Inspirado na antiga “Guerra nas Estrelas” de Ronald Reagan, o “domo de ouro” anunciado por Donald Trump visa proteger os Estados Unidos de ameaças hipersônicas, balísticas e espaciais. Mas será mesmo possível criar um escudo antimísseis funcional sobre um território de dimensões continentais?
No dia 20 de maio, o ex-presidente Donald Trump — agora em seu segundo mandato — anunciou oficialmente, do Salão Oval da Casa Branca, a criação do “domo de ouro”, um escudo antimísseis de proporções continentais, com um orçamento estimado em US$ 175 bilhões. Segundo Trump, o “domo de ouro” dos EUA terá a capacidade de interceptar mísseis lançados da Terra ou do espaço, inclusive aqueles do outro lado do mundo, como mísseis hipersônicos capazes de atingir velocidades superiores a 9.600 km/h.
A proposta é ambiciosa: proteger toda a extensão territorial dos Estados Unidos, que é cerca de 400 vezes maior do que Israel, país que atualmente utiliza o famoso Domo de Ferro para sua defesa aérea. Trump comparou os projetos, afirmando que o “domo de ouro” será “muito mais avançado em termos de tecnologia”.
Escudo antimísseis anunciado por Trump: quais são seus objetivos?
O escudo antimísseis anunciado por Trump tem como missão:
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- Detectar, rastrear e destruir ameaças aéreas e espaciais, como mísseis balísticos intercontinentais (ICBMs), mísseis de cruzeiro e mísseis hipersônicos;
- Proteger o país de ataques de drones armados, incluindo versões com ogivas nucleares;
- Cobrir o território americano com uma malha de radares, satélites, sensores e interceptores terrestres e espaciais;
- Reforçar o papel geopolítico dos EUA em um cenário de crescente tensão militar com Rússia, China, Coreia do Norte e Irã.
A coordenação do projeto ficará sob responsabilidade do Pentágono, especialmente do vice-chefe de operações espaciais, general Michael Guetlein, que declarou:
“O Domo de Ouro é uma abordagem ousada e agressiva para proteger rapidamente nosso território de nossos adversários.”
Por que o “domo de ouro” foi proposto agora?
A proposta do “domo de ouro” dos EUA surge em um contexto de crescimento acelerado das capacidades militares das principais potências rivais dos Estados Unidos:
- Rússia e China modernizaram seus arsenais nucleares, desenvolvendo novos tipos de mísseis de longo alcance e ogivas manobráveis;
- A China já testa mísseis hipersônicos com alcance intercontinental;
- A Coreia do Norte segue com testes balísticos e avanço em tecnologia nuclear.
O Departamento de Defesa dos EUA reconheceu, por meio de um briefing da Agência de Inteligência de Defesa, que essas ameaças “aumentarão em escala e sofisticação” nos próximos anos e que os EUA precisam agir com urgência para não serem superados.
O legado de Reagan: o retorno da “Guerra nas Estrelas”
O conceito de um escudo defensivo total não é novo. Nos anos 1980, o presidente Ronald Reagan apresentou a chamada Iniciativa de Defesa Estratégica (IDE), que ficou conhecida como “Guerra nas Estrelas”.
O objetivo, na época, era utilizar satélites armados com lasers e interceptores em órbita para bloquear mísseis soviéticos antes que atingissem os EUA. Apesar dos investimentos bilionários, o projeto foi abandonado por limitações tecnológicas e altos custos.
Trump retomou essa ideia afirmando:
“Ronald Reagan queria isso há muitos anos, mas eles não tinham a tecnologia. Agora, teremos. E será no mais alto nível.”
Quanto custará o escudo antimísseis dos EUA?
De acordo com Trump, o governo já alocou US$ 25 bilhões iniciais em seu novo orçamento — atualmente em discussão no Congresso. A expectativa é atingir o valor total de US$ 175 bilhões até 2029, quando seu segundo mandato termina.
No entanto, o Congressional Budget Office (CBO) — órgão oficial do Congresso que analisa viabilidade orçamentária — estimou que apenas a construção dos componentes espaciais do sistema pode custar até US$ 542 bilhões ao longo de 20 anos.
Esse custo considera:
- Lançamento e operação de centenas de satélites defensivos;
- Instalação de sistemas de rastreamento global;
- Interceptores baseados em terra, mar e ar;
- Desenvolvimento de um sistema de comando e controle que integre todos os elementos em tempo real.
Como funcionaria o “domo de ouro”?
Segundo especialistas militares, o “domo de ouro” não será um sistema único, mas sim um conjunto de mais de 100 sistemas interligados, que juntos formariam uma rede de proteção completa sobre o território americano.
Entre os componentes previstos:
- Satélites de vigilância em órbita baixa e geoestacionária;
- Interceptores terrestres, como mísseis THAAD (Terminal High Altitude Area Defense);
- Sistemas antimísseis baseados em navios, como os destróieres Aegis;
- Drones armados e caças de interceptação automática;
- Sistemas de radar e inteligência artificial para detectar, rastrear e prever rotas de ataque;
- Centros de comando integrados ao NORAD, órgão responsável pela defesa aérea da América do Norte.
Canadá quer participar do “domo de ouro” dos EUA
Segundo Trump, o Canadá manifestou interesse em integrar o projeto. A cooperação bilateral se daria por meio do comando conjunto do NORAD (North American Aerospace Defense Command), uma aliança militar entre os dois países desde 1958.
A ideia é ampliar a cobertura do escudo para proteger também o território canadense, especialmente o Ártico, região estratégica frente às ambições militares da Rússia na região polar.
Quais as críticas ao projeto?
Apesar do entusiasmo do governo Trump, especialistas apontam desafios significativos para o “domo de ouro” dos EUA:
- Custo astronômico e imprevisível;
- Limitações tecnológicas, especialmente na detecção e interceptação de mísseis hipersônicos;
- Alto risco de falhas sistêmicas, com margens mínimas de erro;
- Dependência de inteligência artificial para tomada de decisões em segundos, o que pode gerar problemas éticos e de confiabilidade;
- Escalada militar, já que o sistema pode ser visto como provocação por China e Rússia.
O analista de segurança W.J. Hennigan, do New York Times, escreveu:
“As partes mais interessantes do programa ainda não estão claras: como seria o sistema, quem o construiria, e como ele protegeria de forma confiável os americanos contra ameaças de mísseis em constante evolução.”
O escudo antimísseis é viável tecnicamente?
Mísseis hipersônicos podem atingir velocidades superiores a Mach 10 (12.000 km/h) e realizar manobras durante o voo, dificultando sua interceptação. Detectá-los e reagir em tempo hábil exige inteligência artificial avançada, radares de altíssima precisão e interceptores ultrarrápidos.
Enquanto os sistemas de defesa atuais, como o Domo de Ferro de Israel, funcionam bem contra mísseis de curto alcance, proteger um país do tamanho dos EUA exige uma arquitetura completamente nova e inédita na história da guerra moderna.
Quando o “domo de ouro” ficará pronto?
Segundo Trump, o sistema deverá estar operacional antes do fim de seu segundo mandato, ou seja, até 2029. No entanto, analistas independentes duvidam desse cronograma, considerando que apenas o desenvolvimento de protótipos pode levar mais de cinco anos.
Além disso, mesmo se as tecnologias forem desenvolvidas a tempo, a implantação de infraestrutura militar em todo o território norte-americano exigirá aprovação do Congresso, contratos com fornecedores, testes e certificações.