Mineradores na extração de enxofre arriscam a vida em ambientes tóxicos e inseguros, sem equipamento de proteção, para ganhar salários extremamente baixos.
O ambiente, repleto de gases tóxicos que ardem nos olhos e queimam os pulmões, parece inabitável. Ainda assim, desde 1968, mineradores de enxofre enfrentam diariamente essas condições extremas. Eles descem à cratera do vulcão ativo para extrair o chamado “ouro do diabo”.
Esta rotina, exaustiva e perigosa, tornou-se também uma atração turística controversa, levantando questionamentos sobre ética, sobrevivência e exploração.
O Monte Ijen abriga uma das últimas minas de enxofre ativas do mundo. Os mineradores iniciam sua jornada por volta das duas da manhã. Eles percorrem as encostas de quase 2.800 metros de altura, sob a escuridão, até a cratera do vulcão. Lá, cercados por fumaça tóxica e calor intenso, extraem blocos de enxofre endurecido.
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Cada trabalhador carrega entre 68 e 90 quilos de enxofre em cestos., fazendo a árdua subida duas vezes ao dia. Segundo reportagem do Insider, muitos trabalhadores não vivem além dos 50 anos.
Apesar do perigo, a mineração de enxofre continua sendo uma das profissões mais bem remuneradas da região. Os mineradores, respeitados em suas comunidades, orgulham-se de sua força física e do papel fundamental que desempenham na economia local.
Além disso, a reportagem afirmou que a empresa paga pelo peso da carga. Os trabalhadores recebem cerca de 9 centavos de dólar por quilo. Em duas viagens, os trabalhadores podem ganhar até 17 dólares por dia.
O fascínio das chamas azuis e do Lago Ácido
Enquanto os mineradores de enxofre enfrentam condições desumanas, centenas de turistas correm para o Monte Ijen durante a madrugada. Eles buscam testemunhar o fenômeno natural das icônicas chamas azuis, visíveis apenas à noite.
Outro atrativo é o lago turquesa na cratera de 800 metros, cuja acidez é tão intensa que pode dissolver metal. Este lago é o maior lago ácido da Terra, um espetáculo hipnotizante e perigoso.
Entretanto, essa beleza impressionante esconde riscos sérios. A exposição aos gases tóxicos é prejudicial, tanto para trabalhadores quanto para visitantes.
O ambiente hostil transforma o Monte Ijen em um local onde o turismo e o perigo coexistem, gerando debates sobre o impacto e a responsabilidade do turismo em áreas de risco.
Turismo ou voyeurismo?
O Monte Ijen não é apenas um destino natural, mas também um palco de uma prática turística controversa. Durante a alta temporada, mais de mil turistas por dia sobem a montanha.
Muitos pedem aos mineradores que posem para fotos em troca de pequenas gorjetas. Esse comportamento gerou críticas, sendo rotulado por alguns especialistas como “turismo da pobreza” — a mercantilização do sofrimento humano.
Apesar das críticas, o turismo tem potencial para impulsionar o desenvolvimento econômico. Em Java Oriental, a indústria do turismo emprega cerca de 200 mil pessoas.
O turismo de mineração, como no Monte Ijen, pode ter um efeito multiplicador na economia local. Hotéis, restaurantes, lojas e transportes se beneficiam do fluxo de visitantes, o que gera renda e oportunidades de emprego.
Condições de Ttrabalho e riscos à saúde na extração de enxofre
Mesmo com o potencial econômico do turismo, os riscos enfrentados pelos mineradores permanecem alarmantes. A maioria não possui equipamentos de proteção, como máscaras e luvas, essenciais para evitar a inalação de gases tóxicos. Muitos preferem trabalhar sem proteção, pois o uso desses itens pode dificultar a execução das tarefas.
A exposição a curto prazo ao dióxido de enxofre em concentrações elevadas pode ser fatal. A exposição prolongada pode resultar em sérios problemas respiratórios. A falta de recursos para equipamentos de segurança agrava a situação, tornando o trabalho ainda mais perigoso.
Especialistas em turismo ético sugerem que os visitantes evitem fotografar os mineradores sem permissão. Isso ajudaria a reduzir a objetificação desses trabalhadores e a promover uma interação mais respeitosa e consciente.
Riscos naturais e monitoramento contínuo
O futuro do Monte Ijen como atração turística e local de mineração é incerto. A Indonésia está localizada no Círculo de Fogo, uma área de intensa atividade sísmica e vulcânica.
Esta região concentra 75% dos vulcões ativos do mundo e 90% dos terremotos globais. Cerca de cinco milhões de indonésios vivem e trabalham próximos a vulcões ativos, aproveitando a fertilidade do solo vulcânico para a agricultura.
A erupção mais significativa do Monte Ijen ocorreu em 1817. Testemunhas relataram cinzas densas que bloquearam o sol e ácido que contaminou bacias hidrográficas, resultando em sérios danos às comunidades próximas. Atualmente, cientistas indonésios e internacionais monitoram constantemente a atividade do vulcão, buscando formas de mitigar riscos futuros.
A liberação do lago ácido da cratera, em caso de erupção, pode ter consequências devastadoras. O perigo iminente reforça a necessidade de monitoramento e medidas preventivas eficazes.
Informações mais recentes
Após o incidente de março de 2018, quando o Monte Ijen liberou gases tóxicos que resultaram na evacuação de centenas de pessoas e hospitalização de 30 moradores, as autoridades proibiram temporariamente o o à cratera para turistas e mineradores.
No entanto, essa restrição foi suspensa posteriormente, permitindo a retomada das atividades de mineração de enxofre e do turismo na região.
Em abril de 2024, uma turista chinesa de 31 anos faleceu após cair no cráter do Monte Ijen enquanto tentava tirar uma fotografia.
Esse trágico incidente levou as autoridades a reforçarem as políticas de segurança no parque, incluindo restrições mais rigorosas ao o próximo às áreas de mineração de enxofre. Relatos de visitantes indicam que, desde então, as medidas de segurança foram intensificadas, limitando a proximidade dos turistas às minas de enxofre.
Atualmente, tanto a mineração de enxofre quanto o turismo continuam ativos no Monte Ijen, com protocolos de segurança mais rígidos para proteger trabalhadores e visitantes.