832-0911, ela emite pulsos de ondas de rádio e raios X de forma extremamente peculiar.

Descoberta com radiotelescópio na Austrália

A detecção da ASKAP J1832-0911 foi realizada por meio do radiotelescópio ASKAP, na Austrália. Ela pertence a uma categoria chamada transientes de rádio de longo período.

Esses objetos foram identificados pela primeira vez em 2022 e se caracterizam por emitir ondas de rádio com variações regulares ao longo de dezenas de minutos.

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Diferentemente dos pulsares, que giram rapidamente e apresentam variações de segundos, os transientes de rádio de longo período têm ciclos bem mais longos. No caso da ASKAP J1832-0911, os pulsos ocorrem a cada 44 minutos, durando dois minutos a cada ciclo.

O Dr. Ziteng Wang, da Curtin University no Centro Internacional de Pesquisa em Radioastronomia (ICRAR), explica que essa periodicidade coloca o objeto na classe dos transientes de longo período. “ASKAP J1832-0911 apresenta ciclos de intensidade de ondas de rádio a cada 44 minutos, o que o coloca nesta categoria”, afirma Wang.

Sinais inéditos em raios X

Além das ondas de rádio, os pesquisadores utilizaram o Observatório de Raios X Chandra, da NASA, e identificaram algo ainda mais surpreendente. Pela primeira vez, um transiente de rádio de longo período mostrou variações regulares também em raios X, com o mesmo ciclo de 44 minutos.

O Dr. Wang destaca a novidade da descoberta: “Os astrônomos observaram inúmeras estrelas com todos os tipos de telescópios e nunca vimos nenhuma que agisse dessa maneira. É emocionante ver um novo tipo de comportamento para as estrelas.”

Variações ao longo de meses

As análises continuaram com o uso conjunto do Chandra e do SKA Pathfinder. Os cientistas perceberam que, em um período de seis meses, houve uma queda acentuada tanto na emissão de raios X quanto nas ondas de rádio. Essa combinação de ciclos regulares de 44 minutos e variações que se estendem por meses não tem precedentes conhecidos na Via Láctea.

A equipe agora busca compreender se o comportamento da ASKAP J1832-0911 é típico dos transientes de rádio de longo período ou se representa um caso único dentro dessa categoria ainda recente na astronomia.

Possíveis explicações para o fenômeno

Várias hipóteses estão sendo consideradas pelos cientistas. A Dra. Nanda Rea, do Instituto de Ciências Espaciais de Barcelona, comenta: “Observamos diversas possibilidades diferentes envolvendo estrelas de nêutrons e anãs brancas, isoladas ou com estrelas companheiras. Até agora nada bate exatamente, mas algumas ideias funcionam melhor que outras.

Os pesquisadores descartam que a ASKAP J1832-0911 seja um pulsar clássico ou uma estrela de nêutrons capturando material de uma companheira, já que suas propriedades não coincidem com as emissões típicas desses objetos.

Uma das possibilidades cogitadas é que se trate de um magnetar, uma estrela de nêutrons com campo magnético extremamente forte, com idade superior a 500.000 anos.

No entanto, o brilho e a variabilidade da emissão de rádio tornam essa hipótese difícil de ser confirmada para um magnetar tão antigo.

Associação com supernova descartada

No céu, ASKAP J1832-0911 aparece visualmente dentro de um remanescente de supernova. Normalmente, essas regiões contêm uma estrela de nêutrons formada após a explosão estelar.

Porém, os cientistas determinaram que a proximidade é apenas aparente e que não existe ligação física entre os dois. Isso leva a equipe a explorar outras possibilidades que não envolvem uma estrela de nêutrons.

Hipótese extrema com anã branca

Os pesquisadores consideram ainda que uma anã branca com uma estrela companheira possa ser responsável pelos sinais observados. Contudo, isso exigiria um campo magnético extremamente elevado — o mais forte já registrado para uma anã branca em nossa galáxia.

Mistério que alimenta a ciência

O Dr. Tong Bao, do Instituto Nacional Italiano de Astrofísica (INAF), resume o espírito da investigação: “Continuaremos buscando pistas sobre o que está acontecendo com este objeto e procuraremos por objetos semelhantes. Descobrir um mistério como esse não é frustrante — é o que torna a ciência emocionante!

Artigo publicado na revista Nature.

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Fabio Lucas Carvalho

Jornalista especializado em uma ampla variedade de temas, como carros, tecnologia, política, indústria naval, geopolítica, energia renovável e economia. Atuo desde 2015 com publicações de destaque em grandes portais de notícias. Minha formação em Gestão em Tecnologia da Informação pela Faculdade de Petrolina (Facape) agrega uma perspectiva técnica única às minhas análises e reportagens. Com mais de 10 mil artigos publicados em veículos de renome, busco sempre trazer informações detalhadas e percepções relevantes para o leitor. Para sugestões de pauta ou qualquer dúvida, entre em contato pelo e-mail [email protected].

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