Cenário de desemprego e frustração entre os jovens da Geração Z atinge proporções alarmantes, com milhões fora do mercado de trabalho. O reflexo de um sistema educacional ultraado e de um mercado que não se adapta às mudanças sociais.
Quase 289 milhões de jovens da Geração Z estão atualmente sem emprego ou fora do sistema educacional em todo o mundo, acendendo um alerta global sobre os rumos profissionais e acadêmicos dessa geração.
O fenômeno, conhecido como a crise dos “nem-nem”, revela uma falência estrutural das instituições de ensino, do mercado de trabalho e das políticas públicas voltadas à juventude, segundo apontam especialistas e organismos internacionais como a ONU.
Os números são alarmantes e têm reflexo direto em diversas nações. Apenas nos Estados Unidos, são mais de 4,3 milhões de jovens da Geração Z sem estudar ou trabalhar. Na Espanha, esse número se aproxima de 930 mil.
-
A motocicleta que superou a CG 125, a Bros e até a Pop: a mais vendida do Brasil faz 62 km/l e ainda é a favorita dos entregadores em 2025
-
A saga da marca de eletrodomésticos que desafiou a desconfiança garantia vitalícia
-
Mega projeto portuário do Brasil está impressionando o planeta
-
Esqueça o asfalto: Concreto ganha espaço e desafia reinado das estradas no Brasil com vida útil de 30 anos
Em países da América Latina, como o Brasil, México e Argentina, a situação também preocupa, embora os dados exatos variem conforme a metodologia de coleta.
Um relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgado no final de 2024, já indicava que a taxa de jovens fora do mercado e da escola chegava a quase 23% em regiões emergentes.
Diploma já não é sinônimo de futuro
Durante décadas, a formação superior foi considerada o principal aporte para uma vida profissional estável e bem-sucedida.
No entanto, essa lógica está sendo desafiada.
Pesquisas recentes indicam que metade da Geração Z enxerga o ensino universitário como um investimento sem retorno garantido.
E os dados de empregabilidade reforçam essa visão: as taxas de desemprego entre jovens com diploma superior e aqueles sem qualquer formação acadêmica estão praticamente equiparadas.
A falta de retorno imediato e a frustração com o mercado têm levado muitos jovens a repensar suas escolhas.
Isso ocorre, em parte, porque os cursos universitários ainda seguem currículos engessados e pouco conectados com a realidade contemporânea, ignorando as habilidades práticas exigidas por um mercado de trabalho em constante transformação.
Da tecnologia ao colarinho azul
Diante desse cenário, muitos integrantes da Geração Z têm optado por caminhos considerados até recentemente alternativos.
Funções técnicas tradicionalmente vistas como “menos nobres”, como eletricistas, encanadores, mecânicos e soldadores, estão atraindo cada vez mais jovens, especialmente nos Estados Unidos e em países da Europa.
Essas ocupações oferecem estabilidade, bons salários e, acima de tudo, uma rota direta ao mercado de trabalho, sem a necessidade de anos em salas de aula nem o acúmulo de dívidas estudantis.
Além disso, setores como o de infraestrutura, energia e serviços manuais vêm enfrentando escassez de mão de obra especializada, o que amplia as oportunidades.
Segundo um relatório da National Skills Coalition, profissões técnicas nos Estados Unidos têm, em média, salários iniciais superiores aos de muitos cargos istrativos ocupados por universitários recém-formados. Isso vem mudando a percepção social sobre o que é um “bom emprego”.
A inteligência artificial como fator de ruptura
Outro fator determinante nessa transformação é o avanço acelerado da inteligência artificial e da automação.
Diversas profissões, inclusive da área de tecnologia e comunicação, vêm sendo substituídas por soluções automatizadas, o que impõe à Geração Z uma pressão constante por atualização e reinvenção profissional.
Com a velocidade das mudanças tecnológicas, muitas universidades não conseguem preparar os alunos para realidades que já estão defasadas no momento da formatura.
Assim, mesmo jovens altamente conectados e tecnicamente instruídos se deparam com um mercado que já não demanda as competências adquiridas durante anos de estudo formal.
Além disso, a presença crescente de robôs e algoritmos inteligentes tem ampliado a desigualdade digital, criando uma lacuna entre os que têm o a treinamentos atualizados e aqueles que ficam para trás. Isso agrava ainda mais o desemprego juvenil.
Uma geração desorientada
Para os especialistas, o maior problema não está nos jovens, mas sim nas instituições que falharam em se adaptar às novas demandas sociais e tecnológicas.
Jeff Bulanda, pesquisador da organização Jobs for the Future, destaca: “A questão não é por que os jovens estão se afastando, mas por que continuamos insistindo em práticas que não funcionam mais”.
Essa desconexão tem impactos que vão além da economia. A Organização das Nações Unidas (ONU) alerta que o fenômeno dos “nem-nem” pode ter consequências sociais e psicológicas devastadoras, comprometendo o bem-estar e o desenvolvimento de uma geração inteira.
A falta de perspectivas profissionais e educacionais alimenta crises de ansiedade, depressão e baixa autoestima entre os jovens.
Especialistas em saúde mental já identificam um crescimento no número de casos de burnout, mesmo entre jovens que nunca chegaram a ingressar formalmente no mercado de trabalho.
A frustração com as promessas não cumpridas e a pressão constante por produtividade formam um caldo perigoso para a saúde emocional dessa parcela da população.
O que precisa mudar?
Segundo analistas, é urgente repensar não só os currículos escolares, mas também a forma como os governos e empresas lidam com a juventude.
Modelos de aprendizado mais flexíveis, baseados em habilidades práticas, experiências reais e e psicológico são cada vez mais defendidos por educadores e economistas.
A criação de políticas públicas que incentivem a capacitação técnica, o empreendedorismo juvenil e a inserção gradual no mercado de trabalho pode ser um caminho viável para reverter o cenário atual.
Além disso, programas de mentorias, estágios remunerados e investimentos em educação digital inclusiva são apontados como estratégias de impacto imediato.
Em países como Alemanha e Suíça, sistemas de formação profissional dual — que combinam aulas teóricas e práticas — têm se mostrado eficazes em garantir baixos índices de desemprego juvenil.
Esses modelos poderiam inspirar políticas semelhantes em outras partes do mundo, inclusive no Brasil, onde o problema dos “nem-nem” se intensificou nos últimos anos.
Um alerta global
A crise da Geração Z no mercado de trabalho não é apenas um desafio econômico: é um espelho do fracasso coletivo de governos, escolas, universidades e empresas em oferecer uma estrutura compatível com as expectativas e necessidades dessa geração.
O risco é o surgimento de uma juventude desmotivada, desiludida e sem perspectivas, o que pode comprometer o futuro social e produtivo de diversos países.
É necessário agir com urgência e repensar profundamente o modelo educacional e profissional vigente, sob risco de transformar o maior ativo de qualquer nação — seus jovens — em vítimas de um sistema que parou no tempo.
Você acredita que o sistema educacional atual ainda é capaz de preparar os jovens para o futuro? Ou estamos presos a um modelo ultraado que já não faz sentido para a nova geração? Deixe sua opinião nos comentários!