Pequim toma o controle silenciosamente: Empresas da China ganham espaço em licitações públicas e am a liderar projetos cruciais de energia limpa, rodovias e ferrovias no país
A presença de empresas chinesas em projetos estratégicos no Brasil vem crescendo de forma acelerada nos últimos anos. Mais do que parcerias comerciais, trata-se de uma inserção robusta e planejada da China em setores-chave da economia brasileira, incluindo energia, infraestrutura, mobilidade elétrica e telecomunicações. A nova onda de licitações vencidas por companhias como State Grid, BYD, Huawei e CCCC evidencia essa expansão silenciosa, mas profundamente transformadora.
Um panorama da influência chinesa no Brasil
De acordo com um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a China foi a maior fonte de investimentos diretos no Brasil entre 2010 e 2022, com foco nos setores de energia elétrica, mineração e transporte. Esses aportes somaram mais de US$ 66 bilhões no período, com tendência crescente desde 2023, especialmente em projetos ligados à transição energética e à digitalização de serviços.
O maior contrato de transmissão da história: State Grid investe em tecnologia de ultra-alta tensão no Brasil
Em abril de 2024, a State Grid Brazil Holding assinou, em cerimônia oficial realizada em Brasília, o contrato de concessão do Lote 1 do Leilão ANEEL 002/2023, considerado o maior lote já arrematado em certames de transmissão de energia no país. O acordo foi celebrado com a presença de representantes da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e da direção executiva da empresa chinesa, incluindo o presidente Sun Tao e o CEO Sun Peng.
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Avaliado em R$ 18 bilhões, o empreendimento compreende a construção, operação e manutenção de uma linha de transmissão em corrente contínua de 800 kV de Ultra-Alta Tensão (UATCC), interligando as subestações de Graça Aranha, no Maranhão, e Silvânia, em Goiás. O percurso da linha se estenderá por aproximadamente 1.468 km, cruzando também o estado do Tocantins.
Para viabilizar o projeto, a State Grid Brazil Holding constituiu a empresa GATE – Graça Aranha-Silvânia Transmissora de Energia –, responsável pela execução do empreendimento. A iniciativa está alinhada à estratégia da empresa de contribuir para a modernização do Sistema Interligado Nacional (SIN) e impulsionar o desenvolvimento de regiões estratégicas com geração de empregos e ampliação do o à energia limpa e estável.
“Não é apenas uma obra de infraestrutura. É um projeto que toca a vida dos brasileiros, com energia ível e limpa”, declarou o ministro.
CCCC e o controle da infraestrutura logística
A China Communications Construction Company (CCCC), uma das maiores empreiteiras do mundo, também vem acumulando contratos estratégicos no Brasil. Entre os principais projetos, destacam-se:
- Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), que ligará Caetité (BA) ao Porto de Ilhéus, escoando minério de ferro e grãos
- Obras portuárias em São Luís (MA), em parceria com a WPR
- Propostas em análise para o arco metropolitano do Rio de Janeiro e o trecho Norte da Ferrogrão
Essas obras fortalecem a posição da CCCC em logística de exportação, permitindo maior fluidez no comércio entre Brasil e Ásia.
BYD e o polo de mobilidade elétrica na Bahia
A gigante de veículos elétricos BYD (Build Your Dreams), que recentemente ultraou a Tesla em vendas globais de EVs, deu um o audacioso ao assumir a antiga fábrica da Ford em Camaçari (BA). Com R$ 3 bilhões em investimentos, a montadora chinesa promete transformar o local em um hub de produção de veículos elétricos, baterias e ônibus sustentáveis.
A fábrica baiana terá capacidade de produzir 150 mil veículos/ano, voltados tanto ao mercado interno quanto à exportação. O governo brasileiro aposta na BYD como uma das pontas de lança da reindustrialização verde do país.
Huawei e o avanço nas telecomunicações
Apesar das controvérsias globais envolvendo a segurança de dados, a Huawei mantém forte atuação no Brasil. A empresa venceu licitações em parcerias com operadoras nacionais para implementação de redes 5G e 4G em áreas rurais, além de fornecer infraestrutura para redes privadas industriais em setores como mineração e agronegócio.
A Huawei também anunciou planos para implantar centros de dados e inovação em São Paulo e no Distrito Federal, reforçando sua presença no ecossistema digital brasileiro.
Benefícios econômicos e riscos estratégicos
Os defensores da presença chinesa destacam a capacidade de entrega, a oferta de crédito com juros baixos e o compromisso de longo prazo com o país. Para o economista Luiz Augusto de Castro Neves, ex-embaixador do Brasil na China:
“As empresas chinesas operam com uma visão estratégica de 20, 30 anos. Elas investem pesado e aceitam retornos mais lentos, o que é raro entre grupos ocidentais”.
Por outro lado, críticos alertam para os riscos de dependência em setores sensíveis. O professor de Relações Internacionais da UFRJ, Maurício Santoro, observa que:
“A entrada maciça de empresas estatais chinesas em infraestrutura e energia dá à China uma alavanca de influência política e econômica que precisa ser debatida com transparência”.
Geopolítica: o Brasil entre EUA e China
O crescente protagonismo chinês em licitações brasileiras ocorre em um momento de disputa geopolítica acirrada entre Washington e Pequim. A diplomacia brasileira tem buscado manter uma posição de equilíbrio, sem alinhar-se completamente a nenhum dos polos.
No entanto, o apoio a grandes contratos com estatais chinesas pode gerar desconforto com os EUA, que historicamente consideram a América Latina como área de influência prioritária. O leilão vencido pela State Grid foi acompanhado com atenção pela diplomacia norte-americana.
O que esperar até 2030?
Com o avanço da transição energética e os planos de reindustrialização do Brasil, estima-se que os investimentos chineses no país ultraem R$ 500 bilhões até 2030. A participação da China em futuras licitações de usinas solares, hidrogênio verde, rodovias e cabos submarinos já está em andamento.
Além disso, o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) deve abrir novas oportunidades para grupos estrangeiros, e as empresas chinesas se posicionam como favoritas em diversos segmentos.