Estudo revela que painéis solares no deserto, além de gerar energia limpa, ajudam a revitalizar o solo degradado, reduzindo a temperatura e aumentando a umidade.
Pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Xi’an, na China, divulgaram recentemente os resultados de um estudo que investigou os impactos ambientais da instalação de painéis solares em uma das regiões mais áridas do país. O estudo foi realizado no Deserto de Talatan, na província de Qinghai, onde funciona o Parque Fotovoltaico de Gonghe, uma das maiores usinas de energia solar da região, com capacidade instalada de 1 gigawatt.
A pesquisa avaliou de forma científica como os painéis solares, ao ocuparem grandes extensões de solo desértico, podem alterar as condições do ambiente. Além da geração de energia solar, os dados revelaram um potencial efeito positivo: a revitalização parcial do solo em áreas sob os painéis, que antes sofriam com degradação, alta temperatura e baixa umidade.
Sombra dos painéis solares influencia o solo do deserto
Um dos principais efeitos observados pelos cientistas está relacionado à sombra gerada pelos painéis solares. Essa cobertura parcial reduz a incidência direta dos raios solares sobre o solo, o que ajuda a diminuir a temperatura superficial e reduz a taxa de evaporação da água presente no solo arenoso do deserto.
-
A China vai comprar o Brasil? Chineses agora estão de olho na Eletrobras, a principal empresa de energia brasileiras
-
China deixa o mundo sem palavras ao produzir energia lançando água de uma altura equivalente à metade do Everest
-
China conectou a maior turbina eólica do mundo: esse monstro de 15 MW tem hélices que medem 131 metros e está alterando o microclima da região
-
Investimentos em energia renovável movimentam mais de R$ 580 milhões no Nordeste e transformam comunidades locais
Essa diminuição da perda de umidade cria um microclima mais favorável para o crescimento de vegetação rústica, que consegue se desenvolver mesmo com pouca água. Os pesquisadores notaram um aumento na cobertura vegetal nas áreas sombreadas pelos painéis, em comparação com áreas desertas próximas que não têm esse tipo de estrutura instalada.
Energia solar e revitalização ambiental caminham juntas
O estudo utilizou um modelo científico conhecido como DPSIR, que considera indicadores como forças motrizes, pressões, estado, impacto e respostas do sistema ambiental. Foram analisados 57 indicadores relacionados ao solo, à biodiversidade e ao clima local.
Os dados obtidos mostraram que a presença dos painéis solares teve impacto direto no equilíbrio do ecossistema local. As áreas que receberam sombra constante apresentaram mais retenção de água no solo, menor temperatura média e surgimento de espécies vegetais adaptadas ao ambiente semiárido.
Embora o objetivo principal dos projetos fotovoltaicos seja a produção de energia solar limpa, os pesquisadores destacam que essas mudanças podem representar um caminho adicional para combater a desertificação em algumas regiões da China. A instalação controlada e planejada dos equipamentos, segundo o estudo, pode ser aproveitada também como uma medida de recuperação ambiental.
Parque solar de Gonghe é referência no uso do deserto
O local escolhido para a pesquisa, o Parque Fotovoltaico de Gonghe, foi ideal para o estudo por estar instalado em uma região desértica com pouca interferência humana. O deserto de Talatan possui características típicas de áreas áridas, com ventos constantes, temperaturas extremas e escassez de vegetação nativa.
A usina de Gonghe opera com painéis solares distribuídos por quilômetros de terreno plano, o que permitiu aos pesquisadores avaliar com precisão os efeitos da instalação sobre diferentes áreas de solo e vegetação. A comparação entre zonas com cobertura solar e áreas não cobertas trouxe dados consistentes sobre os impactos do uso da energia solar no ambiente local.
China aposta na energia solar em regiões desérticas
A China tem ampliado seus investimentos em energia solar, principalmente em regiões de deserto e semiárido. A estratégia do país asiático é utilizar essas áreas de baixo uso agrícola para a instalação de grandes parques fotovoltaicos. Além de contribuir para a matriz energética limpa, esses projetos vêm sendo observados por seu possível papel na recuperação ambiental de solos degradados.
A combinação de condições climáticas favoráveis, como alta incidência solar, com grandes extensões de terra disponíveis, torna o deserto uma área estratégica para o avanço da energia solar. Ao mesmo tempo, estudos como o realizado pela Universidade de Xi’an abrem novas possibilidades de aproveitamento sustentável dessas regiões.
Pesquisadores destacam que ainda são necessários novos estudos
Os pesquisadores chineses destacam que ainda são necessários novos estudos para entender os efeitos de longo prazo dessa convivência entre painéis solares e o solo do deserto. Questões como a adaptação da vegetação, o uso consciente da área e os impactos na fauna local ainda precisam ser melhor compreendidos.
Mesmo assim, os dados iniciais são considerados positivos. A pesquisa mostra que é possível aliar geração de energia solar com práticas de conservação ambiental, principalmente em regiões onde o solo já se encontra em estado avançado de degradação.
A expectativa é que, com mais dados e planejamento, projetos de energia solar em desertos possam ser pensados não apenas como fontes de eletricidade, mas também como instrumentos de restauração ambiental em larga escala.
Fontes: Nature (Scientific Reports)