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Governo investe 4,5 vezes mais em fósseis do que em energia limpa

Escrito por Ana Alice
Publicado em 29/04/2025 às 15:32
Brasil investe 4,5 vezes mais em fósseis do que em renovaveis. Relatório do Inesc expõe distorção que ameaça a transição energética. (Imagem: Reprodução/Canva)
Brasil investe 4,5 vezes mais em fósseis do que em renovaveis. Relatório do Inesc expõe distorção que ameaça a transição energética. (Imagem: Reprodução/Canva)

Relatório revela desequilíbrio bilionário nos incentivos energéticos do Brasil. Mesmo com avanço das renováveis, o governo segue priorizando o setor fóssil, colocando em risco a transição climática e pressionando o bolso dos consumidores com aumentos silenciosos nas tarifas de energia.

Disparidade bilionária expõe desequilíbrio nas políticas energéticas brasileiras

Para cada real investido em energia renovável no Brasil, o governo federal destina R$ 4,52 a subsídios para combustíveis fósseis.

Esse dado alarmante faz parte da 7ª edição do relatório de monitoramento dos subsídios energéticos, elaborado pelo Inesc (Instituto de Estudos Socioeconômicos) e atualizado até março de 2025.

No total, os incentivos públicos para petróleo, gás e carvão seguem massivos, enquanto fontes limpas como solar, eólica e biomassa continuam com recursos reduzidos.

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O levantamento mostra que, embora os investimentos em renováveis tenham crescido, os combustíveis fósseis ainda dominam o orçamento energético nacional.

Subsídios somaram quase R$ 100 bilhões em 2023

Em 2023, o total de subsídios energéticos concedidos pelo Governo Federal atingiu R$ 99,81 bilhões.

Esse valor representa um crescimento de 3,57% em relação a 2022.

Embora tenha havido um aumento expressivo nos aportes destinados às fontes renováveis — de R$ 14,24 bilhões para R$ 18,06 bilhões —, os combustíveis fósseis ainda concentram R$ 81,74 bilhões, ou 81,9% do total.

Esse valor inclui tanto o que o Estado deixou de arrecadar com renúncias fiscais quanto o que foi efetivamente pago para sustentar essa cadeia produtiva.

A discrepância reforça a dependência do Brasil de fontes não sustentáveis, mesmo em um contexto de urgência climática.

Energia limpa avança, mas não vence o petróleo

De acordo com o INESC, o aumento no apoio às renováveis foi impulsionado por programas como o Proinfa (Programa de Incentivo às Fontes Alternativas), o Reidi (Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento da Infraestrutura) e a geração distribuída.

Esses programas são fundamentais para viabilizar a expansão da matriz energética limpa no país.

Mesmo com o crescimento de quase 27% nos incentivos para fontes renováveis, o montante total ainda representa apenas uma fração do que é destinado à indústria fóssil.

Cássio Cardoso Carvalho, assessor político do Inesc, destaca que essa disparidade coloca em risco a transição energética brasileira.

“Enquanto o Governo Federal não rever os valores dessa espécie de ‘Bolsa Petróleo’ para o setor, a transição energética segue prejudicada”, alerta.

Além disso, o estudo mostra que os custos da energia limpa estão sendo arcados principalmente pelos consumidores, via tarifas na conta de luz.

“Já o setor de óleo e gás continua recebendo isenções generosas, sem contrapartidas claras”, acrescenta Carvalho.

Contradições na política fiscal energética

Apesar de uma pequena queda de 0,45% nos subsídios ao consumo de combustíveis fósseis em 2023, o valor total continuou alto devido à manutenção de incentivos à produção.

A redução foi resultado da retomada parcial da cobrança de tributos como Cide e PIS/Cofins sobre a gasolina.

No entanto, a isenção fiscal sobre o diesel foi mantida, impedindo uma economia mais significativa para os cofres públicos.

Segundo o Inesc, a modalidade de subsídio mais relevante à indústria fóssil é o Repetro, um regime tributário especial que permite amplas renúncias fiscais para empresas que exploram petróleo e gás natural.

Somente em 2023, os incentivos à produção aumentaram R$ 5,55 bilhões, justamente por causa do crescimento das isenções no Repetro.

Essa tendência revela uma política contraditória: enquanto se reduz apoio ao consumidor, amplia-se o incentivo à extração de combustíveis que mais contribuem para o aquecimento global.

A conta da transição energética ainda recai sobre o consumidor

Outro dado preocupante revelado pelo relatório é que os incentivos às fontes renováveis são majoritariamente financiados pelos próprios consumidores.

Esses recursos são reados por meio da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE), um fundo setorial que impacta diretamente o valor da tarifa de energia elétrica.

Ou seja, a população brasileira está pagando pela expansão da energia limpa, enquanto grandes empresas continuam isentas na exploração de petróleo.

Essa estrutura desigual desafia o próprio conceito de justiça climática e distributiva.

Compromissos internacionais e contradições domésticas

A assessora política Alessandra Cardoso, também autora do relatório, afirma que o fim dos subsídios ineficientes aos fósseis é um compromisso assumido internacionalmente, especialmente na COP 28.

“O governo precisa reconhecer que os incentivos à produção de combustíveis fósseis são um problema doméstico que requer enfrentamento urgente”, declara.

Ela lembra que o Brasil terá papel central na próxima conferência climática global, a COP 30, marcada para 2025 em Belém do Pará, na Amazônia.

A realização do evento em território brasileiro exige que o país se comprometa com ações coerentes e transparentes.

“Quanto maior a renúncia fiscal aos fósseis, menor é o orçamento disponível para enfrentar os impactos das mudanças climáticas”, afirma Alessandra.

Ela destaca que a substituição progressiva dos combustíveis fósseis por fontes renováveis não é apenas uma meta ambiental, mas uma questão de responsabilidade econômica e social.

O caminho para uma política energética mais equilibrada

Atualmente, o Brasil possui uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo, com cerca de 83% da energia gerada por fontes renováveis.

No entanto, isso não se reflete na política de subsídios, que ainda favorece amplamente o setor fóssil.

Especialistas apontam que rever essa estrutura é essencial para atrair investimentos sustentáveis, reduzir desigualdades e cumprir metas ambientais globais.

A pressão por mudanças deve crescer à medida que a opinião pública se torna mais consciente dos impactos ambientais e sociais da energia que consome.

A reformulação dos subsídios energéticos no Brasil é, portanto, uma questão estratégica — não apenas para o meio ambiente, mas para a economia e o bem-estar da população.

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Ana Alice

Redatora e analista de conteúdo. Escreve para o site Click Petróleo e Gás (G) desde 2024 e é especialista em criar textos sobre temas diversos como economia, empregos e forças armadas.

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