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Após escândalos na Operação Lava Jato e anos de crise, Ecovix renegocia dívida bilionária e retoma contratos na construção naval, reacendendo a indústria no Estaleiro Rio Grande.
O Estaleiro Rio Grande, um dos maiores complexos industriais do setor naval no Brasil, está prestes a iniciar um novo ciclo após anos de incertezas. Controlado pelo Grupo Ecovix, que entrou em recuperação judicial em 2016, o estaleiro localizado na cidade gaúcha de Rio Grande deve retomar gradualmente suas operações, impulsionado pela saída da Ecovix do processo de recuperação judicial ainda neste semestre. A medida marca um novo capítulo após quase uma década de paralisações, demissões em massa e cancelamento de contratos.
A retomada se tornou viável após a Ecovix um acordo com o governo federal para repactuação de sua dívida tributária, reduzindo um ivo de quase R$ 1 bilhão em tributos atrasados para R$ 214 milhões. A negociação foi conduzida com apoio do advogado Luiz Trindade e garantiu à empresa a certidão negativa de débitos, documento necessário para voltar a disputar licitações públicas.
Recuperação judicial e crise no setor naval
A crise da Ecovix teve início em meio às revelações da Operação Lava Jato, deflagrada a partir de 2014. O grupo, ligado à Engevix Engenharia, foi apontado como um dos beneficiários de esquemas de corrupção envolvendo contratos com a Petrobras. Executivos como Gerson Almada e José Antunes Sobrinho foram condenados por participação em práticas ilícitas, incluindo o pagamento de propinas para obtenção de contratos bilionários.
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A repercussão das investigações e a suspensão de contratos levaram à paralisação de projetos estratégicos, como a construção das plataformas P-71 e P-72, que chegaram a ser vendidas como sucata, representando perdas financeiras significativas. Em 2016, cerca de 3.200 trabalhadores foram demitidos, impactando gravemente a economia local.
Ainda em 2016, a empresa entrou com pedido de recuperação judicial, à época com dívidas estimadas em R$ 8 bilhões. O plano de reestruturação foi homologado em 2018, abrindo caminho para renegociações e novas oportunidades.
Retomada com contrato de R$ 1,7 bilhão
Com a situação fiscal regularizada, a Ecovix voltou a atrair contratos relevantes. A empresa conquistou recentemente uma encomenda da Transpetro, subsidiária da Petrobras, no valor de R$ 1,7 bilhão, que marca a retomada da atividade industrial no Estaleiro Rio Grande. A expectativa é que o projeto contribua para a geração de empregos e reaqueça a cadeia produtiva local.
Além disso, a Ecovix mira um novo contrato estimado em R$ 7 bilhões, também com a Transpetro, que poderá consolidar a recuperação da empresa e reforçar sua presença no setor de construção naval.
Histórico do Estaleiro Rio Grande
O Estaleiro Rio Grande foi fundado no início dos anos 2000, como parte da estratégia do governo federal de revitalizar a indústria naval brasileira, impulsionada pela exploração do pré-sal. O empreendimento se destacou por sua capacidade de construção de plataformas e navios de grande porte, atraindo investimentos e gerando milhares de empregos no sul do país.
Entretanto, os escândalos de corrupção e os problemas de gestão afetaram sua continuidade. A venda das plataformas inacabadas e o fechamento parcial das operações colocaram em xeque o futuro do empreendimento.
Oportunidade de reindustrialização
A resolução das pendências tributárias e o retorno à atividade contratual colocam a Ecovix em posição de reconstruir sua reputação e retomar sua participação no setor naval nacional. A indústria de construção naval, essencial para o desenvolvimento da infraestrutura marítima e da cadeia de petróleo e gás, é vista como estratégica para o país.
A possível retomada plena das atividades no Estaleiro Rio Grande poderá ter reflexos positivos na economia do Rio Grande do Sul, especialmente na região sul do estado, que historicamente depende da movimentação industrial e logística marítima.
