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Gigantes chinesas dominam licitações no Brasil: de energia a infraestrutura, presença se consolida com bilhões em investimentos

Escrito por Noel Budeguer
Publicado em 13/05/2025 às 22:44
Atualizado em 15/05/2025 às 12:49
empresas chinesas - China - energia - construção
Gigantes chinesas dominam licitações no Brasil: de energia a infraestrutura, presença se consolida com bilhões em investimentos

Pequim toma o controle silenciosamente: Empresas da China ganham espaço em licitações públicas e am a liderar projetos cruciais de energia limpa, rodovias e ferrovias no país

A presença de empresas chinesas em projetos estratégicos no Brasil vem crescendo de forma acelerada nos últimos anos. Mais do que parcerias comerciais, trata-se de uma inserção robusta e planejada da China em setores-chave da economia brasileira, incluindo energia, infraestrutura, mobilidade elétrica e telecomunicações. A nova onda de licitações vencidas por companhias como State Grid, BYD, Huawei e CCCC evidencia essa expansão silenciosa, mas profundamente transformadora.

Um panorama da influência chinesa no Brasil

De acordo com um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), a China foi a maior fonte de investimentos diretos no Brasil entre 2010 e 2022, com foco nos setores de energia elétrica, mineração e transporte. Esses aportes somaram mais de US$ 66 bilhões no período, com tendência crescente desde 2023, especialmente em projetos ligados à transição energética e à digitalização de serviços.

O maior contrato de transmissão da história: State Grid investe em tecnologia de ultra-alta tensão no Brasil

Em abril de 2024, a State Grid Brazil Holding assinou, em cerimônia oficial realizada em Brasília, o contrato de concessão do Lote 1 do Leilão ANEEL 002/2023, considerado o maior lote já arrematado em certames de transmissão de energia no país. O acordo foi celebrado com a presença de representantes da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e da direção executiva da empresa chinesa, incluindo o presidente Sun Tao e o CEO Sun Peng.

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Avaliado em R$ 18 bilhões, o empreendimento compreende a construção, operação e manutenção de uma linha de transmissão em corrente contínua de 800 kV de Ultra-Alta Tensão (UATCC), interligando as subestações de Graça Aranha, no Maranhão, e Silvânia, em Goiás. O percurso da linha se estenderá por aproximadamente 1.468 km, cruzando também o estado do Tocantins.

Para viabilizar o projeto, a State Grid Brazil Holding constituiu a empresa GATE – Graça Aranha-Silvânia Transmissora de Energia –, responsável pela execução do empreendimento. A iniciativa está alinhada à estratégia da empresa de contribuir para a modernização do Sistema Interligado Nacional (SIN) e impulsionar o desenvolvimento de regiões estratégicas com geração de empregos e ampliação do o à energia limpa e estável.

“Não é apenas uma obra de infraestrutura. É um projeto que toca a vida dos brasileiros, com energia ível e limpa”, declarou o ministro.

Instalação de subestação de alta tensão operada pela State Grid em área estratégica do interior do Brasil, parte dos megaprojetos de transmissão de energia liderados por empresas chinesas.

CCCC e o controle da infraestrutura logística

A China Communications Construction Company (CCCC), uma das maiores empreiteiras do mundo, também vem acumulando contratos estratégicos no Brasil. Entre os principais projetos, destacam-se:

  • Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), que ligará Caetité (BA) ao Porto de Ilhéus, escoando minério de ferro e grãos
  • Obras portuárias em São Luís (MA), em parceria com a WPR
  • Propostas em análise para o arco metropolitano do Rio de Janeiro e o trecho Norte da Ferrogrão

Essas obras fortalecem a posição da CCCC em logística de exportação, permitindo maior fluidez no comércio entre Brasil e Ásia.

BYD e o polo de mobilidade elétrica na Bahia

A gigante de veículos elétricos BYD (Build Your Dreams), que recentemente ultraou a Tesla em vendas globais de EVs, deu um o audacioso ao assumir a antiga fábrica da Ford em Camaçari (BA). Com R$ 3 bilhões em investimentos, a montadora chinesa promete transformar o local em um hub de produção de veículos elétricos, baterias e ônibus sustentáveis.

A fábrica baiana terá capacidade de produzir 150 mil veículos/ano, voltados tanto ao mercado interno quanto à exportação. O governo brasileiro aposta na BYD como uma das pontas de lança da reindustrialização verde do país.

Vista aérea do complexo industrial em Camaçari (BA), antiga fábrica da Ford que agora será reativada pela montadora chinesa BYD para produção de veículos elétricos no Brasil

Huawei e o avanço nas telecomunicações

Apesar das controvérsias globais envolvendo a segurança de dados, a Huawei mantém forte atuação no Brasil. A empresa venceu licitações em parcerias com operadoras nacionais para implementação de redes 5G e 4G em áreas rurais, além de fornecer infraestrutura para redes privadas industriais em setores como mineração e agronegócio.

A Huawei também anunciou planos para implantar centros de dados e inovação em São Paulo e no Distrito Federal, reforçando sua presença no ecossistema digital brasileiro.

Benefícios econômicos e riscos estratégicos

Os defensores da presença chinesa destacam a capacidade de entrega, a oferta de crédito com juros baixos e o compromisso de longo prazo com o país. Para o economista Luiz Augusto de Castro Neves, ex-embaixador do Brasil na China:

“As empresas chinesas operam com uma visão estratégica de 20, 30 anos. Elas investem pesado e aceitam retornos mais lentos, o que é raro entre grupos ocidentais”.

Por outro lado, críticos alertam para os riscos de dependência em setores sensíveis. O professor de Relações Internacionais da UFRJ, Maurício Santoro, observa que:

“A entrada maciça de empresas estatais chinesas em infraestrutura e energia dá à China uma alavanca de influência política e econômica que precisa ser debatida com transparência”.

Geopolítica: o Brasil entre EUA e China

O crescente protagonismo chinês em licitações brasileiras ocorre em um momento de disputa geopolítica acirrada entre Washington e Pequim. A diplomacia brasileira tem buscado manter uma posição de equilíbrio, sem alinhar-se completamente a nenhum dos polos.

No entanto, o apoio a grandes contratos com estatais chinesas pode gerar desconforto com os EUA, que historicamente consideram a América Latina como área de influência prioritária. O leilão vencido pela State Grid foi acompanhado com atenção pela diplomacia norte-americana.

O que esperar até 2030?

Com o avanço da transição energética e os planos de reindustrialização do Brasil, estima-se que os investimentos chineses no país ultraem R$ 500 bilhões até 2030. A participação da China em futuras licitações de usinas solares, hidrogênio verde, rodovias e cabos submarinos já está em andamento.

Além disso, o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) deve abrir novas oportunidades para grupos estrangeiros, e as empresas chinesas se posicionam como favoritas em diversos segmentos.

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Noel Budeguer

Sou jornalista argentino, actualmente radicado en Río de Janeiro, Brasil, con trayectoria enfocada en la cobertura de temas militares, defensa, ciencia, tecnología, energía y geopolítica. Mi objetivo es traducir información técnica y compleja en contenidos accesibles y relevantes para un público amplio, siempre manteniendo el rigor periodístico. Sou apaixonado por explorar como a tecnologia y defensa impactam a sociedade eo desenvolvimento econômico. https://muckrack.com/noel-budeguer?

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